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Sarampo ressurge em vários países e gera alerta global; Brasil é destaque negativo
| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O sarampo, doença que nos últimos anos ressurgiu em vários países, virou uma preocupação global em 2019, com uma escalada no número de casos a níveis não vistos nos últimos 14 anos. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), até 13 de dezembro foram registrados 430,3 mil casos, um aumento de 27% em relação ao ano anterior e o número mais alto desde 2006 (373,9 mil). 147 países registraram casos em 2019, dentre os quais países desenvolvidos, como França, Itália, Reino Unido e Estados Unidos.

No cenário global, o Brasil foi um dos destaques negativos no ano. Com 13,4 mil casos registrados, o país é o segundo no ranking de casos registrados nos últimos seis meses: 13,2 mil, atrás apenas da Ucrânia, com 75 mil casos no ano, dos quais 14,1 mil no período mais recente. A disseminação da doença entre brasileiros é reflexo direto da baixa cobertura vacinal: os índices baixaram da casa de 100% em meados dos anos 2000 para 90% em 2017. Para evitar surtos, é preciso atingir o índice de 95%.

Na campanha de vacinação de 2019, o Brasil conseguiu atingir a meta de cobertura vacinal ao menos para as crianças com até 1 ano de idade: 99,4% foram imunizadas. Entretanto, nove unidades federativas não atingiram a meta. São elas: Pará (85,4%), Roraima (87,9%), Bahia (88,9%), Maranhão (90%), Acre (91,4%), Piauí (91,9%), Distrito Federal (93,7%), São Paulo (93,9%) e Amapá (94,9%). Entre os 5,5 mil municípios, cerca de 1,9 mil não chegaram ao patamar mínimo. O sarampo é uma doença extremamente perigosa para essa faixa etária. Das 15 mortes registradas em 2019 no Brasil, seis delas foram de crianças abaixo de 1 ano.

O número de casos no Brasil é o maior desde 1997, quando houve uma epidemia com 53,6 mil casos. A doença estava estabilizada desde o início daquela década: em 1991, foram 61,4 mil casos; em 1996, apenas 3,3 mil e, entre 2001 e 2012, se estabilizou em menos de 70 casos anuais. Em escala global, foram cerca de 1,4 milhão de casos de sarampo em 1991, com queda quase contínua até 2013, com exceção de alguns anos de aumento, mas sem características epidêmicas.

Por outro lado, o Boletim Epidemiológico nº 37 do Ministério da Saúde indica que a positividade de casos confirmados, entre os casos suspeitos, demonstra tendência de queda desde o fim de setembro, o que indicaria estabilização ou até recrudescimento do contágio no Brasil. No período de 1º de setembro a 23 de novembro, ou semanas epidemiológicas (SE) 36 a 47, 17 unidades da federação tinham o vírus do sarampo em circulação, com um total de 3,5 mil casos confirmados – redução de 17,5% em relação ao período SE 34 a 45. A maior parte dos casos está concentrada na região metropolitana de São Paulo.

Falta de vacinação preocupa mais entre jovens adultos

De todo modo, a circulação do vírus está disseminada no Brasil pela falta de vacinação entre jovens adultos. Dentre os casos confirmados, aproximadamente 30% estão na faixa etária entre 20 e 29 anos. “Após o controle da doença, algumas pessoas a negligenciaram, como se fosse só uma simples doença infantil. Mas é uma doença que pode ter complicações graves, como problemas neurológicos, perda de audição e até causar morte em pessoas com deficiências imunológicas”, observa a pediatra Tati Andrade, especialista em saúde do Unicef para o semiárido.

O Ministério da Saúde (MS) realizou uma campanha direcionada para o público de 20 a 29 anos em novembro, mas os dados ainda não foram divulgados. A orientação é que pessoas desse grupo ou mais novos tomem duas doses da vacina. Maiores de 30 devem receber ao menos uma dose. “O que a gente imagina é que quem tem acima de 30 anos pode ter tido contato, ou já ter tomado uma dose ao menos. Mas quem for viajar precisa tomar a vacina 15 dias antes”, orienta Tati.

O Unicef e o MS iniciaram uma pesquisa para tentar identificar barreiras à vacinação e causas da disseminação. Uma possibilidade, diz a especialista, é que os jovens médicos que fazem atendimento hoje não reconheçam facilmente os sintomas, por terem nascido e crescido em uma época em que praticamente se extinguiu a doença. “Havendo a suspeita, é preciso fazer o bloqueio vacinal, de todas as pessoas que tiveram contato ou estão no entorno do possível infectado. Não pode haver demora nisso”, orienta.

O MS orienta aos gestores municipais que passem fazer a busca ativa da população não vacinada. Para incentivar a melhora da cobertura vacinal, o governo federal ofereceu um bônus para as cidades que cumprissem a meta para as crianças de 1 ano. Foram pagos já R$ 103 milhões, metade do previsto. Outra medida do governo federal foi ampliar a aquisição e distribuição da vacina tríplice viral, que protege contra o sarampo. Segundo dados do ministério, serão 60,2 milhões de doses em 2019 e 65,4 milhões em 2020, contra apenas 30,6 milhões em 2018.

“O que temos visto é que houve melhoria em muitos municípios ao longo deste ano, mas o fato é que a cobertura vacinal precisa chegar a 95% para fazer um bloqueio contra o vírus”, observa a especialista. Segundo ela, o temor de alguns pais de que a vacina possa fazer algum mal não se sustenta. “As vacinas são seguras. Elas passam por várias análises rigorosas, primeiro para ser comercializadas, depois para ser incluídas no calendário oficial do país. São cientistas sérios e éticos que fazem a avaliação. A gente até já teve casos de vacinas que o país não aprovou porque achou que não havia segurança científica suficiente para aplicar na população”, explica.

