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Profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate ao coronavírus também se contaminam, mas números oficiais são imprecisos.
Profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate ao coronavírus também se contaminam, mas números oficiais são imprecisos.| Foto: Ronaldo Schemidt/AFP

A subnotificação de casos do novo coronavírus no Brasil não atrapalha apenas a visualização do atual estágio da doença no país, mas afeta também o atendimento de saúde. Além dos casos gerais, o número de profissionais de saúde afastados, infectados ou mortos em decorrência da Covid-19 também é incerto.

O Ministério da Saúde divulgou em junho que 169 profissionais de saúde morreram devido ao novo coronavírus. Segundo a pasta, até 12 de junho 83.118 testes feitos nesses profissionais deram positivo para a Covid-19.

Quase meio milhão de profissionais de saúde foram testados. Os profissionais de enfermagem foram os mais afetados, com o registro de 42 mortes, número que diverge do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). Seguido de médicos, com 18 óbitos, e mais 88 vítimas fatais que trabalhavam no sistema de saúde, mas o ministério não detalhou em que área atuavam.

Nesta terça-feira (7), o Senado aprovou um projeto de lei que garante indenização a profissionais de saúde que ficarem incapacitados para o trabalho depois de serem contaminados pelo novo coronavírus. A proposta ainda depende da análise dos deputados antes de seguir para sanção presidencial.

O Ministério da Saúde divulgou pela primeira vez os números referentes aos trabalhadores que estão na linha de frente afetados pela Covid-19 no dia 14 de maio. Ainda assim, a pasta não apresentou dados específicos, já que o levantamento não trazia o número de óbitos, por exemplo. Os casos suspeitos ou confirmados devem ser notificados ao ministério pela plataforma e-SUS Notifica.

Até 13 de maio, data em que os dados divulgados foram apurados pela pasta, 199.768 profissionais de saúde estavam registrados com suspeita de contaminação pelo novo coronavírus. Desses, 31.790 estavam com a doença, 53.677 casos foram descartados e 114.301 estavam sendo investigados.

Nos Estados Unidos, por exemplo, país com maior número de casos e mortes, foram registrados entres os profissionais da saúde, até a última quinta-feira (2), 500 mortes e 90.626 infectados, segundo o Centro de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês).

Números divergentes sobre casos de Covid-19 em enfermeiros

No Brasil, a área da enfermagem é a mais afetada, técnicos, auxiliares e enfermeiros somavam 101.983 do total de casos suspeitos. Seguido de médicos, com 26.546. O Cofen mantém uma plataforma própria para contagem dos profissionais da área afetados, porém os números divergem dos apresentados pelo Ministério da Saúde.

No “Observatório da Enfermagem” quem informa os casos ao Cofen são os responsáveis técnicos ou coordenadores de equipes. Até terça-feira (7), 23.485 casos tinham sido reportados, desse total 9.527 casos e 240 mortes foram confirmados como Covid-19, outros 32 óbitos seguem em investigação.

Segundo o Cofen, o Brasil corresponde a 30% das mortes de profissionais de enfermagem por Covid-19 no mundo. "São mulheres relativamente jovens, com prevalência da faixa etária de 40 a 60, muitas delas com comorbidades, que não deveriam estar em contato com casos suspeitos de Covid-19", diz nota no site da instituição.

“Os [dados] do Ministério da Saúde são informados pelas secretarias municipais e estaduais. A única diferença é que existe uma subnotificação dos municípios e um atraso no resultado de exames, então a gente acaba tendo um certo privilégio de informação, digamos assim, quando o próprio responsável técnico nos informa a causa da morte ou a contaminação dos próprios profissionais”, afirma Eduardo Fernando de Souza, coordenador nacional da comissão de urgência e emergência do Cofen.

Souza considera os dados do Observatório da Enfermagem mais fidedignos, por terem sido realmente checados, principalmente o registro de mortes. Segundo ele, o Ministério da Saúde solicitou a importação de dados do Cofen para cruzar com as informações que tem sobre a categoria. “A enfermagem brasileira é a que mais morreu durante a pandemia no mundo inteiro”, ressalta.

Falta de EPIs e testes rápidos são reclamações comuns entre profissionais da saúde

“A nossa grande preocupação é a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados aos profissionais que estão na linha de frente. Também a má qualidade dos EPIs fornecidos às equipes que estão na linha de frente é outro fator que foi constatado pelo aumento de profissionais que estão sendo contaminados”, afirma Eduardo Souza, coordenador no Cofen.

Levantamento feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), publicado no dia 9 de junho, mostra que o país conta com 523.528 registros ativos de médicos nos 27 Conselhos Regionais de Medicina. Desse total, 422 mil (80%) têm idade inferior a 60 anos, ou seja pode atender paciente com Covid-19.

O CFM publicou que até maio recebeu denúncias que totalizavam quase 17 mil inconformidades na infraestrutura de trabalho oferecida por gestores públicos e privados de todo o país. A principal reclamação por parte dos médicos é a falta de EPIs.

Mas as denúncias vão da carência de equipe de apoio (limpeza e cozinha), enfermeiros e fisioterapeutas, à falta de insumos básicos, para higienização apropriada como álcool 70% e papel toalha. Esse são alguns dos fatores que fragilizam os profissionais da linha de frente.

“Os testes rápidos não tem chegado em todos os municípios, inclusive agora que ganhamos uma ação frente à União para testar todos os profissionais de enfermagem, temos casos de várias cidades no estado de São Paulo e de todo o Brasil que não estão testando os profissionais”, pontua Souza.

Ele ressalta a importância da notificação e o cumprimento por parte dos gestores das regras do MS e da Anvisa, além de preparar os profissionais para o uso correto de EPIs. O Cofen tem treinamentos on-line para capacitar os profissionais em biossegurança e no cuidado de pacientes críticos, já que muitos são enfermeiros na linha de frente são recém-formados, afirma.

A Gazeta do Povo entrou em contato com o Ministério da Saúde para obter informações atualizadas sobre o número de profissionais da saúde afetados pela pandemia, mas até o momento não obteve resposta.

Projeto de indenização para profissionais de saúde volta para a Câmara

O projeto que garante o pagamento de indenização a profissionais de saúde que ficarem incapacitados para o trabalho depois de serem contaminados pelo novo coronavírus vai voltar para a Câmara. O texto aprovado nesta terça passou por mudanças no Senado com o relatório do senador Otto Alencar (PSD-BA) e, por isso, retornará para análise dos deputados.

A proposta determina o pagamento, pela União, de compensação financeira de R$ 50 mil aos profissionais e trabalhadores de saúde incapacitados permanentemente para o trabalho após contaminação pela Covid-19. A indenização se aplica também no caso de morte pela doença, sendo paga a dependentes, cônjuge ou herdeiros dos profissionais.

Emenda do relator incluiu no texto outras categorias que podem receber a indenização, como fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes sociais e profissionais que trabalham com testagem nos laboratórios de análises clínicas. Em caso de morte do profissional, o relator acrescentou a possibilidade de pagamento para filhos ou dependentes até 24 anos caso cursem o ensino superior. Originalmente o texto previa a indenização para os filhos ou dependentes com até 21 anos.

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