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Aniversário da revolução russa deve servir para não esquecermos do terror comunista
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Outubro de 1917. Os bolcheviques davam um golpe e tomavam o poder, meses depois da saída do Czar. Era ali que começava para valer a revolução russa, um triste marco da história da humanidade. Milhões morreram em poucos meses, assassinados, famintos, peões no tabuleiro de xadrez de Lenin e seus cúmplices psicopatas.

Não obstante, a imprensa ainda trata o fenômeno com certa nostalgia. No Globo, temos visto várias reportagens que parecem quase enaltecer o evento. Basta ver que a desgraça imposta a milhões de vítimas inocentes é retratada como “inadequações” do sistema, ou que naqueles anos comunistas, ao menos as prateleiras estavam cheias (uma mentira deslavada), enquanto hoje reina a desigualdade capitalista:

Em busca da verdade, portanto, resgato aquele que foi um dos meus primeiros textos, escrito anos atrás e publicado no Mídia Sem Máscara. As fontes são mais fiéis: os arquivos abertos por Moscou, utilizados por autores ex-comunistas para escrever a biografia definitiva do regime assassino: O livro negro do comunismo.

Lembro como se fosse hoje das noites perdidas de sono, ao ler relatos sobre o que aquelas pessoas sofreram nas mãos desses assassinos. O alto custo da utopia igualitária chegou a cem milhões de vidas perdidas, sem falar de tantas outras destruídas. E ainda tem gente que defende essa ideologia podre!

O terror vermelho

“Aqueles que não podem se lembrar do passado estão condenados a repeti-lo.” – George Santayna

O mundo nunca mais seria o mesmo depois de 1917. Uma nova era de terror seria instaurada pelos quatro cantos da Terra, e as sequelas ainda podem ser sentidas até hoje. Entretanto, muitas atrocidades cometidas em nome da causa comunista são desconhecidas por grande parte das pessoas, em muito explicado pela cortina de ferro, que tanto ocultou do mundo os acontecimentos desta época.

Esse texto tenta resgatar apenas alguns fatos, uma pequena parcela do que teria sido o período de terror vermelho. As fontes são documentos oficiais, cartas e relatos, tudo escondido pelos comunistas e somente descoberto após a queda do Muro de Berlim em 1989 e da URSS em 1992. Os materiais estão reunidos no intenso livro O Livro Negro do Comunismo, escrito por ex-comunistas que acordaram duramente para a realidade.

Seguramente, os anos dos czares na Rússia foram cruéis, e uma revolta popular era o caminho lógico. Porém, em 1917, a tomada do poder foi tão fácil que uma luta armada nem se fazia necessária. Os bolchevistas deram na verdade um golpe dentro do golpe, e partiram para a instalação do terror. Para se ter uma rápida idéia em números, de 1825 a 1917, cerca de 3.900 pessoas foram executadas, quantidade esta já ultrapassada pelos bolchevistas após quatro meses no poder. Lênin queria e conseguiu iniciar sua guerra civil.

O objetivo inicial era a luta de classes, sendo que essas foram na prática divididas em bolchevistas e não-bolchevistas. Quem não aderiu à causa e ao partido seria eliminado. Os kulaks, por exemplo, eram pequenos proprietários de terras, longe de serem grandes latifundiários ou burgueses, e seriam praticamente dizimados da Rússia. Entre 10 a 15 mil execuções sumárias ocorreriam em dois meses somente, sob ordens da Tcheka. Em poucas semanas, eles já teriam executado três vezes mais pessoas do que todo o império czarista havia condenado à morte em 92 anos! E além desta mudança numérica, o método de condenação havia mudado radicalmente também. Para ser fuzilado bastava ser considerado um “suspeito”, “inimigo do povo”, e nenhum julgamento era preciso.

Vários massacres foram acontecendo de forma ininterrupta na década de 1920. Em Criméia, pelo menos 50 mil civis foram aniquilados pelos bolchevistas em dois meses em 1920. A troiki, que eram tribunais de descossaquização, condenaram à morte mais de 6 mil cossacos nesta época. Suas casas eram destruídas e as terras eram distribuídas entre os membros do partido. Em regiões cossacas onde houve oposição aos bolchevistas, populações inteiras foram mortas, totalizando mais de 500 mil vítimas em apenas dois anos nas regiões do Don e Kuban, cuja população total não ultrapassava 3 milhões.

