• Carregando...
Em “ato falho”, Eduardo Bolsonaro chama Filipe Martins de assessor para assuntos pessoais do presidente
| Foto:

Vivemos numa República. Ao menos até a última vez em que chequei. Numa República, não há espaço para mistura entre público e privado. O patrimonialismo é o grande câncer do nosso país, como aponta o estudioso Ricardo Vélez, ex-ministro da Educação do governo Bolsonaro. Quando governantes tratam o governo como uma extensão de suas casas, a coisa fica muito complicada.

Pois bem: todos já sabem que a relação entre o presidente e seus filhos desperta esse tipo de preocupação legítima. Carlos Bolsonaro é um vereador que age como se fosse um chefe da comunicação do governo, usando o Twitter para criar confusões desnecessárias. Eduardo Bolsonaro é um deputado que pensa ser ministro do Exterior, e resolveu que fará as articulações com os outros líderes nacional-populistas, apontado inclusive como representante do “movimento” de Steve Bannon no Brasil.

Além disso, vários nomes da confiança dos dois, mas sem a devida capacidade técnica ou experiência, foram apontados para cargos importantes no governo. No MEC vimos o grau de bagunça que isso gerou. E no Itamaraty temos uma espécie de “chanceler do B”, como tinha o PT com Marco Aurélio Garcia, na figura de Filipe G. Martins, cada vez mais próximo do presidente.

Filipe é aluno de Olavo de Carvalho, adota os mesmos métodos do guru, e por conta dessa proximidade com os filhos do presidente, viu uma ascensão meteórica em sua carreira. Em março deste ano, a Época fez um perfil detalhado do jovem, que vale a pena ler. O que Filipe efetivamente faz em seu cargo é um tanto dúbio, mas ele certamente se enxerga como um templário numa cruzada para salvar a civilização ocidental da ameaça do marxismo cultural.

O problema é que, por meio da confiança dos filhos, o rapaz tem os ouvidos do presidente, e costuma enche-los com teses conspiratórias, baboseiras revolucionárias e olavices de todo tipo. No que talvez tenha sido um ato falho que entrega a real função do jovem no governo, Eduardo Bolsonaro publicou uma mensagem hoje no Twitter em que chama Filipe Martins de assessor para assuntos PESSOAIS do presidente. Como assim? Teremos uma guarda pessoal pretoriana também?

Essa ala ideológica mais reacionária é a fonte de conflitos desnecessários para o governo, a fábrica de crises e confusões. Está repleta de pavões com egos inflados e muita sede por poder, ambições desmedidas. A turma sob influência de Bannon é justamente o que afasta tanta gente séria de um apoio ao governo Bolsonaro. Os moderados temem, com razão, que esse pessoal acabe ditando o tom do governo no médio prazo, o que seria terrível para o país.

Não, meus caros. Não há espaço para alguém numa posição de poder e destaque dentro do Itamaraty que seja, ao mesmo tempo, um assessor PESSOAL do presidente. Estamos falando de funções de estado, não de governo, muito menos de políticos. O Itamaraty fala em nome do Brasil. Eis algo republicano demais para o gosto dessa gente. Devem considerar essa preocupação uma afetação de liberais frescos. Ser “macho” é bancar o templário do conforto de sua vida nerd e confundir público com privado…

Rodrigo Constantino

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]