Perguntas e respostas sobre o sarampo

O que é o sarampo e como ele é transmitido?

O sarampo é uma doença infecciosa grave, causada pelo vírus Measles morbillivirus, altamente contagioso – 90% das pessoas sem imunidade que compartilham espaços com pessoas contaminadas contraem a doença. O sarampo é transmitido através do contato com gotículas do nariz, da boca ou da garganta da pessoa infectada, quando ela tosse, espirra e respira.

Quais são os sintomas?

Febre acompanhada de tosse; irritação nos olhos; nariz escorrendo ou entupido; mal-estar intenso. Em torno de 3 a 5 dias, podem aparecer outros sinais e sintomas, como manchas vermelhas no rosto e atrás das orelhas que, em seguida, se espalham pelo corpo. Após o aparecimento das manchas, a persistência da febre é um sinal de alerta e pode indicar gravidade, principalmente em crianças menores de 5 anos de idade.

Como prevenir?

Com a vacina tríplice viral em dia, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola. O esquema válido atualmente é:

- Crianças: dose zero, para crianças de 6 meses a 1 ano; primeira dose com 12 meses; segunda dose aos 15 meses de idade.

- Demais pessoas: entre 1 e 29 anos, se tomou apenas uma dose, é preciso tomar a segunda dose de tríplice viral; se já tomou duas, não há necessidade. Para quem perdeu o cartão de vacinação ou não se recorda, a orientação é tomar duas doses se tiver até 29 anos, ou apenas uma, se tiver mais de 29 anos.

Há alguma prevenção para bebês menores de 6 meses?

O Ministério da Saúde encaminhou cápsulas de vitamina A para estados com surto da doença. As doses devem ser ministradas em bebês menores de 6 meses, com suspeita de sarampo. Esse público é mais suscetível aos danos causados pela doença, como cegueira e até óbitos, e a vitamina A é protagonista na prevenção dessas complicações.

Grávidas podem tomar a tríplice viral?

A vacina é contraindicada nesses casos. É indicado se vacinar antes de ficar grávida.

Onde tomar?

A vacina contra o sarampo é ofertada na rede pública e também na privada, com iguais níveis de segurança e confiabilidade.

Quais as complicações decorrentes da doença?

Ao atacar o organismo, o vírus compromete a memória imunológica, deixando-o comprometido para reagir a outras infecções graves. É como se o vírus do sarampo fosse a chave para liberar a entrada para novas doenças.

- Pneumonia: cerca de 1 em cada 20 crianças com sarampo pode desenvolver pneumonia, causa mais comum de morte por sarampo em crianças pequenas;

- Infecções de ouvido: ocorre em cerca de 1 em 10 crianças com sarampo e pode resultar em perda auditiva permanente;

- Encefalite aguda: 1 em cada 1.000 crianças podem desenvolver essa complicação e 10% destas podem morrer;

- Morte: 1 a 3 a cada 1.000 crianças doentes podem morrer em decorrência de complicações da doença.

Como é o tratamento do sarampo?

Não existe tratamento específico para o sarampo. Por isso a vacinação é fundamental. Há medicamentos utilizados para reduzir o desconforto ocasionado pelos sintomas da doença. Para bebês com suspeitas de sarampo e com menos de 6 meses de idade, é indicado tomar vitamina A. O Ministério da Saúde encaminhou cápsulas do suplemento para estados com surto de sarampo.

Como está a situação na Europa?

A Europa tem enfrentado problemas para conter surtos recentes de sarampo. No fim de agosto, a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou que quatro países perderam o estatuto de eliminação da doença: Reino Unido, Grécia, República Tcheca e Albânia. Foi a primeira vez que isso ocorreu desde 2012, ano em que a Comissão Europeia de Verificação Regional (CVR) passou a avaliar os estados-membros. Na mesma ocasião, porém, foi confirmado que Áustria e Suíça conseguiram atingir o status de eliminação, já que interromperam a contaminação endêmica (dentro de seus territórios) nos 36 meses anteriores.

“O reestabelecimento da transmissão de sarampo é preocupante. Se as altas taxas de cobertura de imunização não forem conquistadas e mantidas em cada comunidade, tanto crianças como adultos sofrerão desnecessariamente e alguns irão morrer tragicamente”, disse na época o presidente do RVC, Günter Pfaff.

Os Estados Unidos quase perderam o status de erradicação de sarampo, mas em 4 de outubro o Departamento de Saúde (HHS) daquele país anunciou o fim do surto que teve início em janeiro de 2019. Até aquele momento, o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) tinha registrado 1.249 casos (são 1.262 atualmente), dos quais 75% concentrados na cidade de Nova York e no estado de Nova York. Segundo o CDC, a maioria era de casos de judeus ortodoxos que não tinham vacinado seus filhos.

Na Ásia, o Sri Lanka conseguiu atingir o status de país livre de sarampo, anunciou a OMS em 9 de julho. “A realização do Sri Lanka ocorre em um momento em que os casos de sarampo estão crescendo globalmente. O sucesso do país demonstra o comprometimento e determinação das equipes de saúde e dos pais em manter as crianças protegidas contra o sarampo”, ressaltou na ocasião o médico Poonam Khetrapal Singh, diretor regional da OMS.

Qual é o status do Brasil?

O Brasil tinha conquistado em 2016 o status de país livre de sarampo no território, conforme certificado entregue pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Em 2019, sem conseguir conter o surto de sarampo na Região Norte – que teve início com casos importados da Venezuela – o país perdeu o certificado.

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