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As convicções filosóficas da Gazeta do Povo: conservadores e liberais ganham voz
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A Gazeta do Povo, numa atitude corajosa, decidiu divulgar suas convicções filosóficas que norteiam a linha editorial do grupo. Trata-se de uma verdadeira aula de filosofia política, com um ótimo resumo das principais bandeiras consideradas “de direita”, ou com viés liberal-conservador.

O rótulo talvez seja o menos importante aqui. Sou presidente do Conselho do Instituto Liberal e já fui “acusado” por alguns libertários de ser conservador, o que não ligo, pois entendo que vários liberais clássicos entenderam a importância dos valores morais para uma sociedade livre. Liberais não devem confundir libertinagem com liberdade.

Dito isso, creio que vale a pena ler o material na íntegra, sem preconceitos. É riquíssimo em fontes dos mais importantes pensadores da história. Eis um breve resumo:

Por que apresentar nossas convicções?

Você tem acompanhado as inovações que lançamos recentemente e iremos ainda lançar nas próximas semanas. Inovações de conteúdo, como a parceria com novos colunistas e a ampliação de nossa equipe em Brasília; e tecnológicas, como a nova versão do nosso site que deve ir ao ar nos próximos dias, equipado de geolocalização e de uma ferramenta de experiência social. Procuramos, assim, atendê-lo cada vez melhor, acompanhando cada vez mais de perto sua própria dinâmica de trabalho e de hábitos de informação.

Mas, se mudamos em vários aspectos, queremos, por outro lado, reafirmar nossa fidelidade às convicções que nos trouxeram até aqui. E nesse jogo entre mudança e permanência, entre amor ao novo e fidelidade ao essencial, a Gazeta do Povo começa a publicar – o que é novidade – um conjunto de textos que explicitam de uma maneira um pouco mais sistemática nossa visão de mundo, que é nosso DNA imutável.

O poder da razão e do diálogo

Se não há verdades objetivas, um núcleo central de princípios que não podem estar sujeitos a relativização, abre-se espaço para um voluntarismo que se manifesta individualmente – a escolha quanto a visões de mundo, ao que é essencial para o homem, aos valores, se torna uma questão de decisão não racional, insuscetível de compartilhamento por via de argumentação – e coletivamente, quando se consagra a vontade da maioria como “verdade” ou diretriz para a vida, sem espaço para a salvaguarda de direitos fundamentais das minorias, que precisam estar fora da ditadura da maioria.

[…]

Se a disposição ao debate estiver de mãos dadas com o respeito à autonomia do outro (que se fundamenta, por sua vez, na convicção forte de que a dignidade do homem requer que a busca da verdade e a orientação da própria vida sejam alcançadas pelo esforço próprio e jamais impostas de fora) e com a disposição de retificar quando se percebe o erro, será possível evitar diversas armadilhas derivadas do voluntarismo relativista, como a intolerância contra as ideias que não estejam na moda – em outras palavras, a opressão do politicamente correto. A ascensão, inclusive no meio universitário, do que se convencionou chamar de “microagressão” é prova de que essa opressão está atingindo um nível tal que até mesmo o ambiente que deveria ser o mais propício à discussão e à busca da verdade está se fechando a essa possibilidade.

As grandes questões da humanidade, é claro, não se resolvem em questão de minutos. Algumas delas consumiram vidas inteiras de labor filosófico e séculos de debates. Mas a complexidade da realidade não deveria servir para desanimar quem se entrega a essa busca. A realidade é complexa, inesgotável, mas não inatingível.

A dignidade da pessoa humana

Quando falamos de dignidade do homem, referimo-nos a algo que é intrínseco: vem do próprio fato de ser humano, vem de dentro. Não é concedida – e nem retirada – por ninguém: nem pelos que nos rodeiam, nem pelo Estado, nem pela cultura, nem pelo consenso social. E não é coletiva, mas individual: não falamos da dignidade “da humanidade” em geral, mas de cada pessoa. Cada ser humano, único e irrepetível, é digno de respeito.

