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Articulação política não precisa ser sinônimo de corrupção: revolucionários vão quebrar a cara, mas o Brasil antes
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Entendo a revolta popular: após mais de década de petismo, com um Congresso que temos, e a péssima fama dos políticos em geral, falar em articulação política já remete ao mensalão. Mas essa é uma visão deletéria e equivocada da política. Pior: é uma mentalidade que inviabiliza a política, e assim a aprovação das reformas necessárias. Comentei no meu Facebook:

Parabéns aos revolucionários. Conseguiram disseminar a ideia de que articulação política é sinônimo de mensalão e corrupção. Criminalizaram a própria política, que é assim no mundo todo: ceder pautas, contemporizar, aceitar indicações, negociar emendas. Se você fala em articulação, já está defendendo corruptos na cabeça dos militantes bolsonaristas. O país ficou inviável. Congratulations, jacobinos!

Ao analisar os comentários de leitores, confesso ter calafrios! Muitos pensam assim mesmo: esqueça a articulação, Bolsonaro representa “o povo” e a vontade da maioria deve ser imposta, mesmo se for preciso fechar Congresso. A associação é automática: articular é abrir uma mala de dinheiro na surdina.

Eis o clima atual: se você defende articulação política, virou defensor da corrupção, ponto. Tudo bem, mas sejamos coerentes então: se você não defende articulação política alguma, então você é a favor de fechar logo o Congresso corrupto, o STF corrupto, e declarar Bolsonaro imperador do Brasil, em nome do povo? Se for o caso, melhor assumir logo o viés fascista autoritário, não?

Não dá para negar que o péssimo nível dos nossos parlamentares, na média, não ajuda. Muitos querem, sim, boquinhas, mamatas, esquemas, em vez de debater o projeto em si, negociar pautas, fazer demandas legítimas em nome de concessões. Mas não dá para jogar todos na mesma laia, e não dá para criminalizar a política em si.

Renan Santos, do MBL, gravou um importante vídeo explicando a diferença entre articulação e corrupção, lembrando que montar coalizão não precisa significar mensalão:

William Waack também foi por linha parecida em sua análise da situação:

Quem quer apostar numa “revolução” liderada por Bolsonaro, representante “do povo”, vai quebrar a cara. Mas vai antes quebrar o Brasil.

Rodrigo Constantino

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