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É muita ingenuidade achar que socialistas não se unem a capitalistas para um poder global
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“Quem espera que o diabo ande pelo mundo com chifres será sempre sua presa.” (Schopenhauer)

Participo de uma rede liberal de debates que tem de tudo, desde libertários mais radicais até conservadores. Confesso que fico espantado com a ingenuidade dos mais libertários quando o assunto é “globalismo” ou Foro de SP, ou seja, as articulações maquiavélicas de esquerdistas em prol de um poder totalitário, regional ou global, tratadas por eles como “teorias da conspiração de reacionários nacionalistas”.

Que os socialistas querem um poder total e em nível mundial é fato conhecido, e a Internacional Comunista visava exatamente a este fim. Que eles nunca mediram esforços, sem escrúpulos da “moralidade burguesa”, é outro fato conhecido. E que tais maquinações sempre contaram com muitos recursos da elite capitalista, eis outro fato, ainda que menos conhecido. Mas nada disso é teoria da conspiração.

Por algum motivo bizarro que desconheço, meus colegas libertários acham que, após a derrocada da União Soviética e o fim da Guerra Fria, tudo isso acabou, virou coisa do passado, desapareceu do mapa. Ou seja, não existem mais comunistas; ou, se eles existem, não mais conspiram, e abandonaram qualquer pretensão de buscar um governo mundial com táticas deliberadas que enfraqueçam os principais obstáculos a tal meta: a  família tradicional, o patriotismo e a religião, em especial o cristianismo.

Toda essa agenda “progressista”, igual no mundo todo, essa “marcha das minorias oprimidas”, essa “revolução das vítimas”, tudo isso é pura coincidência, e os esquerdistas agem por uma “mão invisível”, não de forma minimamente coordenada. A Escola de Frankfurt e Gramsci não existiram, pelo visto.

Mesmo quando vazam informações de que alguém como George Soros, o bilionário especulador, financia inúmeros movimentos radicais de esquerda no mundo todo, inclusive o Mídia Ninja e o Instituto FHC no Brasil, meus colegas repetem que é tudo acaso. Isso que é fé! O raio cai várias vezes no mesmo lugar, mas foi pura coincidência?

Lucas Berlanza escreveu para o Instituto Liberal um excelente texto sobre o debate travado entre Olavo de Carvalho, filósofo conservador, e Paulo Roberto Almeida, diplomata liberal, justamente sobre o “globalismo”. Nele, Berlanza diz:

Em primeiro lugar, com todos os respeitos que o professor Paulo Roberto de Almeida merece, afirmar que não existe nenhuma “ideologia globalista” é, isto sim, sem base; a expressão, como pontuamos e repetimos, é usada para conceituar encaminhamentos ideológicos que sustentam a cessão de autoridade a instituições supranacionais de modo a esvaziar ao máximo possível a relevância da ideia de Estado-nação. Ora, basta consultar a obra clássica do socialista fabiano H. G. Wells, A Conspiração Aberta, de 1928, para constatar que toda essa agenda já estava sendo apresentada naquela época, e de maneira deliberada. Não se trata de nenhum clã secreto que trama a dominação mundial com a ajuda de Satanás, alienígenas reptilianos ou qualquer bizarrice do gênero; é uma agenda objetiva, que faz parte do repertório simbólico e intelectual de muitos atores sociais. A afirmação de que nenhuma força política jamais propôs a orquestração dessa estratégia e desse plano, por utópico que seja, é comprovada pelo fabianismo como objetivamente falsa.

Lucas cita o livro de Wells de 1928, mas já em 1905, em seu romance A moderna Utopia, o socialista fabiano colocava toda a sua criatividade em prol dessa causa globalista, imaginando uma utopia de um governo mundial em que haveria paz, pelo fim das nações. Eis o resumo: o romance é mais conhecido por sua noção de que uma ordem voluntária de nobreza conhecida como Samurai poderia efetivamente governar um estado mundial de modo a resolver “o problema de combinar o progresso com a estabilidade política”.

