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Desmascarando um “revolucionário de Facebook”
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Houve uma grande empolgação com a greve dos caminhoneiros entre os representantes da “direita jacobina”. Filipe G. Martins foi uma das vozes mais excitadas nas redes sociais em prol desses grevistas. Ele via um motorista qualquer lutando por preços menores de diesel e enxergava um George Washington. Olhava para outro caminhoneiro e lá estava Thomas Jefferson. Era a “Festa do Chá” tupiniquim, e o rapaz deve ter tido orgasmos ao imaginar a revolução que colocaria os poderosos de quatro – não a população, como aconteceu.

O transtorno eventual? Esse seria um preço a ser pago, quebrar uns ovos para fazer a omelete. Não importa que liberais e conservadores prudentes alertassem para o perigo, avisassem que o tiro sairia pela culatra. O jovem chamava a esses de “conservadores doutrinários”, incapazes de enxergar mais longe. Essa, diga-se, é a postura dele, retratada já por Hans Christian Andersen, em seu clássico A nova roupa do rei. Filipe é inteligente demais perto de nós, reles mortais. Só ele vê o “big picture”, as lindas roupas invisíveis do rei. Os marqueteiros concordam: o analista que acertou a eleição americana por estado!

Tudo balela, claro. O rapaz, como veremos, erra quase tudo, mas sabe fazer marketing. Até porque, como aprendeu com seu guru, lança mão de métodos marxistas dialéticos, então não tem como errar. Para usar um “filósofo” menos rebuscado, vamos para o futebol: a tática dele é a do Alex Muralha nos pênaltis: se joga para a direita e fica torcendo para a bola ir na direção dele. Dá errado 90% das vezes. Quando dá certo, ele grita: “sou o maior goleiro do universo!”

Em vez de reconhecer, com humildade, que errou feio na questão dos caminhoneiros, preferiu dobrar a aposta, culpar fatores exógenos e os próprios liberais, e ainda deu uma de Rolando Lero, fora a arrogância extrema, para me chamar de burro com afetada “elegância”:

O problema, Rodrigo, não é que você é um esquerdista infiltrado, mas que você possui uma obtusidade visceral e quase intransponível. Sua incapacidade de raciocinar a não ser em termos doutrinários; sua dificuldade de distinguir entre análise de situações concretas e juízos de valor; assim como sua completa incompreensão do que seja a política o tornam incapaz de se infiltrar até mesmo dentro dos seus pensamentos (se é que há algum) e de compreendê-los.

Até mesmo na hora de atacar alguém o jovem copia seu mestre! É o resultado de tanta bajulação e puxa-saquismo. Tem gente que precisa mesmo de um Osho para chamar de seu. Faltam apenas os xingamentos e a obsessão pelo ânus, mas não deixa de ser irônico notar que, quando o outro reage de forma mais firme, mostrando que ele não passa de um capacho do seu guru, ele associa isso a um “nervosismo”:

Pelo visto, seu guru fica “nervosinho” o tempo todo por falta de argumentos. Ao menos é a análise do seu mais “brilhante” discípulo. O grau de arrogância é espantoso, a empáfia é surpreendente, e isso para alguém que acabara de gozar praticamente com a “Festa do Chá” tupiniquim, liderada pelos caminhoneiros, numa greve que resultou apenas em dezenas de bilhões de prejuízo, caos social e uma morte, o tal “ovo quebrado” (por uma pedra, no caso). Eis a animação dele com o troço:

Se o leitor ficou com preguiça de ler tudo, vou dar uma resumida: Filipe Martins viu na greve dos caminhoneiros um movimento de direita, por menos estado, que rechaçaria qualquer infiltração de esquerda, que tinha uma pauta alinhada com a da população brasileira, e não um movimento de um grupo de interesses particular. Para ele, havia ali uma espécie de revolução americana libertadora, que demandava a ousadia e a audácia dos conservadores, em vez de prudência e cautela, que esses “doutrinários covardes e burros” pediam.

Deu tudo errado, claro, como hoje sabemos. O “filósofo do Facebook” sofreu de ejaculação precoce, algo não tão mais perdoável pela idade, pois já chegou aos 30. Mas em vez de adotar um tom humilde, reavaliar suas premissas, rever seu “raciocínio”, ele preferiu dobrar a aposta, partir para o ataque, e se esconder atrás da dialética marxista. Não deu certo porque não deixaram! Sempre tem uma desculpa para os fracassados, não é mesmo?

E esse é o tema principal desse longo texto. Desmascarar o discípulo do Osho da “direita jacobina” é apenas um meio para mostrar o modus operandi dessa turma enganadora. Veremos, a seguir, algumas análises desse “brilhante observador” da política mundial.

Nesse artigo publicado na Gazeta do Povo, por exemplo, Filipe ficou todo animado com a decisão de Theresa May de antecipar eleições. Conservadores sérios como Bruno Garschagen e Alexandre Borges alertaram, no mesmo jornal, que a decisão era um equívoco e poderia favorecer a esquerda. Filipe, o “profeta de Sorocaba”, pensava diferente: “Apesar do crescimento recente do Partido Trabalhista com a acertada estratégia de Corbyn, May deve garantir a maioria necessária no Parlamento para o Partido Conservador”.