Outra arma muito utilizada pelos bolchevistas foi a fome. Eles simplesmente cortavam o fornecimento de comida para determinadas regiões, matando de fome populações inteiras. Pelo menos 5 milhões de pessoas, numa estimativa conservadora, morreram de fome em 1921 e 1922 apenas! A era de Stalin não iria deixar por menos, e entre 1932 a 1933 mais de 6 milhões de pessoas iriam morrer de fome também. As perseguições não eram seletivas, e praticamente qualquer um poderia se tornar uma vítima do rolo compressor vermelho. “Burgueses”, “capitalistas”, pequenos proprietários, membros da Igreja, participantes de outros partidos, enfim, qualquer um que não fizesse parte dos bolchevistas eram alvos potenciais. Em 1936, por exemplo, mais de 70% das igrejas locais haviam sido destruídas.

Somente entre 1937 e 1938, cerca de 700 mil pessoas foram executadas pelo NKVD de Stalin. Este tinha determinado cotas a serem exterminadas, e muitas vezes não havia motivo algum para tais execuções que não preencher essas cotas. O “julgamento” não levava mais de dois dias. Intelectuais foram vítimas também, e universidades, institutos e academias foram dizimadas. O Grande Terror de Stalin estaria em andamento, visando a eliminar todos os “elementos perigosos à sociedade”, uma noção com contornos muito amplos.

Foram criados os gulags, campos de concentração no mesmo estilo dos nazistas. No auge do encarceramento, existiam mais de três milhões de presos nestes campos, todos fazendo trabalho forçado. A taxa de mortalidade era absurdamente alta, devido ao total descuido das autoridades. Somente no ano de 1942, 18% dos presos morreram. Estes eram apenas simples cidadãos, não criminosos perigosos. Entre as pessoas condenadas por furtos encontravam-se inúmeras mulheres, viúvas de guerra, mães de família com crianças recém-nascidas etc. O canibalismo também foi muito freqüente nos gulags.

Em 24 de agosto de 1939, foi assinado um acordo de não-agressão entre a URSS stalinista e a Alemanha hitlerista. A parte mais importante do acordo, que foi ocultada até 1989, delimitava as esferas de influência e as anexações de dois países do Leste Europeu. A Polônia estava no epicentro do acordo, e seria esmagada por ambos os lados. Tanto os socialistas bolchevistas como os socialistas nazistas estariam exportando seu terror doméstico para outra nação de forma direta pela primeira vez. Sua população seria escravizada pelos dois lados, e muitos poloneses seriam exterminados.

As ambições imperialistas dos comunistas começaram bem cedo também, quase no mesmo instante da tomada de poder. Lênin criou o Komintern em 1919, que seria uma iniciativa de criar uma organização internacional para levar a revolução ao mundo inteiro. Eles eram a favor da “globalização” desde o começo. Nos tempos de Stalin, o Komintern direcionou seus recursos para a China, terreno fértil para se implementar o comunismo. Isso não impediu, entretanto, um foco expansionista em outras regiões. Vários foram os alvos da conquista bolchevista, como Espanha, Iugoslávia, Coréia do Norte, Vietnã, Camboja, Afeganistão, palestina, países da África e até América Latina.

O caso que merece mais atenção é o chinês, dado suas gigantescas proporções. A repressão na China comunista foi uma réplica das práticas do “Irmão Mais Velho”, a URSS de Stalin. Estimativas sérias apontam pelo menos 10 milhões de vítimas diretas, incluindo os 10 a 20% dos habitantes do Tibet que pereceram em conseqüência da ocupação chinesa. Pequim iniciaria também uma forte expansão internacional, e o Khmer Vermelho de Pol-Pot, que trucidou mais de 30% da população do Camboja, recebia fortíssima ajuda dos comunistas chineses, assim como os soldados do Viet-minh no Vietnã.

De acordo com o próprio Partido Comunista Chinês, dois milhões de “criminosos” teriam sido liquidados entre 1949 e 1952, em apenas quatro anos de novo regime. O Grande Salto adotado por Mao Tse Tung seria responsável pela mais mortífera fome de todos os tempos, em valor absoluto. As perdas ligadas à mortalidade causada pela fome podem ser avaliadas, de 1959 a 1961, entre 20 e 40 milhões de pessoas! A ajuda oferecida pelos Estados Unidos foi recusada por razões políticas nesta época.

Após a perda do apoio popular em consequência do Grande Salto, Mao tentou dar a volta por cima com a Revolução Cultural. Utilizando basicamente jovens que não tinham fresco na memória o terror do período anterior, ele iniciou um forte culto à personalidade e uma intensa lavagem cerebral. Quem não pertencia aos “vermelhos” não merecia viver, e nenhum critério além desse era necessário para uma execução. Os “rebeldes” viam-se a si mesmos como bons maoístas, totalmente alheios a qualquer ideal democrático ou libertário. Foram anos de anarquia, onde milhões de jovens pegaram em armas e fuzilaram a esmo qualquer indivíduo que se opusesse à ideologia vermelha. Foi o jeito que Mao encontrou para se fortalecer novamente no poder. O nível de torturas nesta época ultrapassou qualquer limite, e pessoas eram mortas em frente aos familiares, que depois eram obrigados a comer partes do defunto.

