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A pobreza do debate no Brasil. Ou: A compaixão dos humanistas. Ou ainda: Quem é você para falar de Mandela?
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Ao escrever hoje cedo o primeiro artigo do dia para o blog, naturalmente sobre a notícia do dia, a morte de Nelson Mandela, sabia que haveria a típica reação dos seres jurássicos. Não escrevi para causar polêmica, como alguns insinuam (por projeção freudiana?), mas porque é o que penso e sei sobre o assunto, e também porque me incomoda a canonização de seres humanos imperfeitos, bem imperfeitos.

Ainda que esperada, a reação de muita gente nunca para de me espantar. São caricatas, mas devo alimentar alguma esperança boba de que isso, um dia, vai mudar no Brasil. Sou chamado à realidade constantemente, quando o tema é polêmico e mexe com a forte emoção dos crentes, necessitados de heróis imaculados (e sempre, sempre com um viés de esquerda).

Notem que, no meu texto, fiz questão de salientar o legado positivo e inquestionável do homem, cujo maior mérito foi sair da prisão sem o típico rancor e a amargura dos revanchistas, que criam “Comissão da Verdade” e coisas do tipo. Só que não poderia deixar de fora o lado ruim, o outro lado.

E foi isso que inconformou a legião de humanistas. Em defesa da infindável tolerância e pacifismo do líder morto, vieram aqui para me xingar, ofender ou desejar o pior para minha humilde pessoa. Ousou criticar algum aspecto de Mandela? Merece arder no mármore do inferno! É muita compaixão desses humanistas…

A lista é a tradicional: “Quem você pensa que é para falar de Mandela?”. “Tinha que ser nessa revista de merda”. “Lave seus dedos antes de teclar algo sobre Mandela”. “Seu bosta!”. “Você não passa de um idiota”. “Estuda antes de falar alguma coisa”. E por aí vai.

Denominador comum: ausência total de argumentos! Não quero dizer, com isso, que todas as críticas ao meu texto foram assim. Claro que não! Sendo o tema e o personagem polêmicos, claro que há margem para muita discordância dentro da lógica, e depois cheguei a comentar sobre algumas críticas legítimas que fizeram, principalmente sobre o pouco caso que dei ao fato de ter sido evitada uma guerra civil (isso foi, sim, um feito grande).

Mas boa parte dos críticos fez apenas isso: ofensas e apelo à autoridade. São seres boçais, raivosos, odientos, incapazes de debater, de manter um diálogo. Rotulam o oponente pois não conseguem focar em argumentos. Atacam a Veja, sendo que a opinião é minha, e na própria revista há outras quase diametralmente opostas. Por que fazem isso?

Porque não pensam. Porque são esquerdistas jurássicos que desejam usar Mandela, um ícone mundial, como instrumento de sua revolução. O que incomoda tanto essa gente é justamente o fato de que critiquei seu passado comunista, o uso da violência como meio político, e a amizade com ditadores sanguinários como Fidel Castro. Que fique bem claro: é isso que não perdoam!

A pobreza do debate no Brasil é ilustrada com perfeição nessa reação ao meu texto. Sobra ódio nesses humanistas, sobra ofensas, ataques pessoais, rótulos, e falta aquilo que mais importa em um debate: argumentos. É cansativo. É triste. E dá certa desesperança em relação a nosso futuro.

Sim, tinha que ser na Veja. Afinal, são poucos veículos que permitem o contraditório e que, sem a pretensão de deter a verdade absoluta, respeitam a liberdade de expressão.

Aos queridos humanistas cheios de compaixão que trouxeram lindas palavras ao blogueiro, segue uma charge adequada a vocês. Se só existissem pessoas assim no mundo, os zumbis morreriam de fome!

Zumbis
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