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Coragem e loucura: o papel do medo nas nossas escolhas. Ou: Safatle rumo ao "desconhecido"
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Lenin também foi muito “corajoso” e mergulhou seu povo no “desconhecido”. O resultado: milhões de mortos!

Se um sujeito resolve pular do alto de uma montanha sem paraquedas, ele é corajoso? Creio que poucos usariam esse termo para definir tal atitude. Maluco, talvez? Inconsequente? Irresponsável? Suicida? Enfim, várias outras características vêm à frente de corajoso para quem toma uma atitude claramente destrutiva.

Coragem, disse Mark Twain, é resistir ao medo, controlar o medo, não a ausência do medo. Quem não tem medo pode muito bem ser um desequilibrado, não um corajoso. O homem que resolve desafiar a lei da gravidade e pula do alto do prédio achando que pode voar não é corajoso; é um imbecil.

Pensei nisso ao ler a coluna de Vladimir Lenin, digo, Safatle na Folha hoje (sim, eu leio essa turma, pois sigo a recomendação de Sun Tzu e tento conhecer os inimigos da liberdade, logo, meus inimigos). Safatle, do conforto de sua posição acadêmica, aplaude a “coragem” dos gregos, e vibra com o povo que ousou desafiar os tecnocratas europeus.

Para o socialista, são infundadas as preocupações dos que alertam para os perigos do desconhecido à frente. Afinal, os gregos sabem que é fundamental deixar o medo de lado. Diz o socialista:

Contra tudo isto, o povo grego disse “não”. Pois eles têm um governo que sabe como a política é a definição clara do inegociável, do que não estamos dispostos a negociar. Um governo que mostrou como a força popular é a maior arma contra a arrogância destrutiva da tecnocracia. Dizem que a Grécia saltou no desconhecido. Mas o desconhecido só é ameaçador para aqueles que têm medo. Desde Ulisses, os gregos sabem que a verdadeira vida, esta que vence desafios e cria, é uma vida sem medo. 

O desconhecido só é assustador para aqueles que têm medo, diz o socialista. Mas é mesmo desejável não ter medo do desconhecido? Até que ponto isso é um ato de coragem, e até que ponto isso se transforma num comportamento irresponsável? A criança que desconhece os perigos da vida não demonstra medo em fazer um monte de coisas fatais. Ainda bem que os pais estão lá para lhes ensinar e impor limites. Quando não estão, acidentes mortais podem ocorrer.

Safatle acha nobre uma vida sem medo. De preferência a dos outros, para que ele possa assistir o desenrolar dos acontecimentos de camarote, do conforto de seu emprego garantido. As aventuras dos outros parecem emocionantes, como um filme só que mais real. Safatle vai se divertir com mais essa experiência socialista rumo ao “desconhecido”…

Não. Quem tem bumbum tem medo, diz o ditado popular levemente adaptado para manter o decoro perante as senhoras que porventura me leem. Fugir do medo, ignorar o medo, não é uma atitude responsável. Conhecer o medo, saber que ele existe e que tem sua razão de ser, e ainda assim tentar controlá-lo, isso faz muito mais sentido, é algo bem mais maduro e responsável.

Não bastaram as inúmeras experiências socialistas dos “aventureiros corajosos”, que terminaram sempre em incontáveis cadáveres, além de muita miséria e escravidão. Os socialistas não desistirão jamais, pois eles amam mais a utopia do que os seres humanos de carne e osso. Eles não ligam para os gregos; eles querem alimentar uma ideia, um sonho infantil, ainda que seja o pesadelo real para milhões de pessoas.

A Grécia caminha rumo ao desconhecido apenas parcialmente. Boa parte do que vai acontecer, caso ela saia mesmo do euro e resgate o dracma, pode ser bem previsível. O país terá uma hiperinflação, o caos social e econômico será ainda maior, e a democracia estará ameaçada. Insanidade, disse Einstein, é repetir tudo igual e esperar resultados diferentes.

Claro que os socialistas que hoje vibram com a “coragem” dos gregos se farão de sonsos depois, culpando novamente o mercado, o capitalismo, os alemães, os judeus, os astros, o neoliberalismo, o “socialismo real”. Tudo para evitar o confronto com a realidade, com os fatos.

Em vez de Safatle aplaudir a ausência de medo por parte dos gregos, ele faria um bem à humanidade se demonstrasse não ter medo de nada realmente, e pulasse do alto do abismo rumo ao “desconhecido”…

Rodrigo Constantino

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