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Tabata Amaral
A deputada Tabata Amaral (PDT-SP).| Foto: Facebook/Tabata Amaral

Enquanto setores de esquerda e direita se esforçam para rejeitar a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP), o partido da parlamentar busca aproveitar a popularidade da representante de São Paulo para ampliar sua força na política nacional. À Gazeta do Povo, o presidente nacional da legenda, o ex-ministro Carlos Lupi, confirmou que convidou a deputada para ser candidata a prefeita de São Paulo nas eleições de 2020.

“Eu convidei. Ela tem mostrado resistência, mas estou insistindo”, disse o ex-ministro. O PDT lançou candidato na capital paulista pela última vez em 2012. O nome foi o deputado federal Paulinho da Força, atual presidente nacional do Solidariedade. Ele teve, na ocasião, menos de 1% dos votos válidos.

Lupi define Tabata Amaral como “trabalhista” - o rótulo é o mesmo que batiza seu partido.

“Tabata é trabalhista. O trabalhismo tem capacidade de aglutinar pensamentos de centro e de esquerda. E isso tem conexão com a postura política da deputada, que é de defender a sua origem, de lutar pela educação, de militar pelas comunidades carentes”, declarou o presidente do PDT.

O ex-ministro citou ainda a deputada como alguém que “representa a nova geração, que está despontando, fazendo um bom trabalho, e que luta pela educação, que é a principal bandeira do PDT”.

Em nota divulgada nas redes sociais, a deputada descartou, de início, a ideia: "me parece, no entanto, muito cedo para qualquer conversa em relação a uma potencial candidatura minha à Prefeitura de São Paulo e reitero meu compromisso de exercer os quatro anos do mandato, honrando os 264.450 votos que recebi na última eleição".

Partido ainda sofre com a ressaca de 2018

A aposta em Tabata se mostra como um caminho para que o PDT não perca o “recall” que acumulou durante a eleição presidencial de 2018. Na ocasião, o partido ficou em terceiro lugar na eleição presidencial, com Ciro Gomes. No entanto, de lá até os dias atuais a sigla viu seus líderes nacionais perderem um pouco de relevância no jogo político. Os pedetistas têm se colocado numa condição complexa de fazer oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PDT) e ao mesmo tempo não se empenhar na pauta “Lula Livre”, que tem mobilizado o PT e outras siglas da esquerda, como o PSOL.

O partido fala abertamente em lançar novamente Ciro Gomes como candidato na eleição de 2022. Se confirmada, seria a quarta tentativa do ex-governador do Ceará de chegar ao Planalto - ele disputou em 1998, 2002 e 2018.

Qual é a relevância real de Tabata?

Tabata Amaral é uma das parlamentares mais celebradas da legislatura atual do Congresso por conta, principalmente, de sua história de vida. Ela tem apenas 25 anos e é originária de um bairro periférico da Zona Sul de São Paulo. Ganhou destaque como estudante em uma escola pública na capital paulista, recebeu bolsas para estudar em instituições de ponta e acabou alcançando uma vaga na universidade de Harvard, nos EUA, onde se formou em ciências políticas e astrofísica.

Seu envolvimento com a política se iniciou com a aproximação de movimentos de renovação, como Mapa Educação e Acredito. Foi eleita em 2018 com 264.450 votos, ficando na sexta colocação no estado de São Paulo. Superou veteranos de direita e de esquerda, como Marco Feliciano (Podemos) e Luiza Erundina (PSOL).

A bandeira da educação tem sido sua principal causa no parlamento e foi o que rendeu a ela seu maior momento de visibilidade. No dia 27 de março, durante uma reunião da Comissão da Educação da Câmara com o então ministro da pasta, Ricardo Vélez Rodriguez, a parlamentar fez questionamentos que viralizaram.

“Já se passaram três meses e em um trimestre não é possível que o senhor apresente um ‘power point’ com dois, três desejos para cada área da Educação. Onde estão os projetos, as metas, quem são os responsáveis? Isso não é um projeto estratégico. Isso é uma lista de desejos. Eu quero saber onde eu encontro esses projetos? Quando cada um começa a ser implementado? Quando serão entregues? Quais são os resultados esperados? São três meses e a gente consegue fazer mais do que isso”, perguntou a deputada.

