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Ascânio, o isentão. Ou: As bombas contra Obama, Hillary, Soros e CNN são culpa de Trump?
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Pacotes com dispositivos que aparentam ser explosivos mandados para diferentes personalidades americanas foram interceptados nesta quarta-feira (24). Nenhum deles chegou a explodir. Veja abaixo para quem foram mandados os pacotes:

  • Barack Obama, ex-presidente
  • Hillary Clinton, ex-secretária de Estado
  • John Brennan, ex-diretor da CIA, cujo nome está em pacote mandado para a CNN
  • Debbie Wasserman-Schultz (deputada democrata pela Flórida), marcada como remetente em pacote endereçado errado ao ex-secretário de Justiça Eric Holder
  • Maxine Waters (deputada democrata da Califórnia)
  • George Soros, investidor (caso ocorrido na segunda-feira)

Um agente especial do FBI, a polícia federal americana, disse à CNN que os dispositivos “pareciam ser bombas de cano” (bomba feita com um pedação de cano, um tipo comumente associado a fabricação caseira).

Os “potenciais dispositivos explosivos” enviados para as residências da ex-primeira-dama Hillary Clinton e do ex-presidente Barack Obama foram interceptados pelo serviço secreto dos EUA, anunciou o Departamento de Segurança Interna americano.

O que comentar sobre isso? Antes de mais nada, o óbvio ululante: você pode não gostar dessa gente esquerdista, e terá toda razão do mundo para tanto; pode considerar que Obama foi um péssimo presidente cujo legado foi terrível para a América e o mundo, e que Trump está tendo que consertar várias trapalhadas do homem da retórica, e estará certo; pode entender que Soros é, de fato, um dos maiores financiadores de grupos radicais de esquerda no mundo; mas nada disso justifica aplaudir atentados terroristas contra essas pessoas!

Ou seja, qualquer um com um pingo de sensatez deve abominar essas “correspondências” enviadas para essa gente. Isso é exatamente o que a imensa maioria à direita está fazendo. Ninguém basicamente está comemorando o ocorrido. Mas claro que a esquerda, inclusive aquela que finge ser imparcial e centro, aproveitaria o episódio para explorar um pouco mais seu ódio patológico contra Trump, que passa a ser o culpado direto por essas “cartas”, pelo “clima de divisão” que teria produzido (na verdade é fruto dele).

Ascânio Seleme, do jornal O GLOBO, foi nessa linha. Ele já foi alvo de críticas em meu blog justamente por sua postura de “isentão”, sempre dando um jeito de atacar a direita com um critério jamais utilizado para julgar a esquerda. O jornalista usou essas “bombas caseiras” como prova de que Trump é um perigo para o planeta, e aproveitou para fazer um elo com o Brasil de Bolsonaro:

A tentativa de explodir bombas nas casas dos ex-presidentes Bill Clinton e Barack Obama e na sede da rede de TV de notícias CNN é um bom exemplo para o Brasil no limiar de inaugurar um governo de extrema direita. Terrorismo não é novidade no cotidiano dos Estados Unidos. Atentados praticados por inimigos externos, como os ataques de 11 de setembro de 2001, ou por grupos de casa, como a explosão de Oklahoma City, são objeto de permanente e obsessiva vigilância da Inteligência e das forças policiais americanas.

Os atentados malsucedidos de ontem, contudo, têm outra característica. Foram fomentados, mesmo que indiretamente, contra pessoas e instituições sistematicamente ofendidas pelo presidente Donald Trump. Não falha um dia, desde que assumiu a Casa Branca Trump ataca sem trégua a imprensa, e sobremaneira a rede CNN e o jornal “The New York Times”. Os membros do Partido Democrata, dos ex-presidentes Clinton e Obama, também são objeto da fúria presidencial.

Trump chegou a dizer que os democratas apoiavam e poderiam estar por trás da caravana de refugiados centro-americanos que há dez dias marcham em direção à fronteira dos Estados Unidos. Há dois dias, a polícia explodiu um pacote-bomba enviado para a casa do bilionário George Soros. No início deste mês, Trump acusara Soros de financiar manifestantes que se mobilizaram contra a indicação do conservador Brett Kavanaugh para Suprema Corte.

“Trump é um fomentador de ódio entre os americanos”, afirma o autor. E completa citando o caso brasileiro: “No Brasil, poderemos viver experiência que tem tudo para ser parecida. O candidato Jair Bolsonaro, líder das pesquisas e que está muito próximo de ser eleito presidente da República, destila seu ódio aos adversários, que não vê como competidores, mas como inimigos a serem varridos do mapa”.

Ora, nem uma só palavra sobre a segregação promovida por Obama no país? Nem um pio sobre o Black Lives Matter, que destila ódio racial e foi defendido por Obama? O que dizer de um atentado contra políticos republicanos, promovido por um sujeito que tinha participado da campanha de Bernie Sanders? E no Brasil, não é o PT que investe pesado há décadas na retórica da divisão, colocando uns contra os outros?

O que incomoda no texto de Ascânio e tantos outros na imprensa é justamente esse duplo padrão: eles estão prontos para pegar qualquer caso isolado de um maluco para usar como evidência contra toda a direita, mas quando um esquerdista assumido ataca um direitista, como aconteceu com o próprio Bolsonaro, aí eles mudam de assunto, para não ter que assumir que a esquerda em geral promove muito mais divisão e ódio do que a direita.

Essa hipocrisia cansa. Quem está “apavorado” com a “polarização” e o “clima de ódio” com a ascensão do “fascismo” de Trump e Bolsonaro, mas nada fala sobre a verdadeira campanha de disseminação de ódio e violência promovida pela esquerda radical, e com verbas de Soros e apoio retórico de Obama, Hillary e CNN, está apenas demonstrando sua incrível seletividade, e não pode posar como alguém realmente preocupado com a intolerância e a morte da democracia.

Rodrigo Constantino

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