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A ascensão meteórica de quem joga para plateia e o custo da independência
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“Eu e meu público nos entendemos muito bem: ele não ouve o que digo e eu não digo o que ele gostaria de ouvir.” (Karl Kraus)

“A coisa mais rara de se encontrar é o fato de existir quem alie a razão ao entusiasmo.” (Voltaire)

A fórmula mais fácil para angariar rapidamente seguidores e curtidas é escolher um “time” político bem definido e passar a jogar para a plateia de torcedores fanáticos, ou seja, pregar para os já convertidos da seita.

O “encantador de asnos” fez isso, por exemplo, com grande sucesso. A estratégia, do ponto de vista numérico, surtiu efeito, e o economista já foi citado até pelo ex-presidente FHC em crítica à reforma previdenciária. Virou celebridade instantânea na esquerda, aderindo até ao protesto dos “estudantes”. Era um ninguém no mercado financeiro, e agora já pode se candidatar para algum cargo político se quiser.

Mas claro que isso não ocorre apenas na esquerda. Vemos na direita nacional-populista muitos que seguiram o mesmo caminho. Em vez de fazerem análises mais isentas, com críticas ao que consideram erros e elogios ao que julgam acertado, adotam postura de cheerleader, bajulando o presidente e seu guru enquanto demonizam qualquer um que ouse critica-los.

Jogam ossos aos chacais, alimentando-se da revolta popular, da insatisfação de boa parte da população com a realidade atual, não apresentando soluções concretas, mas apenas atiçando essa indignação contra “tudo e todos”. São agitadores de massas que agem de forma irresponsável, jogando lenha na fogueira, querendo ver o circo pegar fogo.

Mas conseguem uma ascensão meteórica nas redes sociais, pois falam de forma estridente para a bolha, e passam a ser reverenciados por aqueles que buscam apenas confirmação para seus sentimentos, não argumentos para reflexão. Quando há um clima tão polarizado e tenso como o atual, a coisa mais difícil é manter alguma frieza e cautela, sem aderir cegamente a um dos lados.

Na disputa entre comunismo e fascismo, muitos liberais, como Raymond Aron, permaneceram independentes, mas pagaram um alto preço por isso. Foram massacrados publicamente por ambos os extremos. Se você tentar seguir essa boa receita hoje, será acusado de “isentão”, de ser membro da “isentosfera”, ou seja, é preciso estar totalmente ao lado do governo ou então será um inimigo, um comunista.

O tempo não será gentil com quem tem instigado essa postura intransigente. Claro, muitos contam com a pouca memória das pessoas. Mas na era das redes sociais, nós deixamos rastros. As mensagens estarão lá, para quem quiser checar. Quem troca o raciocínio independente pelos aplausos da turba do momento pode conquistar muitos “likes”, mas será lembrado à frente por sua conduta populista e irresponsável.

A independência tem um custo, especialmente no curto prazo, quando as tribos radicais dominam a cena. Quem faz análise em vez de torcida e quem escreve com argumentos em vez de jogar para a plateia perderá seguidores, será detonado pela militância virtual de ambos os lados, mas tem a consciência tranquila de não ter sucumbido à pressão do imediatismo. O tempo é o melhor amigo da razão.

Rodrigo Constantino

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