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Justiça aceitou denúncia contra seis hackers que violaram mensagens de autoridades, mas eles ainda não foram julgados.
Informações foram vazadas na noite da segunda (1)| Foto: Freepik

A mensagem postada em uma página desativada do extinto Ministério do Esporte foi o episódio mais recente da batalha entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), seus apoiadores e um grupo – ou grupos – de hackers. "Nós controlamos todas as partes da sua vida. Juntos, estamos contra a injustiça do seu governo sujo e corrupto", diz um trecho do texto, que permaneceu no ar por alguns minutos da noite da terça-feira (2).

Horas antes, Bolsonaro havia utilizado as redes sociais para dizer que "medidas legais" estavam em andamento para combater outros crimes cometidos por hackers. A queixa do presidente se pautava na divulgação de dados pessoais dele, de familiares, de membros do governo e de seus apoiadores, em um processo que se iniciou na virada da segunda-feira (1).

Naquele momento, o perfil anonymousdobr na rede social Twitter fez uma série de postagens para divulgar informações de Bolsonaro, de seus filhos Carlos e Eduardo, dos ministros Abraham Weintraub (Educação) e Damares Alves (Educação), do deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP) e do empresário Luciano Hang, proprietário da rede Havan e defensor do presidente.

Entre as informações veiculadas, conteúdos como número de CPF, declarações de renda e endereços pessoais. As postagens ficaram no ar por pouco tempo. O Twitter bloqueou o perfil e derrubou as publicações, sob a alegação de que elas desrespeitavam os termos e condições da rede. Posteriormente, o grupo criou outro perfil, de nome @AnonymouBr1, que acabou igualmente derrubado.

O ministro da Justiça, André Mendonça, anunciou que colocaria a Polícia Federal para investigar o caso: "Determinei à PF a abertura de inquérito para investigar vazamento de informações pessoais do presidente Jair Bolsonaro, seus familiares e demais autoridades. As investigações devem apurar crimes previstos no Código Penal, na Lei de Segurança Nacional e na Lei das Organizações Criminosas".

O incidente teve também repercussões políticas. Eduardo Bolsonaro descreveu o ato como uma reação de opositores do governo: "Este é o preço de enfrentar o sistema e grupos que roubaram centenas de bilhões do povo brasileiro. Como o Governo Bolsonaro não tem um caso de corrupção, a saída encontrada pelos nossos rivais são ameaças e atos ilegais. Mas o mais importante, o povo, está do lado certo".

"A turma 'pró-democracia' vazou meus dados pessoais e de outros na internet. Após vermos violações do direito à livre expressão, agora ferem a privacidade. Sob a desculpa de 'combater o mal', justificam seus crimes e fazem justamente aquilo que nos acusam, mas nunca provam!", postou Carlos Bolsonaro. Os vazamentos se iniciaram um dia depois dos conflitos de rua entre bolsonaristas e opositores do governo, que se intitularam como militantes antifascismo e pró-democracia.

Qual o real poder do Anonymous?

O grupo de hackers que intitulado Anonymous, que diz estar por trás da divulgação dos dados dos bolsonaristas, mantém atividade na internet desde o fim da década de 2000. Após um período distante dos holofotes, os ativistas reapareceram nos últimos dias em razão das mobilizações deflagradas nos EUA em retaliação à morte de George Floyd, um homem negro, por policiais brancos, no estado de Minnesota. O Anonymous alega ter derrubado sites de autoridades policiais locais e também do Senado estadual.

O fato de o Anonymous ser uma rede descentralizada, porém, motiva questionamentos sobre a real força do grupo. Como não há uma liderança oficial da facção, não existem impedimentos para que qualquer pessoa se apresente como sendo do Anonymous. Ao longo da tarde desta terça, diversos perfis foram denunciados como sendo falsos, que estariam se aproveitando da imagem do grupo para disseminar conteúdos falsos ou apenas ganhar seguidores.

Outra crítica apresentada por internautas durante as últimas horas é a de que grande parte dos dados "vazados" pelos hackers está disponível em bases públicas de dados, acessíveis a qualquer cidadão. Usuários do Twitter lembraram que "denúncias" apresentadas pelo Anonymous em outros países em anos anteriores eram, na verdade, informações verdadeiras e de peso, mas que não tinham caráter sigiloso.

A Gazeta do Povo fez um teste. A reportagem consultou bancos públicos de dados, como o site da Câmara dos Deputados, o Tribunal Superior Eleitoral e o Portal da Transparência e também fez uma pesquisa no buscador Google para obter informações de dois deputados federais, de oposição e apoio ao governo Bolsonaro: respectivamente, Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e Bia Kicis (PSL-DF).

Foram encontradas informações como os números de RG, CPF e título de eleitor, o endereço particular, o estado civil, nome dos pais, e a relação de bens. No caso de Freixo, é possível até saber que ele habilitou-se para casamento em abril de 2019, para uma união que foi formalizada dois meses depois.

Mesmo em relação ao empresário Luciano Hang, que nunca se candidatou a um cargo público e portanto tem menos obrigações legais que os parlamentares, é possível encontrar com facilidade informações como CPF e endereço pessoal.

“Como todo brasileiro de bem me sinto lesado com esses atos criminosos, que têm por objetivo apenas prejudicar as vítimas e suas famílias. Os autores devem ser exemplarmente condenados e punidos”, disse Hang sobre a divulgação dos dados, em nota enviada à imprensa. O empresário teve seu CPF cadastrado como beneficiário do pagamento do auxílio emergencial destinado aos trabalhadores informais afetados pela pandemia de coronavírus. Bolsonaro e seus familiares também viram seus números de CPF sendo utilizados para finalidades contrárias aos seus interesses: foram filiados ao PT. O partido informou que rejeitou a filiação.

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