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José Serra, João Doria e Bruno Araújo em convenção nacional do PSDB, em Brasília. Foto: Orlando Brito/PSDB
Senador José Serra, governador de SP, João Doria, e o novo presidente Bruno Araújo na convenção nacional do PSDB, em Brasília.| Foto: Orlando Brito/PSDB

A convenção do PSDB que ungiu o ex-deputado Bruno Araújo como presidente nacional da sigla, nesta sexta-feira (31), em Brasília, foi marcada por discursos defendendo a construção de um "novo PSDB". Por outro lado, a ala antiga, que perdeu poder na legenda, deixou recados de que o partido precisa voltar às origens.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), que conseguiu emplacar um aliado na presidência, foi ao evento vestindo uma camiseta amarela com a inscrição "Novo PSDB", replicada no traje de aliados. Ele foi diplomático com a velha guarda tucana, fez discurso com semelhanças aos do presidente Jair Bolsonaro (PSL), acenou a siglas de centro e voltou suas críticas ao PT.

"As raízes devem ser mantidas e preservadas, não precisamos apagar nossa história, mas precisamos também construir a nossa história. É isso que o povo brasileiro espera do PSDB, que tenha raízes, respeita a sua história, mas que seja protagonista da história", discursou o paulista.

Antes de falar, Doria ouviu do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, que colocar um aliado na direção da sigla não significaria que agora pudesse mandar na legenda. "O governador Doria, pelo fato de ser governador de São Paulo, não passa a ter o direito de ser dono do PSDB. O PSDB não pode ter dono", declarou Virgílio, que ainda fez um discurso de conciliação com Geraldo Alckmin, agora ex-presidente do partido.

Nem a ala da juventude do PSDB ficou fora da disputa entre os grupos antigo e novo da legenda. A Ação Popular, que conseguiu eleger Julia Jereissati para a Juventude Nacional do PSDB, trocou provações com a ala Conexão, ligada ao governador Doria. Julia, sobrinha do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), foi vaiada pela ala alinhada ao paulista e gerou reações do outro grupo. O presidente do PSDB do São Paulo, Marco Vinholi, chegou a entrar no embate e foi aconselhado por aliados a se retirar.

A ala que assumiu a direção do PSDB defende posicionamentos claros sobre assuntos polêmicos e nacionais. O novo presidente, Bruno Araújo, prometeu afastar o partido das "hesitações". "Vamos nos transformar em um partido de posições. Vamos derrubar o muro. Vamos errar, mas vamos errar de um jeito novo. Não há chance de acertar sem coragem e o PSDB tem coração para acertar para o destino do país", discursou.

Presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso não veio e alegou motivos pessoais. FHC enviou um vídeo defendendo que o partido não se perca nos princípios ao tentar encontrar uma nova roupagem. "Pode mudar de nome, pode fazer coligação, mas no princípio não pode mudar. Tem que ser democrático e tem que ter lado, esse lado é do povo brasileiro", afirmou o ex-presidente na gravação.

Estranhos no ninho tucano

Outros partidos estiveram na convenção. O presidente nacional do MDB, Romero Jucá, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foram chamados para o palco. Além disso, foi citado que havia dirigentes do PL (antigo PR), do PP, do Cidadania e do PRB no encontro.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) declarou que há uma tentativa de criar um grupo de partidos contra os extremismos. "Estamos vivendo em um momento de extremos, a extrema-direita de um lado extremamente radicalizada, intransigente e intolerante e a mesma coisa na esquerda. E a grande maioria silenciosa dos brasileiros não está em nenhuma dessas extremidades", afirmou em entrevista.

Doria aproveitou as presenças e fez um aceno aos partidos de centro. Cumprimentou nominalmente Rodrigo Maia e Romero Jucá (RR), além de fazer menção aos representantes dos outros partidos do Centrão.

