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“Arriscando a própria pele”, de Nassim Taleb
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Por Lucas Mendonça, publicado pelo Instituto Liberal

Nassim Nicholas Taleb é, sem dúvida, um dos nomes mais comentados na literatura moderna. Libanês de nascença (1960) e americano por opção, esse matemático e analista de riscos do mercado financeiro decidiu, há quase 20 anos, começar a escrever suas observações sobre diversos fatos, sobretudo relacionados à sua área profissional, no mercado financeiro, mas também da vida como um todo.

O projeto Incerto, compilado das ideias do autor, já conta com cinco obras: Iludidos pelo acaso: a influência oculta da sorte nos mercados e na vidaA lógica do cisne negroA cama de proscuto: aforismo filosóficos e práticosAntifrágil: coisas que se beneficiam com o caos e, por fim, Arriscando a própria pele: assimetrias ocultas no cotidiano, este último lançado em 2017 e tema da presente resenha.

Essa obra é extremamente corajosa e desafiante. Taleb traz o seu conceito sobre arriscar a própria pele, que, em resumo, significa haver simetria entre o que você faz e as consequências dos seus atos, para explorar as diversas assimetrias que vemos ao redor do mundo, em aspectos como política, religião, costumes, ciência e outros.

Para o autor, há quem arrisque a própria pele (comerciantes, empreendedores, artesãos), quem arrisque a pele dos outros (políticos, burocratas, jornalistas), quem compartilhe o risco com outros (pilotos de avião) e quem arrisque sua pele em favor de outras pessoas, como bombeiros, policiais.

O foco do livro, sem dúvida, está na análise de quem mais arrisca a pele dos outros. O autor tece severas críticas ao que chama de cientificismo, ou seja, os acadêmicos, economistas e “psicologuinhos” que estão desvinculados da realidade e acreditam que se faz ciência apenas fazendo ciência.

Salvo raras exceções, para Taleb, essas pessoas são IPI (Intelectuais Porém Idiotas), produtos da modernidade da “Intelligentsia”, que não põem a pele em risco em seus estudos e confundem ciência e empirismo com avalanche de dados sem argumentos. Chega ao ponto de dizer que uma pessoa deveria responder pelas consequências de cada conselho que dá, comparando, por exemplo, aos engenheiros da Roma antiga, que eram obrigados a dormir embaixo das pontes que construíam para provar a qualidade dessas obras.

Outro ponto importante do livro está na análise que Taleb faz sobre as minorias, segundo ele, a mãe de todas as assimetrias, porque se submetem a riscos extremos com poucas consequências. Nessa linha, faz críticas e elogios.

Explica que o mundo é sempre comandado, em diversos aspectos, por minorias que acabam submetendo uma população inteira, de forma intolerante e virtuosa, às suas preferências, chegando, inclusive, a citar importante e conhecida frase de Margareth Mead (“nunca duvide que um pequeno grupo de pessoas conscientes e engajadas possa mudar o mundo. De fato, sempre foi assim que o mundo mudou”) para esclarecer como, até mesmo em política, minorias são predominantes.

Aqui, uma crítica: Taleb defende que devemos ser intolerantes a certas intolerâncias, ao argumento de que essas intolerâncias são maléficas. Ocorre que, a nosso ver, esse argumento é contraditório porque benefícios ou malefícios de atos intolerantes dependem muito do observador e fazer uma seleção do que é ou não maléfico pode ser altamente perigoso e violador de liberdades, sobretudo a de expressão.

Taleb apresenta, também, o que chama de “efeito Lindy”, que é o resultado da robustez que negócios e ideias adquirem com o passar do tempo, diminuindo sua probabilidade de ruína pelo tanto que já puseram a pele em risco no passado e foram sobrevivendo. Para ele, o que é Lindy não sofre os efeitos de envelhecimento e perecibilidade e isso só se alcança se a pessoa, ideia ou o negócio puser sua pele em risco e se puser à prova a todo tempo.

E por falar em coisas que são Lindy, Taleb traz importante discussão, já mais para o fim do livro, sobre religião, risco e racionalidade. Defende que racionalidade é o que permite a sobrevivência e evita a ruína, é gerenciamento de risco. Nessa linha, religiões são racionais para o autor. E crença, em qualquer religião, é simetria entre o que você paga e o que você recebe.

Aqui, mais uma crítica: nem todas as pessoas veem simetria entre o que dedicam a uma crença e o que recebem em troca. Há muitas pessoas, em qualquer religião, que pensam “Deus se esqueceu de mim”. Portanto, essa conclusão de simetria entre dar e receber, quando se fala em crença, é algo tão pessoal que é arriscado o autor chegar a essa conclusão.

Longe de esgotar todas as relevantes discussões que o livro traz, essa resenha trouxe os pontos julgados mais relevantes dentro da obra para mostrar como Taleb é profundo, questionador e, certamente, muito questionado. Ainda que não se concorde com todas as ideias expostas no livro, não há nenhum receio em dizer que se trata de obra que promove imensa reflexão e deve ser celebrada e estudada com bastante afinco.

Entender ainda mais conceitos de pele em risco e sua relação com o valor Responsabilidade Individual do Líderes do Amanhã foi essencial para minha formação pessoal e profissional. Viva Taleb!

*Lucas Mendonça é associado III do Instituto Líderes do Amanhã. 

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