[…]

Por mais que reconheçamos nos animais atributos como a inteligência, essas características que mencionamos são únicas do gênero humano. A noção de “pessoa” está diretamente vinculada a essas características: o homem nunca é algo; é sempre alguém – mesmo quando o exercício de sua autonomia não pode ser plenamente exercido; pensemos, por exemplo, em pessoas cuja situação as impede de realizar escolhas, como um paciente em coma ou alguém tão mergulhado nas drogas que já perdeu o controle de si mesmo. Elas não são menos dignas, menos “pessoas”, que ninguém.

O alcance da noção de dignidade da pessoa humana

A miséria material, no entanto, não é a única ameaça à dignidade humana. A miséria moral, observada quando uma comunidade já perdeu completamente a noção do certo e do errado, é tão ou mais grave quanto a miséria material. Ela cria as condições para que as pessoas tomem livremente atitudes que não condizem com sua dignidade ontológica – pois nem todo ato humano livre pode ser reconhecido como meritório ou justificável simplesmente por não prejudicar os direitos e liberdades alheios. O uso de drogas, por exemplo, pode ser incluído no rol das atividades degradantes, por seus efeitos amplamente conhecidos na saúde física e mental de seus usuários, e pelo dano que causa à própria liberdade humana ao retirar (ainda que temporariamente) a autonomia daqueles que a consomem. A pornografia e a prostituição são outros exemplos desse tipo de comportamento porque minam, lenta e inconscientemente, a autoestima e a noção do valor do próprio corpo, valor este que jamais pode ser auferido em termos monetários. Uma visão positiva do ser humano nos leva a procurar a superação de todas essas situações e a exaltar aquilo que temos de melhor: a capacidade de refletir sobre nós mesmos, de buscar o bem (o nosso, o daqueles que nos são próximos, o da sociedade como um todo), de amar.

Defesa da vida desde a concepção

O nascituro é o mais indefeso e inocente dos seres humanos, e por isso necessita de uma proteção ainda mais enfática, pois é incapaz de, por si só, fazer valer os seus direitos.

Para além de qualquer outra consideração política, criminal ou sociológica, é indubitável o fato de que o aborto é a eliminação deliberada de um ser humano, cuja humanidade – com o perdão da redundância – se baseia não em convicções filosóficas ou religiosas, mas na própria ciência, que atesta o surgimento de um novo indivíduo, com código genético único, desde o encontro dos gametas masculino e feminino.

[…]

Mas é imprescindível lembrar que uma defesa enfática da necessidade de proteger a vida humana desde a concepção não exclui de forma alguma uma atitude de compaixão para com o drama das mulheres que, pelas mais diversas razões, julgam não ter outra opção a não ser o aborto – na verdade, a defesa da vida exige esse olhar compassivo. Mas não consideramos que a solução para o problema seja tornar esta mãe responsável pela eliminação do próprio filho, um ato irreversível que muitas vezes deixa sequelas psicológicas profundas.

Ética e vocação para a excelência

Marco Aurélio está se referindo às virtudes, e a famosa obra de Aristóteles Ética a Nicômaco é exatamente isso: um tratado sobre as diferentes virtudes, qualidades que se adquirem, que se forjam e que, em todas as épocas, foram admiradas (ainda que por vezes se desse mais atenção a umas que a outras). A elas se refere à ética e, para toda a experiência do ocidente e boa parte do oriente, as virtudes foram vistas como o fim da educação do homem.

E isso nos traz de volta ao tema da realização e da felicidade, que, para Aristóteles, consiste em ser aquilo para o qual se foi chamado – o famoso “torna-te aquilo que és” do poeta Píndaro. Isto é, justamente a excelência na virtude. O homem cabal é, sobretudo, o homem virtuoso, mesmo quando seus dotes intelectuais ou sua formação cultural não sejam os melhores ou mais completos. E, se as virtudes são inúmeras, ainda mais variados são os caminhos para a excelência – tantos quantos há seres humanos, poderíamos dizer. Cada pessoa, com seus talentos e circunstâncias, tem sua maneira particular de atingir este ideal. O que une todos esses caminhos é a certeza de que na vivência das virtudes em alto nível (a eupraxia, ou o agir bem) está o caminho para a felicidade. Recuperar essa ética da excelência é um passo importantíssimo se queremos construir uma sociedade preocupada com o bem comum.

