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A farsa da “juventude crítica” que tem opinião sobre tudo
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“Ignorância é não saber de algo; estupidez é não reconhecer a própria ignorância.” (Daniel Turov)

Sou um ignorante. E já tenho 40 anos, ou seja, não posso alegar que sou tão jovem. Na verdade, sou mais ignorante à medida que envelheço e estudo mais e mais. Como dizia Oscar Wilde, não sou jovem o suficiente para saber tudo. E há sabedoria nesse reconhecimento de nossa ignorância, como sabia Sócrates. Não se trata de um relativismo, mas de uma necessária postura humilde diante da imensidão do saber humano, e também daquilo que não sabemos, ou seja, da nossa falibilidade e nossos limites racionais.

Mas o jovem, via de regra, não lida bem com isso. Ele “sabe” tudo. Ele prefere a postura arrogante, até por necessidade de afirmação em meio às inseguranças típicas da idade. Até aí, tudo bem. É normal e natural. Mas eis o que mudou, e vem mudando rapidamente desde 1960: os próprios professores, os mais velhos que deveriam ensinar aos mais jovens essa humildade, são os primeiros a lhes mentir, a encarar a juventude como “fonte de sabedoria”, a estimular a “desconstrução” de tudo que existe de acúmulo de conhecimento.

Esses niilistas covardes quiseram “empoderar” os mais jovens, para seduzi-los, para “ficar bem na fita”, para se sentirem mais jovens eles mesmos ou gurus desses jovens, numa massagem do ego que ignora os efeitos nefastos disso para esses jovens alunos. Ou, claro, para transformá-los em massa de manobra política, em peões no seu tabuleiro de xadrez ideológico na busca pode poder.

E na era das redes sociais, as consequências dessa visão de mundo foram ainda piores: qualquer imbecil se sentiu no direito e com a capacidade de atacar tudo e todos, de bancar o “crítico”, sem sequer perceber que não passa de um papagaio desses “intelectuais”, de “senhorzinhos satisfeitos” imaturos e arrogantes.

Luiz Felipe Pondé falou disso em sua coluna de hoje. Começou usando a breguice de colocar números depois de palavras ou conceitos para expor a própria caretice dos que se sentem “descolados” e “críticos”, mostrando que são apenas clones de um modelo rígido. Seria a “caretice 3.0”, dos que acham que são moderninhos, mas não passam de produtos em série, todos iguais.

Caretas? Sim, Pondé explica: “O que confunde é que certos marcadores como liberdade sexual, fumar maconha, ausência de preconceitos, roupas descoladas e posturas políticas progressistas, classicamente considerados índices de comportamento não careta, aparecem nos jovens de hoje de forma bastante evidente”. E aí ficamos com a impressão de que esses jovens não podem ser caretas, mas são, no sentido de uma forma rígida associada à necessidade de autoafirmação.

Em seguida, Pondé dá vários exemplos de bandeiras que esses jovens “críticos” defendem, todos iguais pelo mundo todo como se tivessem pensado por conta própria essas questões, e dando pitacos ignorantes sobre os mais complexos temas, acreditando que são mesmo os depositários da sabedoria humana na Terra:

Essa rigidez se revela no fato de que os jovens nunca se levaram tão a sério como os de hoje. Eles têm opiniões claras sobre tudo.

Aborto, sexo, política, Oriente Médio, cinema iraniano, teoria crítica adorniana, sistemas complexos de economia, relação cosmologia-cosmética trans, uso de medicação tarja preta, amor com outras espécies animais, química da lactose, como alimentar sete bilhões de pessoas com hortas caseiras, a eliminação absoluta do sofrimento na vida dos frangos, como alocar um milhão de sírios na Alemanha, sistemas políticos democráticos para o Iêmen, calotas glaciais, formas de vida sob opressão em Marte, como educar filhos que não existem, métodos democráticos de avaliação escolar, fóruns com crianças de cinco anos para votar as leis de mercado, enfim, toda um gama de temas abertos a opiniões rígidas, porque evidentemente simples e facilmente resolvidos numa aula de filosofia contemporânea a partir de Deleuze e Foucault.

Os jovens estão reduzidos a um manual produzido por professores pregadores e mídias sociais furiosas.

Basta navegar pelas redes sociais ou frequentar o campus de uma universidade federal para ver a imensa quantidade desses “sábios” que foram levados a crer na própria “sabedoria” por quem deveria lhes ensinar mais humildade na busca pelo conhecimento objetivo. Pondé conclui:

Uma das causas mais interessantes desse fenômeno é a criação da noção de jovem crítico. Ser crítico é, talvez, uma das coisas mais fáceis na vida (facilidade essa pouco pensada por todos os pensadores que criaram esse fetiche da crítica): basta você falar mal de tudo o que não gosta de forma arrogante e estar seguro de que você representa o avanço social e político.

A ideia de que fazer a crítica de algo implica um largo repertório intelectual e afetivo de experiências revelou-se falsa. O caminho mais curto para a não-educação é tornar pessoas de 15 anos críticas. Nunca mais arrumarão o quarto delas justificando essa atitude, agora, na estupidez do Trump.

Como discordar? Basta o sujeito odiar Trump hoje para já se sentir uma pessoa melhor tanto do ponto de vista moral como intelectual. Ele não precisa mais arrumar o quarto, estudar, ralar para ser alguém, o que exige muito feijão com arroz e estudo sério, pois ele “odeia Trump”. Ele é um “crítico”: do sistema, do capitalismo, da desigualdade, do conservadorismo, do cristianismo, de tudo!

E como é mais fácil destruir do que construir! Niilistas exploram isso nos jovens inseguros, e alimentam essa insegurança com “falsas certezas”, todas ideológicas e voltadas para o ataque aos valores tradicionais, às morais e costumes estabelecidos, a “tudo isso que tem aí”. Na fase de autoafirmação dos jovens, isso é música para seus ouvidos, é o canto das sereias. Que “professores” façam isso com seus alunos é de uma covardia ímpar, um crime hediondo.

Mas a extrema-esquerda é criminosa. Não é por outro motivo que nunca se importou de se unir a traficantes, bandidos, ditadores etc. E por isso mesmo é quem ocupou os espaços no ensino para executar esse crime contra a liberdade do pensamento. Jovens universitários nos Estados Unidos já são simpáticos ao socialismo, e muitos apoiaram Bernie Sanders. No Brasil, é o PSOL e o PCdoB que dominam esse ambiente, pervertendo a juventude com os instrumentos fornecidos por Paulo Freire.

Quem quer que leve a sério a ideia de lutar por um futuro melhor precisa levar em conta esse aspecto cultural e essa doutrinação ideológica nas escolas, universidades e artes em geral. A primeira, a mais básica lição que todo adulto e educador deveria dar aos mais jovens é esta: antes de ter sua “opinião” sobre qualquer assunto, especialmente os mais complexos, vá pagar umas vinte flexões, comer muito feijão e sentar o bumbum na cadeira para estudar para valer.

Ou seja, não confunda o excesso de estímulo da era da Internet com conhecimento genuíno, algo que exige muita ralação. Depois desse esforço todo, sem dúvida você terá direito a algumas opiniões mais embasadas, calcadas em argumentos e fatos, sobre uns poucos assuntos de seu maior domínio. Nesse momento, você perceberá sua própria ignorância, e é aí que começará sua sabedoria, o oposto da arrogância visível nas redes sociais e federais.

Rodrigo Constantino

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