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A cultura do empreendedorismo e o ambiente amigável de negócios: ambos ainda faltam ao Brasil
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Em uma entrevista ao GLOBO, o diretor da Endeavor, Juliano Seabra, fala sobre empreendedorismo no Brasil, alegando que temos os requisitos culturais necessários para o seu fomento e que as coisas vêm melhorando ao longo do tempo. Abaixo, alguns trechos, e volto em seguida:

Quando a Endeavor veio para o Brasil, em 2000, o advogado não conseguiu registrar o nome da empresa como “Estação de Fomento ao Empreendedorismo” porque a palavra empreendedorismo não existia no dicionário. A situação era diferente. Graças ao trabalho de muita gente, a realidade começou a mudar rapidamente.

[…]

O espírito de criar um negócio para gerar impacto na sociedade está borbulhando. Essa questão floresceu rapidamente aqui justamente por causa de algumas características prévias do nosso povo: criatividade, espírito livre e desobediência às regras do jogo. Esses são atributos presentes nos grandes empreendedores e que também são muito recorrentes na cultura do brasileiro.

[…]

Essa galera de 20 e poucos anos tem uma cultura de tomada de risco muito mais aberta do que a das gerações passadas, que viviam com o fantasma da inflação. Eles se arriscam mais porque têm menos medo. É preciso coragem para empreender. Por isso seria difícil o empreendedorismo se instalar aqui antes de uma guinada na economia. No entanto, é um investimento que demanda paciência. A lógica de uma cultura empreendedora é errar e tirar lições do equívoco, para que se acerte no próximo projeto. Como a maioria ainda está no início, é preciso absorver as lições que as falhas trazem e não desistir do propósito inicial.

Juliano fala ainda da necessidade de ter ambição, do planejamento e da força de vontade, negando que exista o “empreendedor nato” (há controvérsias). Alerta também para os perigos de tratar o empreendimento como um cassino, colocando tudo a perder em tacadas sem sentido que seguem modinhas. Comenta sobre a paixão pelo negócio, fundamental para seu sucesso, como num casamento. Fala sobre a consciência do que pode dar errado, e conclui que se trata de algo um tanto solitário.

Como um grande entusiasta do empreendedorismo, fico feliz de ver um diretor da Endeavor, que faz um trabalho bom e sério há anos nessa área, dando entrevista ao GLOBO, num espaço normalmente tomado por baboseiras “progressistas” (outro dia mesmo era um sujeito defendendo que a “identidade de gênero” fosse parte do currículo escolar). Ele toca nos pontos certos, em minha opinião. Mas gostaria de acrescentar algumas coisas.

Em primeiro lugar, entendo o que ele quer dizer com o brasileiro ter essa cultura criativa e de desobediência, mas não estou nada convencido de que temos a cultura do empreendedorismo, o que é diferente. Após décadas de lavagem cerebral, com total domínio da cultura nacional pela extrema-esquerda, o empreendedor virou um vilão, um explorador, enquanto muitos olham para o estado como o salvador da Pátria e sonham com um concurso público e a estabilidade de emprego.

Quem cria riqueza acaba pouco louvado, enquanto aquele que apenas distribui a riqueza criada por terceiros, normalmente abocanhando um enorme naco no processo, recebe os louros da plateia, nome de rua, bustos em praça pública e a idolatria de um bando de ignorantes. Como disse o próprio FHC, o capitalismo não é muito valorizado em nosso país, pois o povo gosta mesmo é do estado (algo que está mudando aos poucos, felizmente).

O outro ponto que queria destacar é que a cultura empreendedora é necessária, mas não é suficiente, ela não basta. É preciso ter um ambiente amigável aos negócios, com menos impostos, menos burocracia, mais segurança jurídica e leis trabalhistas flexíveis. Se você colocar Michael Dell, Jeff Bezos e Bill Gates no Brasil, dificilmente sairá a Dell, a Amazon e a Microsoft do outro lado, pois a máquina de triturar negócios chamada governo não permite.

Logo, é um conjunto de cultura e instituições que faz toda a diferença. Não ter vergonha de errar, aprender com os próprios erros, arriscar, e admirar aqueles que assim o fazem é uma cultura essencial para o empreendedorismo deslanchar em qualquer sociedade. E ter regras claras, poucas amarras burocráticas, livre mercado, leis trabalhistas flexíveis, mão de obra qualificada e baixos impostos também é crucial como receita do sucesso.

Como podemos perceber, o Brasil ainda está muito distante de uma cultura e um ambiente empreendedores. Estamos começando a engatinhar no assunto, e não devemos relaxar achando que a criatividade e o espírito rebelde dos brasileiros são suficientes para colocar o país na rota do progresso. Não são. E sem a cultura empreendedora e as instituições adequadas, essas características podem muito bem ser até negativas, levar à malandragem e ao jeitinho, como cansamos de ver por aí.

Rodrigo Constantino

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