O valor da família

O ser humano tem uma dignidade intrínseca. Cada pessoa é merecedora de um grande respeito apenas pelo fato de ser humana; mas em quantos lugares essa verdade é efetivamente colocada em prática? Não muitos, a julgar pela observação cotidiana. Mas existe, sim, um ambiente em que cada um é querido pelo que ele é, independentemente de sua utilidade ou de seus atributos. Esse ambiente é a família.

O homem é um ser em formação; não vem pronto. E, ao mesmo tempo, é um ser social. Seu desenvolvimento exige a contribuição dos demais, e a principal estrutura básica de apoio é a unidade familiar, na qual cada um encontra o espaço adequado para seu aprimoramento.

[…]

Compreendendo as dimensões da dignidade humana e do chamado à excelência, pode-se entender o papel primordial da família. Ela é o ambiente mais propício ao desenvolvimento pessoal de seus membros com vistas à construção do bem comum, e justamente por isso ela precisa contar com a proteção ativa da sociedade e do Estado. Isso significa reconhecer o dom que as famílias oferecem quando estão abertas à vida e, por meio dos filhos que geram, buscam dar à sociedade novos membros conscientes do valor de cada ser humano e da necessidade de uma vida virtuosa para atingir a realização pessoal e a felicidade própria e dos demais. Infelizmente, difundiu-se uma mentalidade antinatalista que vê os filhos principalmente como fonte de gasto financeiro e de desgaste físico e emocional. É preciso resgatar urgentemente a convicção de que os filhos são valiosos pelo que são.

[…]

Uma sociedade que aposta na família, que se esforça para evitar a desagregação e a fragilização dos lares, que valoriza os filhos como uma verdadeira riqueza e que, na medida do possível, se inspira nessas características positivas da família ao formular suas políticas públicas tem tudo para ser uma sociedade saudável. Famílias fortes levam a sociedades fortes.

A importância do casamento

Poucas instituições são tão propícias para que o ser humano possa desenvolver suas potencialidades e virtudes na busca da excelência ética quanto o casamento. No matrimônio, o homem e a mulher, seres inacabados, praticam a generosidade pela entrega mútua e exclusiva, aberta ao surgimento de novos indivíduos. O casamento, quando bem compreendido, é o antídoto perfeito contra o egoísmo – e, quando mal compreendido, acaba degenerando em um “egoísmo a dois” que é justamente a antítese daquilo que se procura cultivar em uma união saudável.

[…]

Casamentos fortalecidos são do interesse não apenas dos cônjuges e dos filhos, mas de toda a sociedade.

O caminho para tal, é preciso dizer, não está na imposição jurídica, mas em uma necessária e verdadeira educação a respeito do significado do casamento, para que mais pessoas compreendam o desafio apaixonante que reside nesta união. Desafio, porque se trata de crescer nas virtudes – das quais uma das mais importantes é a fidelidade, sem a qual não se pode construir a confiança mútua que está na base não apenas do relacionamento conjugal, mas também de toda relação que constitui uma sociedade. Apaixonante, porque mexe com nossos anseios mais profundos e nos permite atingir a realização e a felicidade que todos buscamos.

A valorização da mulher

É justamente a valorização da mulher e do homem em sua singularidade e complementaridade que exige a recusa de um traço fundamental da chamada teoria ou ideologia de gênero: a negação efetiva da diferença sexual. Um feminismo que verdadeiramente deseja sublinhar a força da identidade feminina se contradiz quando cede à liquidez de uma teoria que já não reconhece a existência dessa mesma identidade; de uma teoria que afirma, deslegitimando-a, que essa identidade é artificial e criada apenas culturalmente. Ora, que a singularidade do feminino foi formada, sem dúvidas, também culturalmente – além de por seu substrato genético – pode ser afirmado sem problema e isso em nada lhe retira de valor e beleza. A formação cultural da identidade feminina, que tem um fundamento na realidade psicofísica, precisa ser refletida, depurada, aprofundada, mas não cancelada a partir de apriorismos – o que nem sequer é possível.