De posse desses fatos e conhecimento, é impossível não ficar revoltado com o comunismo. Mas algumas perguntas precisam ser feitas, já que tanto tentou se ocultar do regime mais assassino da história humana.

Em primeiro lugar, vamos comparar o comunismo ao nazismo. Hitler tinha uma linha de conduta muito similar a dos comunistas, criando um Estado totalitário, abolindo o direito à propriedade e eliminando todos os que se opusessem à causa. Seu Nazional Socialismo foi apenas uma variação do modelo comunista soviético. Em termos de saldo de mortes, Hitler carrega no currículo algo como 25 milhões de vítimas, enquanto o comunismo ultrapassa fácil a marca de 100 milhões. Por quê então uma revolta mundial tão maior com Hitler que Stalin ou Mao Tse Tung?

Para tentar responder isso, tentarei abordar três visões diferentes. Em primeiro lugar, a ideologia vendida pelo comunismo parecia mais nobre, pregando uma igualdade entre as pessoas, enquanto Hitler era declaradamente a favor da raça superior dos arianos. Os sonhos comunistas conquistam mais corações, e Jean Paul Sartre, por exemplo, declarou simpatia ao maoísmo, assim como Picasso sempre apoiou o comunismo.

Em segundo lugar, o método de conquista e difusão do nazismo foi mais direto, com invasões claras de territórios. Já a estratégia comunista foi mais sutil, se implantando em partidos políticos, mandando dinheiro e agentes, escondendo melhor o terror e sempre com um discurso romântico. Na prática, o comunismo foi até mais expansionista que o nazismo, dominando países em quase todos os continentes, mas a imagem do exército de Hitler ficou mais forte na cabeça das pessoas.

Por fim, Hitler declarou guerra a uma classe específica, dos judeus, enquanto os comunistas espalharam mais o terror, sem distinção de raça durante o extermínio. Como o nazismo concentrou mais os ataques, e num povo unido e poderoso como o judeu, a reação foi mais forte neste caso. Vários filmes foram feitos sobre o nazismo, mostrando toda sua crueldade e as atrocidades cometidas pela Gestapo e SS do Terceiro Reich. Já no caso do comunismo, como as vítimas foram mais dispersas, não houve uma forte propaganda levando ao mundo suas barbaridades. Sem falar que ainda existem muitos defensores da causa espalhados em cada continente, sempre lutando para ocultar fatos, distorcer verdades, inverter causalidades e mascarar o comunismo.

Somente esse conjunto de fatores pode explicar uma revolta mundial na simples visão da suástica, enquanto partidos políticos oficiais ainda usam com orgulho a foice e o martelo ou sustentam o nome comunismo. O presidente nacional do PT, para dar um exemplo, ostenta com orgulho seu passado de guerrilheiro maoísta, mas já imaginaram alguém do PFL se declarar um ex-adepto do nazismo? É muita má fé dessas pessoas, e muita ignorância do resto do povo, até hoje na total escuridão do que foi de fato o sonho comunista, um regime que espalhou o terror por todo o globo.

Outra pergunta curiosa também é como, diante dessas evidências todas, alguém ainda consegue recriminar os Estados Unidos durante suas ações militares no século passado? Para salvar a Europa das garras de Hitler, os americanos são aplaudidos. Mas por que então não termos a mesma postura diante da Guerra Fria, que foi uma reação americana aos avanços imperialistas do comunismo? A China invade a Coreia, os Estados Unidos a defendem, e Picasso pinta um famoso quadro mostrando o massacre de coreanos por americanos, perpetuando essa imagem distorcia dos fatos? A Rússia invade o Afeganistão, os EUA mandam tropas e dinheiro para a defesa da nação, e a única coisa que sobrevive na memória das pessoas é que os EUA “criaram” Bin Laden? A China tenta tomar o Vietnã, a França comete erro atrás de erro para tentar salvar sua colônia, os americanos partem em defesa do Vietnã sulista, prestes a cair sob o terror do norte, e tudo que conseguem lembrar são as mortes cometidas por americanos? A KGB manda agentes para o Brasil, após dominar Cuba, garante ajuda financeira para grupos comunistas como a Molico, Jango discursa na China que o comunismo está próximo no Brasil, os americanos se limitam a garantir apoio no caso de revolução, e tudo que conseguem falar sobre esta época é que os EUA “participaram” da nossa ditadura?

Realmente, falta muito embasamento nos debates nesse país, sem desmerecer de forma alguma a incrível capacidade propagandista dos comunistas, é claro. Se ao menos as pessoas soubessem o que foi o comunismo na prática…

Rodrigo Constantino

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