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Bolsonaro faz “brincadeira” sobre juros do BB: populismo de direita pode?
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“Eu apenas apelo, Rubem (Novaes), me permite fazer uma brincadeira aqui. Eu apenas apelo para o seu coração, para o seu patriotismo, para que esses juros, tendo em vista você parecer ser um cristão de verdade, caiam um pouquinho mais. Tenho certeza de que as nossas orações tocarão seu coração”, disse Bolsonaro.

Meu primeiro comentário foi: “Dilma, és tu?! Veremos bolsonaristas passando pano em mais esse absurdo populista? Devo me abster de criticar pois ainda é cedo ou porque há o risco petista, sendo que é Bolsonaro quem está no poder?”

Não deu outra, claro. Alguns “leitores” ficaram revoltados, mas a reação se dividiu em duas estratégias, ainda que numa só forma (ataques revoltados, chiliques, xingamentos): alguns reforçaram que era apenas uma brincadeira, enquanto outros aplaudiram a decisão de interferir na taxa de juros.

Afinal, os acionistas já teriam ganhado muito dinheiro, e é preciso dar uma mãozinha ao setor produtivo. Não importa que taxa de juros seja um preço de mercado. Não importa que medidas populistas como essa tenham feito grande estrago no passado. A intenção do presidente é nobre e merece apoio.

Bolsonaristas, em suma, adotam duas táticas de defesa do indefensável: 1) era só uma “brincadeira”, como se não tivesse efeito uma “brincadeira” dessas, sabendo-se que a ingerência governamental nas estatais existe, que o próprio presidente se meteu recentemente até em propaganda do BB, que essa interferência é fruto do populismo e sempre produz resultados péssimos; 2) tem mais é que reduzir os juros na marra mesmo, pois o banco é estatal, não precisa focar nos acionistas, dar lucro, e o setor produtivo precisa de ajuda.

Decidam-se, ao menos: foi só brincadeira “inofensiva” ou é para mandar cortar a taxa de juros mesmo? Não dá para ser ambos…

PS: Alguns “leitores” têm reclamado que meus textos agora dão preguiça (só aqueles que criticam o governo, irônica coincidência). Um deles disse isso para um texto que sequer era meu! Entendo: dá preguiça mesmo ler quem escreve de forma independente, com argumentos, para despertar reflexões críticas no leitor. Essa turma preguiçosa não quer nada disso. Quer apenas alguém que diga “Amém” para tudo que o “mito” faz, mesmo quando não dá para distinguir direito se foi ele ou Dilma quem fez. Parece que o populismo de direita é legal, e só o de esquerda não presta.

PS2: Essa “brincadeira” e a reação nos mercados, com queda imediata das ações, demonstram como a única solução definitiva para se evitar riscos populistas é privatizar todas as estatais. Populistas, da esquerda à direita, querem sempre um estado para chamar de seu. Não veem problema na ingerência, desde que seja do seu governo, para seus fins “nobres”.

PS3: O presidente do BB é o liberal Rubem Novaes, meu amigo de longa data. Essa “brincadeira” do presidente Bolsonaro o coloca em péssima situação. Se julgar que cabe uma queda na taxa de juros por fatores técnicos, ficará evidente que reduziu os juros por pressão populista do chefe. Com essa “brincadeira”, Bolsonaro conseguiu apenas impedir uma redução dos juros, se Rubem quiser preservar a imagem de independência e gestão técnica. Parabéns, presidente!

Rodrigo Constantino

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