O “enquadro” de Tabata foi citado como um dos motivos que levou à dispensa de Vélez por Bolsonaro, efetivada em 8 de março. Embora o presidente não admita publicamente que a fala da deputada tenha estimulado a retirada, a análise feita à época foi de que a performance pífia de Vélez diante da parlamentar tenha sido decisiva para a medida.

Mesmo com ministro novo - atualmente a Educação é comandada por Abraham Weintraub - a deputada segue nas críticas à gestão do tema por parte do governo Bolsonaro. Tabata tem se manifestado com frequência contra as restrições orçamentárias decididas pelo governo Bolsonaro, e planeja se juntar a protestos convocados para quarta-feira (15).

Se em relação à educação a deputada adota um discurso semelhante ao do seu partido, quando o tema é previdência as divergências aparecem. O PDT anunciou recenemente que “fechou questão” contra a modificação proposta pela gestão Bolsonaro. Já a deputada se disse favorável a readequações no sistema de pagamentos de aposentadorias e pensões.

"Eu não consigo entender. Quem é progressista, quem tem a luta social como algo do sangue mesmo, como que essas pessoas não se posicionam contra a desigualdade que é perpetuada pela previdência?", disse a deputada em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. A deputada, entretanto, diz não ser defensora na integralidade da proposta apresentada pela equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes. Ela contesta pontos como as restrições ao pagamento de valores assistenciais, especialmente os do Benefício de Prestação Continuada (BPC).

O jogo de empurra

Um ditado diz que “filho feio não tem pai”. A sentença brinca com o fato de que, via de regra, questões problemáticas não têm autores facilmente identificados.

Com Tabata Amaral, a situação assume um rumo curiosamente inverso. Apesar da trajetória pessoal rica e do futuro promissor que a parlamentar sugere ter na política, setores mais sectários de direita e esquerda têm se empenhado para empurrar a deputada para o “outro lado”.

“Tabata Amaral é de direita” é o título de um texto publicado no site do Partido da Causa Operária, legenda de extrema-esquerda. Segundo a análise, a deputada se enquadraria na direita por não militar pela liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por ter se reunido com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), entre outros pontos. Já o coletivo Luta Pelo Socialismo, de viés marxista, cita o fato de Tabata ter recebido bolsa estudantil da Fundação Lehmann, vinculada ao bilionário Jorge Paulo Lemann, como argumento para sugerir que ela atuaria de acordo com os interesses dos setores capitalistas. O PSOL, por sua vez, evita a disputa: “nosso partido não determina quem é de esquerda e quem não é”, afirmou o presidente nacional da legenda, Juliano Medeiros, à Gazeta do Povo.

Do lado da direita surgem críticas semelhantes. “É claro que ela é de esquerda”, disse à reportagem o deputado estadual Arthur do Val (DEM-SP), conhecido como Mamãe Falei e um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL). O parlamentar justifica seu posicionamento dizendo que a deputada é contrária a conceitos do livre-mercado e que ela “defende a concentração de poder, exatamente como a esquerda alega”.

Em relação à questão envolvendo o ex-presidente Lula, Arthur rebate: “não ser ‘Lula Livre’ não quer dizer nada. O Ciro Gomes diz ‘o Lula tá preso, babaca’ e mesmo assim é uma referência da esquerda”. O deputado criticou também os movimentos de renovação política que estão por trás de nomes como Tabata: “eles estão preocupados em financiar pessoas novas apenas se baseando na questão da idade, mas que têm a cabeça ridícula”.

À parte das discussões, Tabata se define como uma política de centro-esquerda. Em Brasilia tem como principais parceiros o deputado Felipe Rigoni (PSB-ES) e o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) que, assim como ela, estão em primeiro mandato. Vieira e Rigoni, tal qual Tabata, foram também eleitos sob o discurso da “nova política”.

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