O mesmo sonho do sonhador John Lennon, aquele que não estava sozinho. Por romantismo ou esperteza, é inegável que muitos da elite desejam um governo mundial, uma ONU controlável e acima dos poderes nacionais, diluindo a soberania dos povos em uma burocracia técnica sem rosto e sem votos, ou seja, sem accountability. Davos se encontra com a ONU, e Soros com Clinton. Não é para falar de futebol…

Há vários indícios de que essa turma poderosa se encontra para definir pautas comuns, para bancar uma agenda pensada, para revolucionar o planeta na direção de mais esgarçamento do tecido social que sustenta a civilização ocidental, permitindo assim a entrada do Cavalo de Troia, do totalitarismo que vem derrubar os pilares das sociedades liberais. E por pura perversão e oportunismo, fazem isso em nome do próprio liberalismo!

Em uma escala regional, temos na América Latina o Foro de São Paulo, aquele que pretendia “resgatar no continente o que se perdeu na Europa”, i.e., o comunismo. Mas quem falava em Foro de SP era ridicularizado por muitos, inclusive por liberais, como alguém reacionário paranoico influenciado por Olavo de Carvalho. Não bastou os principais membros do Foro efetivamente chegarem ao poder na mesma época, em vários países, incluindo o Brasil: a patota organizada em prol do comunismo era pura fantasia de conservadores malucos!

Os comunistas latino-americanos, por meio do Foro de SP, da Unasul e do Mercosul, tentaram justamente criar entidades por eles controladas para suprimir as instituições nacionais. O Mercosul, por exemplo, virou uma camisa de força ideológica, um instrumento do comunismo, que não tinha mais absolutamente nada a ver com globalização e livre comércio, algo parecido com o que aconteceu na União Europeia, com um poder excessivo concentrado em Bruxelas que aumenta a burocracia, não a liberdade de comércio.

Na coluna “Poder em Jogo” de hoje no GLOBO, consta uma das tantas evidências de como os tentáculos pegajosos desse polvo vermelho se espelharam por todo canto, em conluio com grandes grupos capitalistas:

A confusão na política peruana por causa da Lava-Jato está só começando. Além das delações de executivos de Odebrecht, OAS e Andrade Gutierrez, vêm aí as consequências da delação de Valmir Garreta, ex-assessor do PT, antigo sócio de Luis Favre, ex-petista que foi marido da senadora Marta Suplicy. Garreta e Favre trabalharam na eleição do ex-presidente Ollanta Humala, em prisão preventiva, e de líderes de partidos da esquerda peruana. Em alguns casos, Garreta confessou ter atuado como intermediário de repasses de dinheiro de empresas brasileiras a políticos locais.

Mas vamos continuar acreditando que grandes capitalistas não se juntam em salas fechadas com políticos socialistas para articular golpes às democracias liberais mundo afora, para concentrar poder no estado, e de preferência num estado mundial, acima das instituições nacionais, anulando a própria soberania dos povos?

Em Hereges, Chesterton ataca a ideia consistente, porém equivocada, do socialista fabiano H.G. Wells. E com base em argumentos parecidos com aqueles utilizados por Roger Scruton mais recentemente, e mencionados por Lucas Berlanza no texto. Os conservadores entendem o que muito liberal ignora: que nem tudo é razão, e que essas utopias “racionais” e tecnológicas são bastante perigosas para a liberdade. O “cidadão global”, cosmopolita, desapegado de “preconceitos” como patriotismo, acima das “superstições” religiosas, eis o ideal dessa gente. Pensamos logo em Obama, não?

Que há um grupo grande e poderoso que sonha, por romantismo ou interesses egoístas, com um governo mundial, com uma “nova ordem mundial”, isso é fato e não pode ser negado ou ridicularizado como “teoria conspiratória de reacionário”. E é exatamente isso que chamamos de “globalismo”. Os liberais entendem perfeitamente que, dentro dos países, esses capitalistas se organizam em busca de poder e privilégios, no que chamamos de “capitalismo de compadres”. É muita ingenuidade achar que o mesmo não ocorre em escala mundial…

Rodrigo Constantino

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