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Ainda a chacina no presídio em Amazonas: entendo a direita raivosa, mas ela está errada!
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Escrevi um texto que julgo bastante ponderado sobre o caso da chacina ocorrida no presídio em Amazonas no primeiro dia deste ano. Não defendo os “direitos humanos” da forma que ele se encontra hoje, uma bandeira “progressista” que busca tratar marginais como “vítimas da sociedade”. Sou um grande defensor da polícia enquanto instituição. Minhas credenciais de antiesquerdista estão acima de quaisquer suspeitas. Nada disso importou. Para alguns, meu artigo foi prova de que sou um esquerdista infiltrado, um idiota, um covarde.

Para essa ala da direita, “bandido bom é bandido morto”, mesmo que esquartejado, decapitado ou empalado dentro da prisão. Foram vários comentários contra mim, alguns um tanto ofensivos. Também tive inúmeras curtidas e elogios, justiça seja feita. Mas os ataques de leitores frequentes foram impressionantes. Essa gente quer ver sangue, não importa como isso aconteça. Quer ver os marginais se matando uns aos outros e acham que só quem é de esquerda pode demonstrar preocupação com uma chacina dessas.

Discordo. Adianto que entendo o sentimento, até alguns argumentos. Quem vive no Brasil, vítima da bandidagem, com 60 mil homicídios por ano, com descaso das autoridades, com “intelectuais” defendendo marginais, está cansado demais, indignado, desesperançoso nas instituições. É a mesma turma que clama por uma intervenção militar normalmente. Trata-se de uma atitude até compreensível, mas ainda assim equivocada, que faz mais mal ao movimento de direita do que bem.

Precisamos lutar pelo fortalecimento das nossas instituições, não pela lei da selva, pela “justiça” feita com as próprias mãos. Construir uma civilização é algo difícil, complicado. Sucumbir de vez à barbárie é bem mais fácil. Imaginar, por exemplo, que todos ali se matando são igualmente monstros frios é tranquilizador, mas como o próprio ministro da Justiça disse, nem todos os mortos eram membros das facções em guerra.

editorial da Gazeta do Povo de hoje foi bastante moderado, e merece destaque. Alega que

Bandido bom não é bandido morto. É bandido devidamente encarcerado, em condições dignas, sem mordomias nem privilégios; isolado da sociedade e incapacitado de organizar novos crimes

Não compartilhamos de teorias sociológicas que negam a responsabilidade individual do criminoso. Seus atos, dentro e fora da cadeia, são escolhas pessoais; por mais que haja circunstâncias que favoreçam o crime, como a impunidade reinante ou as facilidades de pertencer a uma facção dentro de uma cadeia, matar um cidadão durante um assalto ou decapitar um outro detento continuam a ser opções profundamente individuais. São escolhas que degradam quem as faz, revelando sua miséria moral, mas que nem por isso retiram da pessoa a dignidade intrínseca que lhe é devida como ser humano, dignidade essa que traz consigo a necessidade de a sociedade se comprometer com a defesa de sua vida.

É exatamente por aí. Não podemos nos transformar nos monstros que queremos combater! Guilherme Macalossi foi novamente direto ao ponto em seu comentário, após também receber chuvas de ataques, “fogo amigo” da própria direita:

Deveríamos comemorar a morte de mais de 50 bandidos quando estes foram mortos por outros bandidos em plena prisão? Diminuir isso a uma mera rinha de galo é idiota. Se uma facção criminosa se acha forte o suficiente para eliminar adversários em um ambiente pretensamente controlado, imagine só o que ela não pode fazer nas ruas, com cidadãos indefesos. Ninguém está chorando pela vida dos bandidos, a discussão é outra.

Não é peninha do marginal, e sim constatar que a banalização ou a celebração desse ato bárbaro é extremamente perigoso, pois suspende o tecido social que forma a sociedade civilizada. Não é difícil entender a revolta de quem cansou de apostar nas leis, nas instituições, na civilização. Mas também não é tão difícil compreender que desistir delas de vez é o caminho mais rápido para a barbárie total. Defendamos a civilização, portanto, onde mesmo os monstros têm direito ao devido processo legal.

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