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A esquerda ainda não entendeu o conceito de escassez!
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Guru de quem deseja gastar o que não tem e meter a mão no bolso alheio

“A primeira lei da economia é a escassez. E a primeira lei da política é ignorar a primeira lei da economia.” (Thomas Sowell)

Imagine o leitor que é Robinson Crusoé, numa ilha perdida, sozinho. Parece claro que, para investir, antes será preciso poupar. Ou seja: você terá que dedicar tempo e recursos (poupança) para construir uma rede de pescaria (investimento) que a tornará mais produtiva do que com uma lança. Isso é básico, e não muda se acrescentarmos, agora, Sexta-Feira na equação.

Ou seja, para uma sociedade como um todo investir, é preciso antes poupar. Ou, claro, pegar poupança emprestada de fora, o que sempre tem elevado custo e risco. Trata-se do conceito de escassez, básico de economia. Não se investe do nada, produzindo os recursos necessários do azul, fazendo-os brotar do solo, muito menos das máquinas impressoras do Banco Central.

Mas vai explicar isso para os esquerdistas! Ao ler o artigo da professora da USP Leda Paulani, publicado hoje na Folha, fica claro como a ideologia esquerdista ainda ignora os pilares básicos de economia, vistos com desdém como “ortodoxos”. Leda, que foi secretária municipal na gestão do petista Fernando Haddad, ataca a “raciocinação ideológica” dos liberais, e nem nota a sua própria, que a impede de enxergar fatos óbvios. Diz ela:

Como não rezo pela cartilha ortodoxa, penso que o Estado deve ter poder e liberdade para agir de maneira contracíclica, que macroeconomicamente a poupança não é precondição do investimento, que a inflação não é sempre resultado de excesso de demanda, que a doença holandesa é praga que afeta os países periféricos.

Pausa para falar do conceito “anticíclico”. Os “heterodoxos” o adoram, mas curiosa e ironicamente, sempre o esquecem na hora da bonança. Ou seja, o estado deve atuar contra o ciclo apenas na época de crise, quase sempre gerada por ele mesmo. Na hora da pujança, o estado não deve atuar cortando gastos e tudo mais, ao menos nunca vemos esses esquerdistas levantando tais bandeiras. São keynesianos manetas! Mas voltemos aos absurdos da professora:

Por viver em país que ainda não se construiu como nação, penso que não há razão que justifique o nível atual da taxa de juros; que falar em excesso de demanda com a economia patinhando há quatro anos beira o nonsense; que não há razão que justifique sermos sempre culpados de “não fazer a lição de casa” em razão de uma relação dívida/PIB de 34% (fora reservas), quando a do Reino Unido é 100% e a do Japão é 230%!

A atual taxa de juros é resultado das baixas taxas artificialmente praticadas pelo governo desenvolvimentista de Dilma no passado, aplaudido por esses heterodoxos. Dilma foi à televisão comunicar a redução dos juros, esqueceram? Deu no que deu, justamente porque ela, como a professora da USP, ignorava as leis do mercado e as causas estruturais da alta taxa de juros.

Não entender que o conceito de excesso de demanda nada tem a ver com a economia patinando é impressionante. Ora, a minha demanda é sempre ilimitada, pois nunca estou satisfeito e sempre quero mais. Isso nada diz sobre minha capacidade de adquirir o que desejo. Logo, excesso de demanda é uma expressão que só faz sentido em termos relativos à capacidade de oferta. Há muita demanda em relação ao que o país pode produzir hoje, e isso gera pressão inflacionária.

Sobre a dívida pública, só pode ser perfídia a professora usar a líquida, uma vez que a bruta subiu sem parar no governo do PT e se encontra acima de 65% do PIB, patamar extremamente elevado para padrões emergentes. O esquema que usou o BNDES já é manjado e todos os investidores ignoram a dívida líquida hoje. No mais, os países citados podem se dar ao luxo do maior endividamento pois gozam de credibilidade e possuem inúmeros ativos, ao contrário do Brasil. Continuemos no show de horrores:

Por viver em país que padece de fratura social vexatória, penso que não se pode abrir mão de um Estado interventor e com mão forte para taxar capitais e tributar fortunas, não apenas para fazer políticas públicas; para introduzir progressividade em nosso sistema tributário, não apenas para fazer políticas compensatórias; para investir em infraestrutura, não para fazer política de campeões globais; para alavancar o mercado interno, não para desonerar folha de pagamento.

Aqui vemos o velho marxismo sob novo manto, a política da inveja, que trata economia como jogo de soma zero, onde é preciso tirar dos ricos para melhorar a vida dos mais pobres. Os fatos e a boa teoria mostram o contrário: ao se punir os mais ricos, os mais pobres são os que mais sofrem. O estado brasileiro é extremamente interventor, e deu nisso: um dos países mais desiguais do mundo, sendo que a renda per capita de Brasília é a maior do país e os “amigos do rei” acumulam cada vez mais privilégios. Tem mais:

Assim, dizer que o país não pode ter deficit de 6,7% do PIB em razão de nossa reduzida taxa de poupança pressupõe que a poupança precede o investimento –isso é verdade, mas no orçamento doméstico! E crer que se governa um país como se governa uma casa, francamente.

Pois é: francamente! De onde se tirou a ideia maluca de que o estado é o somatório do orçamento de todas as famílias nacionais? A professora da USP não vê mal algum nos enormes déficits fiscais, pois não é preciso gerir a coisa pública como a coisa privada; basta geri-la como a privada mesmo, o penico! Vamos poupar pouco e investir muito, sabe-se lá como! Quem diz que isso não é possível é um liberal dogmático, um ortodoxo, um chato!

Se magicamente os brasileiros dobrassem sua poupança, a situação poderia ser antes pior do que melhor, porque se deprimiriam as expectativas. Foi para ficar com os pés fincados na realidade que me imunizei contra esse tipo de raciocinação, como diria Hegel.

Engov! Se o Brasil aumentasse sua taxa de poupança, a situação seria ainda pior! O que importa são só as “expectativas”, e elas não têm elo algum com a realidade. Quem disse que é preciso poupar? Esses liberais pentelhos! O lance é o governo gastar o que não tem, pois não é um orçamento doméstico, e tudo será uma maravilha. Ops! Foi o que fez Dilma, e deu no que deu. Detalhe bobo. Vamos colocar a culpa no… neoliberalismo!

A diferença entre quem repete os manuais de economia americanos e um francês que pensa, está aí à vista de todos, nas livrarias: “O Capital no Século 21”. Ou seriam também ambos, Thomas Piketty e Hahn, radicais insensatos?

A diferença entre quem repete manuais de economistas franceses e um brasileiro que pensa está à vista de todos: este apresenta argumentos lógicos e fatos, e aquele precisa apelar à autoridade de um francês best-seller marxista com nova roupagem que seduz incautos pela proposta de taxação confiscatória dos mais ricos, por pura inveja.

Rodrigo Constantino

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