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Esse uruguaio sabe das coisas…
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A entrevista publicada neste domingo no Estadão com o ex-presidente do Uruguai é imperdível. Julio María Sanguinetti é senador e governou o país em duas ocasiões. Ele aborda temas da maior importância para nós, brasileiros. Sua crítica é contundente: o atual governo brasileiro tem ciúmes do México e é subordinado à Venezuela. Seguem alguns trechos:

Nossa região viveu a partir de 2003 uma fase de bonança única, com preços internacionais que do ponto de vista fiscal enriqueceram os Estados. Os períodos de prosperidades às vezes têm esse filho espúrio, o populismo, que nasce com essa bonança. Ele se alimenta da nostalgia dos tempos em que todos desfrutavam. Assim nasceu o peronismo e assim nascerão todos os populismos.

O senhor vê algo positivo no Socialismo do Século 21?

Não é uma doutrina. Apenas um discurso autoritário de um antiamericanismo anacrônico que divide as sociedades, as inflama e abre caminho para o autoritarismo.

Quais são os aspectos mais negativos?

A restrição da liberdade de imprensa e a violação do princípio da separação dos poderes. Essas são as bases da democracia que os populismos atacam em primeiro lugar.

[…]

O Mercosul sobrevive, como sobrevivem todas as instituições internacionais que, depois de criadas, criam mecanismos para se sustentar. Mas hoje o Mercosul já não é o que construímos. Não existe uma liberdade comercial efetiva, não há uma coordenação macroeconômica, nem as sentenças emitidas pelo Judiciário são aceitas. Sua crise é muito profunda, mas a ideia continua válida. É incrível que estejamos marginalizando o Paraguai e aceitando o Suriname e a Guiana como parceiros. O mesmo ocorre com a Unasul, que abriga países alheios à nossa cultura e, por outro lado, deixa de fora o México, uma potência que se compara ao Brasil.

[…]

Deveríamos hoje retomar essa orientação e respeitar o Paraguai. Não é possível que o Brasil acabe sempre subordinado aos ímpetos da Venezuela. Infelizmente é o que ocorre.

[…]

O Uruguai retrocedeu na educação, segurança pública e na integração social. Mas conservou a mesma linha econômica, respeitando a economia de mercado e os equilíbrios macroeconômicos. Meu país e mesmo alguns setores da esquerda aprenderam essa lição: não há preço para a estabilidade política e a continuidade econômica, que dão segurança ao investidor, estrangeiro ou nacional. E uma economia forte é o único caminho para lutar seriamente contra a pobreza, a partir de uma educação popular que consiga inserir a nova geração no mundo global da sociedade do conhecimento, para o qual a maioria hoje não está preparada.

[…]

O Brasil pretende assumir um papel mais universal, mas fracassa no Mercosul, fracassa na Unasul e, não obstante sua relevância, não tem uma liderança de fato. Seus ciúmes do México tem apequenado o País. Digo tudo isso com pesar, porque a região necessita de um Brasil vigoroso e compreensivo.

[…]

Os países do Pacífico avançam entre si e avançam para a Ásia. Os Estados Unidos estão em recuperação e continuam a potência de sempre, já não dominante, mas participando na frente asiática e aproximando-se também de uma Europa em crise, que, mesmo debilitada, continua economicamente um bloco maior. Permanecendo na periferia não vamos nos fortalecer. Estamos aqui, fechados, olhando como os grandes blocos se associam e nós, mergulhados em batalhas de pequenas aldeias. O Mercosul está em crise e isso é admitido até pelos líderes do governo uruguaio atual.

É uma lufada de ar fresco ver que ainda há lucidez em políticos latino-americanos. O senador uruguaio toca nos pontos importantes: o Mercosul é um atraso de vida da forma que está sendo gerido, sob o comando da Venezuela e o ranço bolivariano. Os países da região precisam de estabilidade macroeconômica, respeito à economia de mercado, e inserção no mundo globalizado, fortalecendo sua produtividade, que passa pela melhoria da educação.

São pontos cruciais de qualquer agenda liberal. Infelizmente, ainda é predominante a mentalidade esquerdista nesses países. Enquanto for este o caso, teremos raios de luz isolados, aqui e acolá, enquanto as decisões tomadas no andar de cima continuarão impondo um elevado preço ao povo desses países. A esquerda retrógrada, que ainda acredita no socialismo e que investe no populismo, é um grande atraso de vida.

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