[…]

É preciso, enfim, trabalhar por uma sociedade em que as mulheres possam ocupar, tanto quanto os homens, lugares sociais onde exerçam influência. Mas também é necessário remover os obstáculos que impedem as mulheres que assim o desejam de engravidarem e serem mães, pensando em novas soluções que tornem a maternidade mais compatível com a vida profissional, tanto quanto a paternidade o é. Mais básica ainda é a construção de uma sociedade em que a mulher se sinta segura e até mesmo protegida, nunca em um sentido paternalista, mas como afirmação de sua liberdade. Uma sociedade, enfim, que não apenas reconheça de maneira irrenunciável e concreta a dignidade da mulher enquanto pessoa, como também valorize a contribuição preciosa à família, à cultura, à política, à ciência e à economia que só ela pode oferecer.

Ainda existem vários outros tópicos, desenvolvidos com embasamento e profundidade, que merecem ser lidos na íntegra. Mas o leitor já pegou o jeitão da coisa. Trata-se, sem dúvida, de uma mensagem liberal com viés conservador, de boa estirpe. Vários textos do meu blog vão ao encontro dessas mensagens.

Eu já tinha dado uma olhada no material que serviu de esboço para esses textos, quando estive na sede da Gazeta há cerca de um ano. Tinha, então, fechado uma coluna quinzenal no jornal, e fiquei muito bem impressionado, não só com esses textos, como ao conhecer pessoalmente o editor Márcio Antonio Campos e o proprietário do grupo, Guilherme.

Diante dessas convicções, fica mais fácil o leitor entender por que a Gazeta me escolheu como âncora desse novo projeto, e por que eu também escolhi a Gazeta como destino do meu blog. Falamos a mesma língua. Queremos resgatar os mesmos valores morais, lutar por um País com mais dignidade e liberdade, com mais respeito ao indivíduo. Enfrentamos, nessa batalha, obstáculos evidentes de quem quer gritar, mas não quer dialogar, de quem quer impor sua visão de mundo, mas não quer conversar.

A Gazeta tem em seu quadro de colunistas gente como Alexandre Borges, Bruno Garschagen, Flavio Quintela, Leandro Narloch, Ricardo Amorim, Carlos Ramalhete, Lhuba Saucedo, entre tantos outros. Seus editoriais são excelentes, via de regra. O site tem dado ótimo destaque aos meus artigos. O espaço que a direita liberal e conservadora está tendo é louvável, e merece apoio daqueles que acreditam nesses mesmos princípios e ainda não desistiram de lutar por um Brasil melhor.

Ao me contratar e também outros colunistas, o grupo seguiu a velha máxima do mercado financeiro: “put your money where your mouth is”. Ou seja, apostou com o bolso naquilo que suas palavras pregam, o que já é coisa rara no país da retórica e da hipocrisia. Seria fantástico se todo cidadão brasileiro de bem fizesse a mesma coisa: colocasse suas fichas naquilo que realmente defende. Só assim vamos ter chance de mudar alguma coisa para valer. Palavras são baratas, diz o ditado. Falar é fácil, diz outro. O importante é fazer.

A Gazeta investiu pesado nessa ocupação de território mais à direita, assumiu riscos, deu a cara à tapa. Pergunto ao meu leitor: como não retribuir esse ato corajoso? Como não mostrar aos demais proprietários de veículos de comunicação qual o caminho que realmente queremos seguir? E do ponto de vista individual mesmo, como não se tornar assinante de um site com tanta gente boa, para obter informação e opinião independente de verdade?

Se você quer fazer parte desse time que vai ajudar a endireitar o Brasil e a resgatar valores perdidos, diretamente da “República de Curitiba” para todo o Brasil, então basta desembolsar R$ 9,90 por mês, numa promoção que a Gazeta criou para esse novo projeto. Aqui está o link para a sua assinatura. Muito obrigado por acreditar no Brasil e na gente. E aproveito para agradecer publicamente a mesma confiança da própria Gazeta, que nos concede esse valioso espaço.

Não aceito derrotismo ou o fatalismo de que nosso País não tem jeito. Tem sim. Mas a mudança não vai cair do céu. Ela começa com cada um de nós fazendo sua pequena parcela…

Rodrigo Constantino

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