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Viagem presidencial à China
Vice-Presidente da República, Hamilton Mourão, durante visita a Pequim: ele confirmou a viagem de Bolsonaro à China.| Foto: Adnilton Farias / VPR

Durante viagem oficial pela China, o vice-presidente Hamilton Mourão intensificou a agenda de eventos e se encontrou com empresários e representantes do governo chinês, com o objetivo de estreitar e estimular investimentos no Brasil. Antes ele já havia indicado a intenção de o Brasil aderir à Nova Rota da Seda.

O vice confirmou a visita do presidente Jair Bolsonaro (PSL) à China no segundo semestre. O líder chinês, Xi Jinping, deve participar da Cúpula do Brics sob a presidência brasileira em novembro deste ano.

Mourão conversou também com representantes de empresas brasileiras instaladas na China, como BRF, Vale e Petrobras. Na pauta dos encontros, desburocratização e desregulação estiveram presentes com medidas para melhorar o ambiente de negócios no Brasil.

Mourão participou de um almoço fechado com empresários na Embaixada em Pequim e ainda foi a um simpósio comemorativo dos 15 anos do CEBC (Conselho Empresarial Brasil-China). Ele ainda visitou a Muralha da China.

Reaproximação Brasil-China

O simpósio foi patrocinado pela empresa chinesa do setor energético State Grid, que tem investimentos no Brasil. O evento contou com menos de cem participantes e teve a presença do vice-ministro do comércio chinês, Wang Shouwen. Ele participa diretamente das negociações com os Estados Unidos na guerra comercial.

"Foi uma decisão acertada a visita dele [Mourão] à China. Desfez o desentendimento. A China estava bastante preocupada por causa dos Estados Unidos, da guerra comercial", diz Mao An Wang, consultor chinês que atua no Brasil.

"O governo brasileiro vir aqui dar esse apoio é muito importante, para que os chineses vejam que as empresas brasileiras que estão aqui têm apoio do governo, que o governo esta por trás, que é coisa séria. Assim haverá mais confiança para fazer negócio", afirma.

Walter Fang, que tem uma consultoria de tecnologia com sede em Hong Kong, também elogiou a visita do vice-presidente brasileiro.

"Ele veio em boa hora para a China, porque nessa nova administração o presidente está mostrando uma admiração muito forte por Donald Trump, de uma maneira que nós na China ficamos preocupados se as relações entre Brasil e a China vão ficar mais frias ou distantes", diz Fang.

Segundo o consultor, "impostos, a complexidade e o processo de visto muito longo" são os obstáculos para investir no Brasil.

Avessos a entrevistas e a criticas públicas, muitos empresários chineses preferiram não comentar a saúde das relações China-Brasil ou expressar opinião sobre Mourão.

Nova Rota da Seda

O vice-presidente general Hamilton Mourão disse nesta quinta-feira (23) que projetos chineses ligados à Nova Rota da Seda poderão ser realizados no Brasil por meio do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos).

A Nova Rota da Seda é o plano de desenvolvimento global do governo Xi Jinping batizado em referência às trocas comerciais do antigo trajeto que unia Oriente e Ocidente na Idade Média.

Segundo o vice-presidente brasileiro, que está em Pequim, o programa chinês seria mais interessante a países que não têm estreita relação com o país asiático. Esse não é, afirmou ele, o caso do Brasil.

"A Nova Rota da Seda é importante para aqueles países que necessitam ter um comércio diferenciado com a China. Nós já temos. Aquilo que for de nosso interesse será aproveitado", disse Mourão.

A declaração foi feita após a reativação da Cosban (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação), presidida pelo brasileiro e pelo vice-presidente da China, Wang Qishan.

De acordo com Mourão, o projeto de investimentos em infraestrutura promovido por Pequim deverá estar "dentro do nosso sistema". Ou seja, mesmo que o Brasil não integre a rota, os aportes poderiam ser absorvidos no PPI.

A reunião entre os dois vice-presidentes foi realizada no Grande Salão do Povo, na capital chinesa. A declaração final da Cosban indica que os dois países vão buscar diversificar a pauta comercial.

Hoje, há forte concentração das exportações brasileiras em um número reduzido de mercadorias. A soja, por exemplo, representa mais de 40% das vendas do Brasil para a China.

A delegação brasileira defendeu em Pequim a verificação de plantas -checagem das regras sanitárias para exportação de carne- e outras parcerias comerciais em potencial.

Foram destacados produtos brasileiro como aeronaves da Embraer e sementes geneticamente modificadas. A equipe de Mourão também reforçou a necessidade de aumento do valor agregado dos produtos vendidos pelo Brasil.

O vice-presidente brasileiro afirmou que a comissão deverá centralizar as iniciativas de cooperação bilateral. "Cada ministério será informado daquilo que foi decidido aqui e vamos dar prazos", afirmou.

O encontro terminou sem assinatura de metas concretas ou novas parcerias. Mourão afirma que novos anúncios cabem aos presidentes dos dois países. Jair Bolsonaro (PSL) deve ir à China no segundo semestre, e Xi Jinping é esperado no Brasil em novembro.

Desde a criação da Cosban em 2004, o comércio entre China e Brasil cresceu 11 vezes, pulou de US$ 9 bilhões para US$ 99 bilhões. A comissão estava paralisada havia quatro anos.

Diversificação de produtos

Para Gustavo Oliveira, professor de estudos internacionais da Universidade da Califórnia e professor visitante na Universidade de Pequim, o contexto de uma guerra comercial entre EUA e China exige maior articulação do Brasil para diversificar seus negócios com o país asiático.

"Apesar de muitos imaginarem que o Brasil tem se beneficiado com exportações recordes de soja diante da guerra comercial entre os Estados Unidos e China, isso na verdade nos coloca em condições de maior dependência e vulnerabilidade econômica", afirma.

"A saída seria facilitar intercâmbios com enfoque em tecnologias e investimentos para a agricultura familiar, que sustenta a diversidade de alimentos em ambos, no Brasil e na China", diz Oliveira.

Já Manuel Netto, economista baseado em Hong Kong, aponta que a discrepância na pauta exportadora dos dois países é "assunto de discussão bilateral há anos, mas sem evolução significativa".

"Não é fácil competir com a China, eles são muito produtivos, tem custos baixos, boa qualidade e cadeia de suprimentos completa", afirma.

Para Marcos Paiva, professor do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Jinan, em Cantão, China, houve "pragmatismo", e não "ideologia", na visita de Mourão.

"Protagonismo regional, oposição aos Estados Unidos, conflito na Venezuela e outros temas ficaram de fora", cita o professor.

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