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O Coronel Ustra na Comissão da Verdade, em 2013
O Coronel Ustra na Comissão da Verdade, em 2013.| Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Após ser defendido nas redes sociais por Maria Joseíta Brilhante Ustra, viúva do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932-2015), o presidente Jair Bolsonaro decidiu homenagear a professora aposentada com um almoço no Palácio do Planalto nesta quinta-feira (8). Ídolo de Bolsonaro e chamado pelo presidente de "herói nacional", Ustra é considerado o ícone da repressão durante a ditadura militar (1964-1985). E escreveu, por inspiração de Maria Joseíta, a obra que o atual presidente da República já disse ser o seu "livro de cabeceira": A Verdade Sufocada – A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça

Acusado pelo desaparecimento e morte de pelo menos 60 pessoas no temido DOI-Codi de São Paulo, Ustra é o único brasileiro reconhecido e condenado pela Justiça como torturador. O coronel comandou o DOI-Codi durante quatro anos. Mas passou os últimos anos de vida tentando contar a versão dos militares sobre os chamados "anos de chumbo".

A dedicatória de A Verdade Sufocada é justamente a Maria Joseíta, a quem Ustra considerou ter sido a razão para pesquisar, por mais de 20 anos, o que considera ser a verdadeira história do país no período militar.

No livro, Ustra conta que sua mulher fez o pedido para contar “o outro lado da história” em 1987, após a atriz Bete Mendes dizer que reconhecera Ustra como um dos militares que a haviam torturado. Segundo o coronel disse em entrevistas à época do lançamento do livro, em 2006, sua mulher começara a montar um álbum com recortes de jornais, documentos e declarações para que suas filhas soubessem quem era o pai e que nunca se envergonhassem de levar o nome da família Ustra.

A Verdade Sufocada, com 537 páginas, foi o segundo livro escrito por Ustra. Em 1987, ele já lançara Rompendo o Silêncio. Uma boa parte do material publicado em A Verdade Sufocada resultou do projeto “Orvil” – “livro” escrito ao contrário, que tinha justamente o objetivo de contar a história do período a partir da visão dos militares.

O projeto Orvil, tocado por uma equipe de três oficiais militares, começou a ser preparado em 1987 – dois anos após o Brasil passar a ser governado por um civil, o então presidente José Sarney. Era um projeto oficial do Exército e contou com a colaboração de muitos outros militares. Foram recolhidos e analisados dezenas de processos, inquéritos e documentos do regime militar.

O documento final do projeto “Orvil”, terminado ainda 1987, tinha mais de mil páginas e recebeu o título de “Tentativas de Tomada do Poder”. Mas não pôde ser publicado. O então ministro do Exército, general Leônidas Pires Gonçalves (1921-2015), não autorizou a publicação. “Assim, a instituição permaneceu muda e a farsa dos revanchistas continuou livre e solta a inundar o país”, escreveu Ustra.

Na homenagem que faz aos colegas a quem se dirige como “os companheiros do Projeto Orvil”, Ustra diz que as organizações terroristas passaram a escrever e contar a luta armada no Brasil da forma que achavam mais conveniente.

“Predominava no país a versão dos derrotados que agiam livremente, sem qualquer contestação. As Forças Armadas, disciplinadas, se mantinham caladas”, escreveu Ustra, reclamando que aos poucos, a “farsa dos revanchistas começou a ser aceita como verdade pelos que não viveram à época da luta armada e do terrorismo e que passaram a acreditar na versão que lhes era imposta pelos veículos de comunicação social”.

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