“Em termos numéricos, isso significa que o Partido Conservador deverá obter algo entre 360 e 380 assentos, frente aos 330 assentos que o partido possui atualmente”, previu o oráculo. Nostradamus era mais esperto: fazia previsões vagas. Arriscar ser tão específico assim? Imprudência, rapaz. O que aconteceu? Caiu de 330 pra 314 a quantidade de assentos conservadores, conforme Borges e Garschagen previram.

Na eleição francesa foi a mesma coisa. Sua postagem, eivada de arrogância, como de praxe, deu uma probabilidade bem maior de vitória para Le Pen do que Macron. Eis o que ele disse:

Emmanuel Macron é o candidato da França otimista, daqueles que vivem (ou, ao menos, consideram viver) muito bem. Marine Le Pen é a candidata da França esquecida, dos desempregados, dos trabalhadores, dos aposentados, das famílias empobrecidas, das vítimas do terror, daqueles que amam a velha França, que conhecem o lado ruim da imigração e que vivenciam na pele algo que o Justin Trudeau da Sorbonne não saberia nem sequer colocar em palavras.

Já há algum tempo se tornou consenso a idéia de que a Le Pen possui um teto intransponível, e hoje as pesquisas dizem que ela não passará dos 38% no segundo turno, mas estou olhando para os números e eles me dizem o contrário. A Le Pen não possui um teto, ela possui um piso e ele gira em torno dos 42% — esta será uma semana muito corrida pra mim, mas espero poder expandir isso em um artigo em breve.

Há, ainda, o constrangedor caso do Alabama, em que errou feio, uma vez mais apostando na… direita (isso não é análise, é torcida):

Há sempre algo “pouco plausível” no caminho, pelo visto. Filipe só acerta quando o time dele vence, e sempre erra quando o time dele perde. Eis a tática. E depois ele sempre tenta criar narrativas posteriores para tentar justificar o erro. Inclusive, a justificativa para a derrota do time dele nessa eleição, caso ocorra, já está feita: fraude nas urnas eletrônicas. Mas se o time vencer ele vai se gabar de que acertou outra vez. Perguntar antes se vai ou não ter fraude na urna não adianta: ele vai se esquivar, pois aposta em Bolsonaro. Em suma, podemos estar diante da maior fraude intelectual da “nova direita” brasileira.

Ah, mas e a vitória de Trump?, pergunta o esperançoso companheiro. Ora, fazer “análise” repetindo o que um conhecido analista americano dizia é mole! Gol de prata! Ou Silver, se preferir, em inglês. Dou 538 motivos para ele ter “acertado” essa. Já eu, que nunca fiquei me gabando de ser um profeta que enxerga aquilo que ninguém mais vê, fiz uma palestra na XP Investimentos uma semana antes da eleição, e disse que a chance de Trump vencer era 50%, muito acima da probalidade quase nula que a mídia atribuía ao republicano. Nesse vídeo, de maio de 2016, eu disse que era cedo demais para cantar a derrota de Trump. Agora pergunta se eu fico por aí bancando o oráculo de Delfos…

E outra coisa – que precisa ser dita: ele não discute conosco desde o mesmo lugar. Certos ou errados, somos, eu e tantos outros liberais e conservadores, analistas, comentaristas etc. Ele é um dirigente partidário. Pertence ao quadro do PSL. Suas análises precisam ser compreendidas a partir desse lugar limitador. Não é um pensador livre. É intelectual de partido, que tem interesses eleitorais objetivos, a partir dos quais seu futuro profissional se decidirá. Toda a análise feita por Filipe é análise, hoje, de um bolsonarista oficial, com cargo em partido. Ignorar essa diferença é assinar atestado de ingenuidade.

O leitor tem o direito de questionar: por que gasto tanto tempo desmascarando um sujeito qualquer? Respondo: porque o seu mestre fez escola, e os métodos são os mesmos espalhados pelas redes sociais, em nome da direita conservadora. É uma produção em série de Gremlins, monstrinhos que não podem ser alimentados depois de meia-noite. E isso causa um estrago e tanto em nós, liberais clássicos e conservadores de boa estirpe, que tentamos fazer com que o Brasil possa avançar por meio de reformas responsáveis, em vez de agir como os adversários à esquerda e tentar tocar o caos e ver o circo pegar fogo, para ver uma nação maravilhosa renascer como Fênix das cinzas.

Vou perder, por conta dessa revelação, algumas dezenas ou mesmo centenas de seguidores? A Gazeta vai perder alguns assinantes? Talvez. Provavelmente. Mas eis o abismo que nos separa: nosso compromisso é com a verdade, e no meu caso, com o avanço de uma direita democrática, prudente, responsável, que tenha como prioridade construir instituições e melhorar nossa cultura, não parir uma revolução apelando para meios mais do que questionáveis.

Rodrigo Constantino

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