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A politização de uma tragédia é indecente e imoral
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Um monstro assassino, que serve para lembrar que o mal existe.

Começo esse texto com uma constatação: que falta faz aos brasileiros uma Fox News! Após a execução de nove pessoas inocentes numa igreja de uma comunidade negra na Carolina do Sul, já sabia que não haveria outro assunto aqui nos Estados Unidos. Resolvi ver o relato pela ótica da Fox News, mais precisamente de Bill O’Reilly, do popular O’Reilly Factor. Simplesmente não há nada parecido em termos de “talk show” no Brasil.

Com uma postura séria, Bill O’Reilly começou, óbvio, lamentando profundamente as mortes e lembrando que era um momento de sofrimento de todos, especialmente dos familiares e amigos das vítimas. Frisou que não é exatamente uma tragédia, pois tragédia lembra furacão, terremoto, enfim, coisas da natureza. Ali fora uma ação humana, de pura maldade, uma verdadeira execução cometida por um sociopata.

Em seguida, condenou todo tipo de uso político da coisa, tanto pela esquerda como pela direita. A esquerda logo aproveita o episódio para condenar a venda de armas, a direita repete que é necessário para defender os inocentes de tais malucos, e logo se cai num debate político em um momento que pede outra coisa.

A reação do próprio Obama foi mostrada pelo apresentador, que disse, porém, não ser a hora de refutar o presidente americano, que usou o delicado momento para atacar os Estados Unidos, para repetir que esse tipo de coisa só acontece aqui entre os países desenvolvidos (mentira, como O’Reilly ficou de provar em seu programa de hoje).

E eis o primeiro ponto importante: há gente maluca em todo lugar! Não é uma exclusividade americana, tampouco da direita ou da esquerda. Foi um ato covarde, terrorista, de um garoto perturbado, cruel, que foi expulso do ciclo nazista por excesso de violência! Precisamos constatar com realismo que esse tipo de coisa nunca vai desaparecer completamente, pois seria como sonhar com o fim da maluquice ou violência em si, algo utópico e ingênuo.

O segundo ponto importante é que a desgraça serviu para unir todas as pessoas normais, em torno do sofrimento dos amigos das vítimas. isso inclui, naturalmente, brancos e negros. Mas, enquanto as pessoas de todas as cores se juntavam para lamentar o atentado, os políticos o utilizavam para vender suas bandeiras ideológicas e políticas, demonstrando insensibilidade profunda.

O que O’Reilly frisou é que os Estados Unidos precisam, acima de tudo, superar as barreiras raciais, e isso só será possível no dia em que a “raça” não for mais uma divisória que segrega o povo. Ele entrevistou vários negros no programa, alguns seus amigos de longa data, e colocou de forma clara: a “raça” jamais foi um aspecto levado em conta entre eles. Por que, então, não pode ser assim para todos? Por que alguns insistem em focar tanto na raça e deixar de lado o ensinamento do próprio Martin Luther King, de julgar o caráter em vez da cor da pele?

Um dos entrevistados, ao vivo, resolveu atacar a Fox News. Disse que era pela existência de canais de direita como a Fox que aquilo tinha acontecido. A reação de O’Reilly me surpreendeu: com firmeza, mas muita educação e tato, ele cobrou do entrevistado uma explicação, um só episódio em que o canal tivesse incentivado de alguma forma a barbárie, a agressão, o terrorismo contra quem quer que fosse. Nitidamente aturdido, o entrevistado só conseguia repetir que a direita, representada pela Fox, tinha a ver com aquilo, no que o apresentador cortou a entrevista alegando que ia dar um desconto ao entrevistado, que estava visivelmente abalado pela perda de amigos, mas que não poderia aceitar acusações tão absurdas.

Por fim, a questão das armas. Claro que a esquerda não perderia essa “oportunidade” para tentar avançar com sua agenda desarmamentista, que não encontra muito eco por aqui. Todos são a favor de um rigor grande que tente dificultar o acesso de malucos às armas, mas isso não quer dizer desarmar todos, inclusive os inocentes. No caso, vale lembrar que o rapaz assassino ganhou sua arma do próprio pai de presente de aniversário. Será que o pai não via nada de errado com ele? O pai deve ser responsabilizado também, por negligência. Mas ninguém precisa achar que Michael Moore está certo e que esse tipo de incidente terrível iria sumir se o governo proibisse a venda de armas para todos, o que é uma crença um tanto ridícula.

Enfim, a politização de qualquer tragédia já é algo indecente e imoral, oportunista demais, insensível. Quando é uma tragédia fabricada pelo homem, por um maluco que deseja o mal, apenas o mal, isso é ainda pior. Devemos respeitar as vítimas e seus parentes, e devemos buscar união, de todos contra o mal, contra os terroristas, os assassinos. Dylann Roof, o monstro assassino, sonhava em segregar o povo entre brancos e negros. Aqueles que insistem em enxergar tudo com base apenas na raça, na cor da pele, acabam fomentando exatamente a mesma coisa.

PS: Malucos, como O’Reilly ficou de mostrar em seu programa de hoje, existem em todos os países. Já tivemos ataques desse tipo até na pacata Finlândia, mais de uma vez. O que os Estados Unidos têm de pior, portanto, é a segregação racial fomentada pelos movimentos raciais e pelos racistas. E o que os Estados Unidos têm de bom, que o presidente Obama não menciona, é a rápida punição aos assassinos malucos. O rapaz foi preso poucas horas depois do ataque, e agora será punido com severidade, sem dúvida. Ao menos isso preserva algum senso de justiça em meio a um horror sem explicação…

Rodrigo Constantino

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