• Carregando...
A memória curta de Mendonça de Barros
| Foto:

Luiz Carlos Mendonça de Barros, mais conhecido como “Mendonção”, participou de uma entrevista no Globo News Painel na qual se comportou como se tivesse previsto a atual crise econômica. Chamado de “ingênuo” por Alexandre Schwartsman, por acreditar que a população brasileira realmente entendeu a necessidade do ajuste fiscal, Mendonça de Barros retrucou, acusando o ex-diretor do BC de “cético” e afirmando que o Brasil, quando diante de desafios grandes, sempre deu o passo na direção certa. Vejam:

Mas ingênuo, no caso, é o melhor dos adjetivos que podemos encontrar para descrever Mendonça de Barros. Se ele finge que estava ciente da crise que nos assola hoje, chegando a escrever em sua coluna no Valor que fez apenas um “raciocínio simples e linear de um engenheiro formado pela Escola Politécnica”, talvez precise ver um médico para checar a perda de memória. Temo pelo risco de Alzheimer, e espero estar enganado.

O leitor pode verificar em inúmeros artigos de Mendonça de Barros publicados no mesmo Valor ou na Folha ao longo dos últimos anos que seu otimismo com a economia era impressionante, contagiante até. Mas posar de clarividente que enxergou o estouro da bolha de consumo e, por isso, a mudança do jogo político e até o fim do lulopetismo, aí já é demais da conta!

Como alguém que aprecia a verdade, não posso deixar uma afronta dessas impune. Talvez tenha sido um lapso dele, como já disse, e não má-fé. Por isso, vou tentar refrescar sua memória, puxando um texto que nem é tão antigo assim, quase fresco, de 2014, após participar de um evento em BH dividindo o palco justamente com um empolgado e otimista Mendonça de Barros. Eu escrevi na ocasião:

Acabo de participar de um painel sobre a economia brasileira, cenários e perspectivas, no XXV Congresso Nacional de Executivos de Finanças organizado em Belo Horizonte. Dividiu comigo o painel Luiz Carlos Mendonça de Barros, o que possibilitou ao público um contraste entre duas visões bem diferentes de país.

Mendonça falou primeiro, e ofereceu uma visão um tanto otimista do desenvolvimento do país nos últimos anos. Para ele, a grande conquista, a grande “reforma” ocorrida na década foi a inclusão de milhões de brasileiros na formalidade. Usou um gráfico interessante para mostrar como saímos de uma informalidade que chegava a quase 70% da força de trabalho algumas décadas atrás para um quadro invertido hoje, com cerca de 30% na informalidade.

Essa inclusão, em sua opinião, muda a configuração política do Brasil. É a tal da nova classe média, que pode viver ainda em favelas, mas está inserida na formalidade e consumindo mais. Pode ter se excedido nas dívidas, mas a mudança veio para ficar, e altera o paradigma político no país. As manifestações de junho de 2013 teriam ligação com isso, e esse povo sabe melhor agora como o estado ineficiente pode ser cobrado, e como custa caro.

[…]

Comecei minha fala notando que Mendonça observava algumas árvores, mas ignorava a floresta. Não levava em conta o que acontecia no resto do mundo. Elogiava uma mudança que não era bem brasileira, mas sim fruto de um vento favorável exógeno que permitiu tudo isso. Enfim, o Brasil foi apenas uma cigarra sortuda que ganhou na loteria e surfou uma onda insustentável.

Sem fazer o dever de casa, sem realizar reformas estruturais para reduzir o Custo Brasil, sem aumentar nossa produtividade, sem expandir nossa poupança, todo o aumento no gasto público e no crédito se mostra insustentável. Não pude deixar de cutucar o colega, lembrando que meu discurso mais “pessimista” já vem sendo feito há uns 4 anos, enquanto outros economistas de matiz keynesiana elogiavam o quadro econômico e demonstravam bastante otimismo com o futuro. Hoje estamos vivendo um cenário de estagflação.

Como o leitor pode ver, chamar Mendonça de Barros apenas de “ingênuo” pode ser visto até como elogio, e Schwartsman pegou leve. O homem estava animadíssimo com as políticas econômicas do PT. Estava encantado com a emergência da “nova classe média”, aquela criada pelo Mr. M. no Ipea. Estava vendendo o Brasil como uma potência em ascensão. E agora quer fingir que era uma Cassandra? Não, Mendonça, você não tem nenhum texto ou vídeo como esse meu para mostrar, como evidência de seus “alertas acertados”:

httpv://youtu.be/4hqdoZxAuZs

Como pode ver, caro colega, os liberais que efetivamente fizeram alertas sobre os rumos da economia estavam certos, enquanto os desenvolvimentistas keynesianos estavam, uma vez mais, errados. Nada pode mudar esse fato. Caso seja um problema de memória, estamos aqui para ajudar. Se a amnésia for insistente, então recomendo a visita urgente a um médico especialista. Memória é coisa séria…

Rodrigo Constantino

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]