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Adélio é considerado inimputável por transtorno psiquiátrico, mas bolsonaristas desconfiam
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Adélio Bispo, autor da facada que quase tirou a vida do então candidato Jair Bolsonaro, foi considerado inimputável por ser portador de um transtorno psiquiátrico, conforme debatemos ontem no programa “Os pingos nos is”:

Mesmo com o parecer médico da psiquiatra indicada pela própria defesa de Bolsonaro, os bolsonaristas não parecem satisfeitos com o laudo médico. Leandro Ruschel, por exemplo, desafiou a capacidade ou a honestidade da médica indicada pelo presidente, julgando-se mais apto a dar um parecer após acompanhar por 30 minutos a fala de Adélio:

“Assisti na íntegra à oitiva do Adélio logo após a sua prisão. O sujeito falou por mais de 30 minutos de forma muito coerente. Esse sujeito está muito longe de ser um ‘maluco’. Qual maluco é servido por turma de advogados que chega em jatinho?”

Como leigo no assunto, eu não desafiaria dessa forma arrogante o parecer médico. Como quem conviveu de perto com portador de doença mental, posso atestar por experiência que é possível agir de forma “coerente” por bem mais do que 30 minutos, e ainda assim ser ou estar louco. Já vi gente que defendia Bolsonaro passar a defender Lula por conta de distúrbios psiquiátricos!

Sobre o parecer, cheguei a brincar que bastava o fato de Adélio ter sido filiado ao PSOL para concluir que ele é doido sim. Brincadeiras à parte, o fato é que sua loucura não resolve outras duas questões em aberto: alguém usou ele como instrumento para o crime?, e quem paga a conta dos seus advogados?

Ou seja, dúvidas continuam no ar, o que alimenta as suspeitas ou teses conspiratórias de que a facada foi encomendada por alguém ou alguma quadrilha, talvez o PCC, talvez o PT – teoria certamente mais atraente para os bolsonaristas. Após as investigações, porém, nada de concreto foi encontrado para embasar essa suspeita.

Pode ter sido coisa de um doido solitário, ou pode ter sido um crime orquestrado em que utilizaram o maluco do Adélio, apesar de ser bem arriscado contratar um doido como assassino, já que ele pode simplesmente entregar todo plano ou deixar vários rastros.

Como disse no programa desta segunda, não considero necessariamente algo positivo para o criminoso ser considerado maluco. O manicômio pode ser pior do que a prisão, e por tempo indeterminado. Alguns estão receosos de que ele será morto como queima de arquivo. Veremos.

Fica também, como lembrei no programa, o alerta para a esquerda que abraçou a “luta antimanicomial” inspirada em Foucault, ele mesmo um tanto doido. Há certas doenças que exigem tratamento, mesmo que compulsório. As famílias ficam de mãos amarradas nesses casos, porque os “progressistas” passaram a romantizar a loucura, como se todos fossem “malucos beleza”.

São perigosos muitas vezes! Casos extremos de bipolaridade ou esquizofrenia aumentam muito as chances de comportamento agressivo e violento. E durante o surto, é fundamental que se tenha mecanismos de internação compulsória. Claro que é preciso cuidado para não voltarmos aos tempos de internação por motivos distintos só para afastar da sociedade parentes incômodos. Mas para isso há o parecer psiquiátrico.

Enfim, doença mental é assunto sério demais para ficar a cargo de ideólogos, seja de esquerda, seja de direita.

Rodrigo Constantino

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