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Ética subjetiva ou inexistente?
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A palavra “ética” não será mais incluída no juramento do código de conduta dos senadores. O senador Lobão Filho (PMDB-MA), relator do projeto e responsável por retirar o termo, disse ao Estado que obrigar os senadores a, no juramento da posse, se comprometerem com a defesa intransigente da ética poderia “dar margem a interpretações perigosas” e “gerar problemas de conflito” no Senado. Para ele, a ética é “uma coisa muito subjetiva, muito abstrata”.

Eis o retrato do país em que vivemos. Nem mesmo o simbolismo de fazer uma promessa que a grande maioria não vai mesmo cumprir, o senador quer! Vivemos na era do relativismo moral exacerbado. Ninguém mais pode julgar o que é certo ou errado. Não há critério algum para definir um código de ética objetivo. Vale tudo.

Nem preciso dizer que esse tipo de postura e mentalidade favorece apenas os piores. Quem deseja relativizar tanto assim o conceito de ética ou de moral quer defender o antiético e imoral, invariavelmente. Jamais veremos um George Washington da vida pregando a importância de não julgarmos o que é certo e errado, pois cada um tem sua própria ética. Mas Lobão Filho sim. Veremos aos montes pessoas como ele lutando para a suspensão de qualquer critério objetivo de valores.

O exemplo vem de cima, e com o aval do povo, o que é pior. O ex-presidente Lula (talvez eu devesse retirar o “ex”, já que a própria presidente assume que ele nunca saiu de lá) é o grande mestre na arte de relativizar a ética. Aquela que já foi outrora a bandeira principal de seu partido, virou apenas uma palavra vazia, desprovida de sentido.

Lula e o PT argumentaram, após o mensalão, que tudo que fizeram foi aquilo que outros também fazem. Fosse isso verdade, não seria justificativa nem absolvição. Mas sequer é verdade. Nunca antes na história deste país se viu algo como o mensalão, uma tentativa de golpe à democracia. Ética? Isso deve ser coisa de pequeno-burguês, de moralista da UDN…

O mais grave é que o escândalo do mensalão eclodiu em 2005, antes, portanto, da reeleição de Lula. Foi ali, nas urnas, que boa parte do povo brasileiro deu seu aval ao relativismo ético e moral. À época, escrevi um texto de desabafo, alegando que a ética seria jogada no lixo. Eis minha conclusão:

A bandeira da ética, sempre utilizada pelo PT, está completamente esgarçada pelas traças do poder. E não obstante tudo isso, Lula será reeleito, ao que tudo indica. Qual a mensagem que o cidadão brasileiro está mandando? O crime compensa? Tanto faz roubar, contanto que pela minha causa? Se a reeleição de fato se concretizar, parece que esse é o recado do povo. A ética será jogada no lixo. Quando isso ocorre, normalmente o futuro da nação vai para o lixo também. Pobres daqueles cidadãos honestos, que não compactuam com o crime nem são complacentes com os corruptos. Pagarão o preço da irresponsabilidade e da falta de ética da maioria do povo.

Lobão Filho é filhote dessa mentalidade, desse zeitgeist. Não precisamos ser “puristas” e sonhar com “O Incorruptível”, até porque Robespierre trouxe o Terror à França. Mas podemos – e devemos – exigir o mínimo de conduta ética de nossos políticos. Não se relativiza impunemente um valor tão importante para a sociedade. Uma ética tão subjetiva assim é uma ética inexistente.

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