O depoimento do ex-secretário de Comunicação Social (Secom) do governo federal Fábio Wajngarten, que ocorre nesta quarta-feira (12) na CPI da Covid, está sendo marcado por sucessivos episódios de tensão. Wajngarten recuou de críticas que fez a integrantes do governo federal em entrevista à revista Veja, o que motivou críticas dos parlamentares. O relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), chegou a sugerir que Wanjgarten poderia sair preso do Senado por mentir ao colegiado.
A principal insatisfação dos senadores se deu por Wajngarten não manter acusações que fez ao ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em entrevista à revista Veja. Na ocasião, Wajngarten declarou que Pazuello havia atuado com incompetência e que, por isso, o Brasil registra atrasos na vacinação contra a Covid-19. Mas, à comissão, o ex-secretário recuou das afirmações e declarou que não chamou Pazuello de incompetente. Ele também disse que o governo promoveu campanhas pela vacinação, pelo uso de máscaras e pelo distanciamento social.
Desde o começo da pandemia, Bolsonaro deu declarações e teve comportamentos contrários ao uso de máscara e ao distanciamento social. Em outubro do ano passado, declarou que a Coronavac, posteriormente aprovada pela Anvisa para uso contra Covid no Brasil, provocava morte, invalidez e anomalia, e que ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina e que ele próprio não se imunizaria. A partir de março de 2021 até o momento, adotou discursos de apoio à campanha nacional de vacinação.
Wajngarten confirmou, entretanto, o episódio que relatou à revista sobre a falta de respostas do governo brasileiro à oferta de vacinas feita pela empresa Pfizer. Segundo Wajgnarten, ele tomou conhecimento, em novembro do ano passado, de uma carta que a Pfizer enviou a autoridades do governo – em uma lista que incluía Bolsonaro e Pazuello. A carta era de setembro, e permanecia sem resposta até então. Wajgnarten, segundo seu relato, tomou a iniciativa de aproximar os representantes da Pfizer de membros do governo. O ex-secretário ressaltou que a Secom, que comandou, tem registros da comunicação entre eles e os representantes da empresa.
Wajngarten negou ter "aconselhamento paralelo" a Bolsonaro sobre Covid
Wajngarten falou à comissão que teve autonomia para desempenhar seu trabalho em frente à Secom, que chefiou até março de 2021. Ele relatou que o presidente Bolsonaro não interferiu nas campanhas desenvolvidas pela secretaria e que também não houve pressão daquilo que opositores chamam de "gabinete do ódio", equipe que seria ligada ao vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, que comandaria a estratégia bolsonarista de comunicação nas redes sociais.
O ex-secretário disse ainda que desconhecia a presença de uma equipe de "aconselhamento paralelo" a Bolsonaro nas questões ligadas à Covid-19. A estrutura alternativa foi citada pelos ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich na semana passada na CPI, e seria responsável por municiar Bolsonaro com informações contrárias às defendidas pelas entidades de saúde. Isso explicariaa a defesa que Bolsonaro faz de iniciativas como o tratamento por meio da cloroquina e a pouca adesão ao uso de máscaras e do distanciamento social. "Me surpreendi com a declaração do ex-ministro Mandetta", afirmou Wajngarten.
Sessão da CPI foi marcada por brigas e tumultos
A ameaça de prisão feita por Renan Calheiros a Wajngarten foi o ápice de uma série de tensões que permeou o depoimento do ex-secretário. Em um momento anterior, respondendo a uma pergunta do relator da CPI sobre a conduta de Bolsonaro, Wajngarten disse: "Acho que o senhor tem que perguntar a ele". A resposta motivou reações agressivas de Renan e também do presidente Omar Aziz.
Antes disso, Wajngarten e Renan haviam divergido pelo fato de o senador ter feito sucessivas perguntas sobre o impacto das falas "negacionistas" de Bolsonaro sobre a Covid-19. Na avaliação do senador, as respostas de Wajngarten sobre o tema estavam evasivas.
A sessão da CPI da Covid chegou a ser suspensa, e parlamentares governistas contestaram Aziz por estar "humilhando" Wajngarten. Ciro Nogueira (PP-PI) e Eduardo Girão (Podemos-CE) fizeram a crítica. A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) chegou a ir até o colegiado para "defender" Wajngarten, o que motivou ainda mais críticas dos senadores, já que a comissão é exclusiva do Senado.
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