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Demolidor: a justiça é cega, mas enxerga muito bem no escuro
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Daredevil

Em meio a essa loucura que é uma mudança internacional, consegui finalmente terminar de ver a primeira temporada da série Daredevil, da Marvel. Muito boa. Muito, mas muito superior ao filme com Ben Affleck, aquele ícone da esquerda caviar que só vai ficar pior no papel de Batman mesmo. O novo Matt Murdock, o advogado cego que desenvolveu seus outros sentidos de forma absurda ao ter os olhos queimados por ácido num acidente, está excelente. O cego “enxerga” mais do que muita gente com visão perfeita.

Católico, criado por um pai boxeador um tanto “loser”, Murdock desenvolve habilidades especiais de luta, treinado por uma espécie de guru em situação parecida. Resolve colocar tais habilidades na luta contra o crime, para salvar Hell’s Kitchen do caos em que se encontra, tomada pelas máfias. Mas não o faz sem culpa, questionando-se o tempo todo até que ponto é legítimo usar tais meios para um fim nobre. Não quer matar ninguém.

Do outro lado há Wilson Fisk, o líder do bando, que fora um menino gordinho que sofria bullying e tinha um pai mais idiota ainda. Evitarei os spoilers, mas basta dizer que o pai não acaba bem, e ali o garoto se transforma no futuro rei do crime, um psicopata disposto a eliminar qualquer um que estiver em seu caminho. E qual é esse caminho? Aqui está uma das importantes mensagens: ele quer, ou acredita muito querer, limpar sua cidade do que há de pior, construir uma nova Hell’s Kitchen moderna, avançada.

É, em resumo, um ícone da tirania do bem. Ao se apaixonar por uma mulher chamada Vanessa, conhecemos o outro lado do monstro, o lado amoroso, romântico, carinhoso. Ele está seguro de que tudo que faz é um prol do melhor para a “sua” cidade. Nem que para isso tenha que corromper todos os políticos, policiais, promotores, ou se unir aos traficantes, fazer acordos com as máfias russa e japonesa, matar alguns inocentes no processo. É tudo pelo bem da cidade!

A história do Demolidor, um justiceiro, suscita a eterna questão de até onde é legítimo fazer justiça com as próprias mãos. Um liberal não gosta nada dessa ideia, pois defende o império das leis, o Estado Democrático de Direito, o devido processo legal inclusive para os piores criminosos. Mas um liberal realista reconhece como, na prática, é difícil manter esse ideal, ainda mais em um local em que o estado fracassou, pois dominado pelo crime que deveria combater.

Podemos usar como exemplo o caso recente do ciclista morto na Lagoa, no Rio. Gerou revolta em todos sua morte banal, sem reagir ao assalto, por uma bicicleta. O assassino, supostamente um “de menor” com várias passagens pela polícia, deverá estar solto em breve novamente, pois a lei, que deveria afastá-lo do convívio social para sempre, acaba por protegê-lo. O ECA é seu escudo contra a punição legal. O assassino, que parte da esquerda, dos sociólogos e jornalistas, tenta sempre transformar em “vítima da sociedade”, terá no próprio “sistema” seu aliado.

Como condenar, portanto, aqueles que não aguentam mais tanta podridão e desejam fazer justiça com as próprias mãos? Não é fácil, mas devemos. Até porque o Demolidor é um herói de quadrinhos, não um ser humano real. Na verdade, os justiceiros costumam abandonar aquela culpa católica que atormenta Murdock, e há uma linha tênue que os separa dos próprios criminosos que pretendem combater. Olham demais para o abismo, e acabam tragados por ele. Adotam a mesma máxima de Fisk e dos tiranos de todo tipo: seus “nobres” fins justificam quaisquer meios. É um caminho sem volta.

Devemos insistir sempre no fortalecimento das instituições, no caminho legal, mesmo que seja mais árduo, que pareça impossível, pois o próprio sistema se encontra dominado pelos bandidos. Quando surge um Sergio Moro da vida, ele precisa de todo o apoio e incentivo que for possível, pois ele é nosso “Demolidor”, mas lutando dentro do sistema, para tentar purificá-lo um pouco. Não fará milagres, mas poderá obter importantes conquistas.

A impunidade é o grande câncer da nossa sociedade. Os cidadãos ordeiros, trabalhadores decentes, não suportam mais bancar corruptos no poder e conviver com marginais e assassinos soltos, cada vez mais ousados, pois sabem que nunca serão punidos de verdade. Ninguém sério aguenta mais o culto ao coitadinho que nossos “intelectuais” vendem há décadas. Esse clima é propício para o surgimento de “justiceiros”, a população clama por seu “Demolidor”. Mas cuidado! Não devemos confundir ficção com realidade. A esquerda já faz isso o suficiente, e o estrago é grande.

Realisticamente falando, não vamos resolver esses problemas da noite para o dia, não vamos acabar com a impunidade num passe de mágica. Precisamos mudar a mentalidade, a cultura, as regras do jogo, tudo isso aos poucos, pois leva tempo mesmo. Aqui nos Estados Unidos, ninguém teria a cara de pau de defender um marginal assassino com várias passagens pela polícia por sua infância difícil. Se um moleque desses matasse um ciclista do nada a facadas, estaria frito, para sempre. E sem a necessidade de um “Demolidor”, pois as próprias leis fariam isso.

O Brasil não é um caso perdido, como muitos dizem por aí. É um caso complicado, reconheço, pois dominado há tempo demais pelo pensamento de esquerda, relativista, marxista, equivocado. Mas há luz no fim do túnel. Cabe a nós lutarmos para que essa luz não seja a de um trem vindo em nossa direção…

Rodrigo Constantino

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