Ao citar os cerca de 13 milhões de desempregados, voltou seus ataques ao PT e adotou um tom mais nacional em sua fala, de olho nas eleições de 2022. "Sou brasileiro e amo a minha pátria. Amo São Paulo, mas, antes de amar São Paulo, amo meu país."

Pedindo que o público não perdesse a esperança e acreditasse no Brasil, defendeu a democracia."O PSDB não tem medo do voto. O PSDB vota e acredita na democracia. Por isso acredito no Brasil, no novo PSDB, sem desvincular do PSDB ao qual estou filiado dede 2001", declarou.

Código de ética do partido fica de fora dos discursos

O código de ética escrito pela direção da legenda, que prevê a expulsão de filiados condenados na Justiça, não ganhou destaque nos discursos.

João Doria, ao falar, citou que o PSDB precisa continuar buscando "transparência e ética" com as novas regras. Geraldo Alckmin, por sua vez, declarou que a legenda está tendo "coragem" ao colocar "tudo na internet" quando falou do programa de integridade formulado. Ausente na convenção, o deputado Aécio Neves (MG), réu no Supremo Tribunal Federal, não foi lembrado na fala dos principais líderes tucanos.

Com os novos dirigentes poupando o presidente Jair Bolsonaro nos discursos, Alckmin fez seu último discurso como presidente do PSDB atacando o governo e pedindo para os tucanos não terem medo de "pôr o dedo na ferida". "Esses oportunistas políticos por 30 anos, numa deslealdade, vêm atacar a vida dos homens públicos jogando a sociedade contra suas instituições. Não temos duas verdades, a extrema-direita e a extrema-esquerda. Temos duas grandes mentiras, o petismo e o bolsonarismo."

Doria faz concessão à 'bancada de Aécio'

A negociação de cargos para a nova direção nacional do PSDB, que assumiu nesta sexta, atravessou a madrugada. Isso porque a bancada mineira dos tucanos, a qual inclui Aécio Neves, queria uma posição de destaque. Chegou-se a cogitar a tesouraria, posto que o governador de São Paulo, João Doria, fazia questão de entregar a um de seus aliados.

No fim das contas, Minas obteve a primeira vice-presidência, segundo cargo mais importante do organograma da legenda, com o deputado federal Domingos Sávio. A concessão acomodou as correntes do partido e evitou uma predominância de Doria e seu grupo paulista na comissão executiva nacional do PSDB. Os mineiros terminaram satisfeitos.

O comando da máquina do partido, principalmente da tesouraria, cargo que lida com financiamento, é importante para que Doria consolide seu projeto de concorrer à Presidência da República em 2022. Cesar Gontijo, ex-secretário-geral do PSDB paulista, foi o escolhido tesoureiro.

Por outro lado, os mineiros exigiam uma posição à altura da bancada, composta por aliados de Aécio, outrora nome forte do PSDB. Mesmo combalido pela delação da JBS e por acusações de corrupção, Aécio, ex-governador e ex-senador que hoje é deputado federal, demonstrou força política ao ser ovacionado na convenção tucana de Minas Gerais.

Novo código de ética

O embate entre Aécio e Doria por cargos na executiva não foi o primeiro entre os caciques tucanos, mas foi o mais explícito. Antes disso, havia uma discussão em torno do primeiro código de ética do partido, aprovado também na convenção desta sexta.

Enquanto o grupo de Doria pregava rigor contra os enrolados em corrupção, a comissão que escreveu as normas de conduta e punições, nomeada por Alckmin, evitou uma caça às bruxas. Por isso mesmo o governador paulista passou a pregar que os réus saiam por conta própria, discurso que atinge Aécio e outros ex-governadores como Beto Richa (PR) e Marconi Perillo (GO).

O caso de Aécio pode vir a ser analisado pelo conselho de ética do partido, mas a punição definida no texto para réus é advertência verbal ou escrita e suspensão do exercício de cargo partidário por um ano. A expulsão só cabe após condenação em trânsito em julgado, o que deu sobrevida ao mineiro entre os tucanos.

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