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Jornalistas da mídia mainstream: a classe que mais gosta de se elogiar
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Que o jornalismo exerce – ou deveria exercer – um papel fundamental numa democracia é algo evidente. Thomas Jefferson o disse de forma brilhante: “Se me fosse dado decidir se devemos ter um governo sem jornais, ou jornais sem um governo, não hesitaria um momento em preferir a última”.

Mas também é fato que essa nobre missão da mídia anda um tanto desgastada. O jornalismo investigativo e que busca ser isento vem sendo substituído gradualmente por torcida partidária e panfletagem ideológica. Em muitos casos, especialmente na mídia mainstream, o que vemos é uma elite “progressista” deixando seu viés ideológico falar mais alto do que qualquer ética básica ensinada nos manuais do bom jornalismo.

Há, como resultado disso, um crescente afastamento entre a classe de jornalistas da grande imprensa e o povo, a população que consome notícias e que tem buscado nas redes sociais um refúgio. O mais evidente caso de patologia ideológica que deturpa o trabalho do jornalismo está na cobertura do governo americano sob o presidente Trump.

E como a obsessão da mídia tem sido atacar Trump, fala-se em “fake news” e na era da “pós-verdade” como se as mentiras na política tivessem começado junto ao governo Trump, tido como um inimigo terrível do jornalismo em si. Não é bem assim: Trump condena a militância partidária disfarçada de jornalismo, e com isso está em sintonia com o eleitor.

Mas óbvio que a mídia não passaria recibo. E por isso mesmo a revista Time resolveu enaltecer os “jornalistas perseguidos” como as “pessoas do ano”, tudo feito meticulosamente para atingir Trump. Os nomes destacados deixam isso claro, além da mensagem central do jornalismo como bastião da verdade. Um jornalista morto pelos sauditas, “companheiros” de Trump; jornalistas de um veículo atacado supostamente por um extremista de direita, sendo que na verdade foi por motivos pessoais e não ideológicos; jornalista perseguido por um governo de extrema-direita, lembrando que para essa turma Trump é de extrema-direita (risos). Não importa. A mensagem precisa ser transmitida para arranhar a imagem de Trump, ainda que “indiretamente”:

A revista Time anunciou na manhã desta terça-feira que escolheu jornalistas perseguidos — os “guardiões” — como Pessoas do Ano. Nesta edição, que traz em quatro capas diferentes quatro casos de violações da liberdade de imprensa, a publicação ressaltou que a independência dos jornalistas é o que distingue a democracia da tirania.

A capas são dedicadas ao jornalista saudita Jamal Khashoggi, assassinado no consulado do seu país em Istambul em outubro deste ano, a equipe do jornal Capital Gazette, de Anápolis, no estado americano de Maryland, onde cinco jornalistas foram mortos em um atentado em junho último, a jornalista filipina Maria Ressa, do site Rappler, que investiga o governo de Rodrigo Duterte, e os jornalistas da Reuters Wa Lone e Kyaw Soe Oo, que foram presos em Mianmar por investigar o massacre de integrantes da etnia muçulmana rohingya.

“O homem corpulento com o cavanhaque cinzento e o comportamento gentil ousou discordar do governo de seu país. Ele disse ao mundo a verdade sobre sua brutalidade em relação àqueles que falariam. E ele foi assassinado por isso”, diz o primeiro parágrafo da reportagem sobre Jamal Khashoggi, morto por membros do alto escalão do governo de Riad.

Na visão da Time, o assassinato de Khashoggi — declarado crítico da monarquia saudita que se asilou nos EUA — “desnudou a verdadeira natureza de um príncipe sorridente, a absoluta ausência de moralidade na aliança entre Estados Unidos e Arábia Saudita e a centralidade da questão sobre a qual o saudita foi morto”. 

Não vem ao caso que Khashoggi era um radical que defendia a Irmandade Muçulmana. Claro que isso não justifica seu assassinato, mas ocultar esse seu lado, digamos, não tão democrata e tolerante não pegaria bem para a “causa”. E a causa é uma só: atacar Trump! Os “jornalistas” que deixam seu ódio por Trump dominar sua razão e ética profissional adoram dar tapinhas uns nas costas dos outros, num ato de autocongratulação vergonhoso. A cada dia que ficam mais afastados do público, mais se fecham em suas bolhas com elogios mútuos. Fazem até filme como o “Post” para tentar reverter a perda de credibilidade, mas colhem apenas fracasso.

O motivo está justamente nesse autoengano: em vez de refletirem seriamente sobre os motivos que têm levado a esse abandono da audiência, preferem insistir na fantasia de que são, de fato, os guardiões da verdade contra inimigos terríveis, como Donald Trump. Alexandre Borges alfinetou a turma em seu Twitter: “A escolha de jornalistas pela como ‘Person of the Year’ é sintomática de como a classe virou autorreferente, autoindulgente e descolada dos interesses dos leitores. Os vencedores de juntam agora a Adolf Hitler (1938), Stálin (1939 e 1942), Khomeini (1979) e Putin (2007).”

Mais humildade faria muito bem aos jornalistas. Entrar em contato com a realidade é a única forma de salvar essa profissão tão nobre e importante para as democracias.

Rodrigo Constantino

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