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Estamos flertando com o abismo, diz o melhor gestor de recursos do Brasil
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Luis Stuhlberger é tido, com razão, como o melhor gestor de recursos do Brasil. É um dos maiores também, pois seu fundo Verde administra mais de R$ 20 bilhões, e gerir um transatlântico não é o mesmo que pilotar um barquinho. Mesmo assim, sua equipe consegue obter ótimos retornos para seus clientes, e uma das marcas registradas de sua gestão é a eficiente proteção de capital em tempos de crise. Os “hedges” na carteira costumam não só proteger, como muitas vezes possibilitar ganhos extraordinários quando o pior acontece.

Para tanto, é necessário estar sempre muito atento ao que pode dar errado. Não se trata de ser um pessimista crônico, pois alguém assim vai à bancarrota na era da bonança, ainda que artificial ou insustentável. O “timing” é crucial, o sentimento de quando a coisa realmente vai se deteriorar. E é essa convicção, baseada em estudos profundos, que faz com que o gestor consiga remar contra a maré e segurar as apostas mesmo quando vão contra num primeiro momento. Stuhlberger tem um histórico de sucesso tão grande nisso que o faz extremamente respeitado por seus pares, e o que ele pensa deve ser sempre levado em conta.

Por isso sua excelente – ainda que preocupante – entrevista às páginas amarelas da VEJA desta semana merece ser lida na íntegra com atenção. Nela, Stuhlberger diz que o Brasil está flertando com o abismo, que teremos possivelmente mais uma década perdida, e que certamente virá um forte aumento de impostos pela frente. É um cenário sombrio, mas realista. E se o gestor reconhece a impressão digital de Dilma e sua equipe na lambança, com a “nova matriz macroeconômica”, ele também admite que o buraco é mais embaixo, que temos um problema estrutural, e que sem as reformas não temos saída.

Seguem alguns trechos da entrevista, conduzida por Malu Gaspar e Giuliano Guandalini:

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Ao contrário de “intelectuais” e palpiteiros, Stuhlberger não pode se dar ao luxo de falar qualquer coisa, pois sua visão tem influência no bolso de milhares de clientes. Ciente disso, ele procura ser o mais sincero possível, e tem de deixar ideologias de lado, abraçando um pragmatismo cujo resultado final é o que importa. Acertar ou errar, nesse mercado, é algo que fica muito evidente, pois todo dia a cota do fundo está lá, para mostrar a realidade. “Não tem chinchim nem chincheta, vale o que está na tabuleta”, dizia meu antigo chefe, ele mesmo um dos melhores “traders” do país.

O mercado é “cruel”, não atura desaforo, excesso de arrogância, falta de compromisso com os fatos, ideologias, desculpas esfarrapadas que sempre transferem a responsabilidade dos erros aos outros, nada disso. Testa as fraquezas humanas, e cobra um alto preço pela vaidade. Ali, o que importa é acertar as apostas, e minimizar as perdas quando estiver errado, o que também é inevitável. Não é um cassino, como muitos pensam, mas um instrumento impessoal que testa diariamente nossas convicções acerca dos fundamentos da economia e das empresas.

Quando vejo certos “economistas” destilando otimismo banal por aí, repetindo que há um pessimismo exagerado e artificialmente criado pela “oposição”, fico impressionado com a falta de compromisso que essa gente tem com a verdade. Mas lembro de uma cena de A Revolta de Atlas, de Ayn Rand, em que essa elite da esquerda caviar está numa festa e rumores de uma forte queda nas ações circulam pelo ambiente. Todos correm para falar com o gestor, com o capitalista odiado, “insensível”, para terem noção do tamanho do problema, descobrirem se suas fortunas estão a salvo ou não. Pura hipocrisia.

Quando o candidato Plínio Arruda Sampaio, do PSOL, abriu sua declaração de imposto, lá estava não só um milionário, mas um milionário com investimentos no mercado financeiro, especificamente no fundo de multimercado gerido por Stuhlberger. O socialista, que condenava a ganância dos capitalistas, colocava seus ovos de ouro – que não eram em pouca quantidade – nas mãos do melhor gestor de recursos do país, alguém movido pela ambição do lucro, pelo desafio de acertar num mercado extremamente competitivo.

Hoje o socialista já não está mais entre nós, e o gestor está alertando: o Brasil flerta com o abismo com o modelo atual, e se não fizer as reformas certas, estruturais, vai dar com os burros n’água. Teremos mais uma década perdida, com crescimento medíocre, e com o estado avançando ainda mais sobre nossos bolsos. Falta à classe política foco no longo prazo, compromisso com o país. E falta a boa parte da população mais conhecimento econômico. Somos prisioneiros de uma mentalidade estatizante que está na origem de nossos problemas. Ou o Brasil se entrega ao liberalismo, ou estaremos fritos mesmo!

Rodrigo Constantino

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