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Fernando Holiday não é negro para os coletivistas, pois é liberal...
Fernando Holiday não é negro para os coletivistas, pois é liberal...| Foto:

O coletivista é aquele que pega uma característica nossa – classe, raça, sexo – e a eleva ao patamar de única relevante. Ao menos no discurso. O marxista só enxerga classe, o racialista só vê raça, e a feminista só pensa em sexo (ou gênero, termo que preferem). Mas digo que é no discurso pois, no fundo, todos esses movimentos coletivistas são obcecados mesmo é com o socialismo, querem o poder estatal, e não ligam para os indivíduos nem mesmo dos coletivos que alegam defender.

É por isso que marxistas precisam chamar de “traidores de classe” aqueles trabalhadores “proletários” que não querem saber de revolução comunista, e sim de melhores condições de trabalho dentro do capitalismo. É por isso que feministas odeiam uma mulher “empoderada” como Thatcher, ou ignoram Condoleezza Rice. E é por isso que os líderes dos movimentos raciais detestam negros independentes, liberais, que rejeitam a narrativa de vítima que clama por mais privilégios estatais.

O frei David Santos é um ótimo exemplo dessa postura. Ele fala sempre em negros, em mais espaço para os negros, em cotas para negros, na necessidade de um presidente negro (como se Nilo Peçanha não tivesse existido). Em artigo publicado hoje no GLOBO o “especialista em ações afirmativas” destilou toda a sua visão racial de mundo, querendo criar uma nação negra dentro da nação brasileira, e fazendo isso enquanto fala em nome da “diversidade” e da “pluralidade”:

É desagradável para nós ver a classe política de direita, esquerda ou centro usando abusivamente o povo negro. Nas últimas cinco eleições, cada partido investiu suas verbas partidárias com equidade em quantas Marielles e quantos Obamas? Está na hora de termos um presidente negro! O surgimento da liderança Marielle só foi possível porque houve investimento sólido a partir da verba partidária.

[…] Está na hora de termos um presidente negro! Nossas mentes e corpos negros, vivos, são manipulados para extrair votos. Nossos corpos, mortos, são usados para prestar contas à classe dominante, via estatísticas, de que a polícia está agindo. Querem ainda mais: “salvo-conduto” para continuar matando corpos negros. 

[…] O povo negro está tomando as rédeas de suas vidas. Isto faz pairar no ar um medo da tomada de consciência, e querem proibir este avanço. Entramos nas universidades e agora poderemos falar por nós mesmos! 

[…] Mais uma vez, irão nos excluir e usar nossos votos negros. Absurdo! São partidos castradores de lideranças negras. Basta de sermos usados pelos velhos partidos, PMDB, PSDB, PT, DEM, etc. Queremos novas posturas!

[…] Queremos colocar nossas energias para apoiar movimentos plurais que levem em consideração o fato de que somos 54% do Brasil! Denunciaremos todos os movimentos novos com vícios velhos — que não estão investindo para fazer surgir lideranças negras nos cenários estaduais e nacional! Criamos a plataforma Engaja Negritude e vamos dizer não a todos os que mantêm vícios velhos. Queremos determinação, na construção de um Brasil melhor, plural e diversificado, no respeito a possibilidades iguais!

Frei David Santos, o “negão” que só enxerga raça pela frente

Poucas vezes se viu tanto ponto de exclamação em um só artigo, o que pode deixar transparecer o tom meio autoritário do autor. David Santos não acha que negro deva votar em branco, pois isso seria exploração. Ele acha que negro só pode votar em negro, donde se conclui que branco deveria votar só em branco? Esse segregacionismo racial é uma das coisas mais toscas e podres, abjetas mesmo, que alguém poderia pregar para um país miscigenado com o nosso (o próprio David Santos seria considerado um branquelo perto de certos negros).

Ele finge atacar todos – direita, esquerda e centro – mas quando cita os exemplos louváveis – Marielle e Obama – fica claro que o homem tem lado, e é o lado bem esquerdo. Por que não citou o jovem vereador liberal Fernando Holiday, do MBL? Holiday não é negro o suficiente? É mais negro do que David Santos! Então qual o motivo do “esquecimento”? Ah sim, claro, Holiday não é… de esquerda! Ele não prega mais estado, mais cotas, mais poder concentrado nas mãos de ativistas como o próprio David Santos, não é mesmo?

Outro negro que preferiu o caminho do estudo, da meritocracia e da independência, em vez desse vitimismo oportunista de David Santos, foi Paulo Cruz, professor de filosofia e colunista da Gazeta, que por acaso publicou um excelente texto hoje refutando as bobagens mencionadas por David Santos sobre estatística de crimes. Eis um trecho:

Ou seja, não há genocídio de jovens negros, não há racismo nos números. O que há é uma situação circunstancial na qual os criminosos comuns vêm das regiões mais periféricas, onde está a esmagadora maioria da população miscigenada; que são, enfim, os brasileiros. Racializar isso é o mesmo que dizer que no Japão a maioria dos criminosos é japonesa. É, no mínimo, exagero ideológico; mas, no fim das contas, é racismo, mesmo.

Sem contar que as características de quem mata e quem morre são as mesmas: negro, jovem, da periferia. Mas, como uma parcela baixíssima de crimes são solucionados no Brasil, as informações sobre os criminosos foge à estatística. No entanto, há dados que inferem essa ligação, como afirma  o próprio Nexo Jornal e um relatório recente do IPEA, que diz: “os jovens aparecem nos dois lados da equação de crime, como vítimas e como perpetradores”. Mas esses dados não interessam aos ideólogos, não é mesmo?

E mais: os políticos e os empresários corruptos, presos pela Polícia Federal nos últimos anos, estão aí para nos mostrar que bandidagem não é determinada pela classe social (ou pela cor), mas pela falta de caráter e pela ganância.

Paulo Cruz, que veio de baixo até receber honrarias, tudo por mérito próprio e sem vitimismo

Paulo Cruz lida com fatos, dados concretos, lógica argumentativa, razão. Está num patamar bem diferente de David Santos, que lida com gritos e palavras de ordem, sensacionalismo, coletivismo, emoções. Paulo Cruz quer trazer mais luz ao debate, enquanto David Santos quer produzir calor. Um quer, como desejava Martin Luther King Jr., julgar as pessoas com base em seu caráter; o outro quer julgar com base em sua cor de pele, sendo que, como vimos, a “cor certa” precisa bater com a “ideologia certa” também.

O Brasil não precisa de um presidente negro, como não precisava de uma “presidenta”. O Brasil precisa de mais gente decente, honesta, patriota, racional. O Brasil precisa de mais indivíduos como Paulo Cruz, que recebeu a Ordem do Mérito Cultural por mérito próprio, e de menos populistas como frei David Santos.

Rodrigo Constantino

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