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Marcelo Odebrecht diz que é obrigação do empresário tentar influenciar governo. Está certo, e por isso modelo deve mudar!
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Marcelo Odebrecht: “assim” de interesses no governo… Fonte: Folha

Em entrevista à Folha, um dos empresários mais poderosos do país afirma que é obrigação do empresário tentar influenciar o governo. Marcelo Odebrecht confessa se adaptar ao modelo, lembrando que o governo tem forte presença na economia por decisão da sociedade, e que faz parte tentar, com transparência, convencer os governantes a adotar certas medidas em prol do “bem comum”. Alguns trechos, com meus comentários em seguida:

O país precisa das reformas trabalhista, política, previdenciária e tributária. Acho que teriam mais chances de passar se fossem aprovadas logo, mas para só entrar em vigor daqui a 8, 10, 15 anos.

Sabendo que não serão afetados pelas mudanças imediatamente, os parlamentares vão parar de olhar para o próprio umbigo e fazer as reformas.

A ideia é interessante. Como políticos só pensam nas próximas eleições, nunca nas próximas gerações (esses são os estadistas, mais raros no Brasil do que unicórnios), eles jogariam os ajustes “impopulares” para frente, mas aprovariam as reformas necessárias. Não sei se os políticos seguintes dariam um jeito de desfazer as medidas, mas talvez seja um método engenhoso de aprovar as reformas.

Outra prioridade seria melhorar a comunicação entre governo e sociedade, para soltar o espírito animal dos empresários.

Marcelo insiste no mesmo discurso de Benjamin Steinbruch, de que o grande erro desse governo é a “comunicação” com o empresariado, que deve mudar para despertar seu “espírito animal”. Bobagem. O problema está nas medidas equivocadas mesmo, no intervencionismo arbitrário, nos preços represados, nas mudanças nas regras do jogo, na incompetência. O “espírito animal” não depende de boa comunicação, mas de bons fundamentos. Esses é que foram destruídos pelo governo Dilma.

Não adianta ficar batendo de frente. O empresário tem o papel de tentar influenciar o governo naquilo que acha correto e fazer crítica construtiva do que não está bom. Mas precisa também entender algumas concepções do governo. O que não consigo influenciar, vou me ajustar.

[…] 

O empresário tem, sim, a obrigação de se posicionar sobre aquilo em que acredita. Sendo legítimo e transparente, não vejo nada de mais em defender pontos que muitas vezes a gente conhece melhor do que qualquer um.

Quando vou lá e defendo uma tese que beneficie a minha empresa, é porque acredito que vai contribuir também para o bem comum. O que não pode é defender interesses ilegítimos.

A sinceridade do empresário ao confessar que precisa se ajustar à realidade política é louvável, mas seletiva e parcial. Logo depois ele emenda que tudo deve ser feito de forma transparente e que o foco deve ser contribuir para o bem comum, sem defender interesses ilegítimos. Sei…

Tipo quando a Odebrecht fecha contratos milionários com regimes ditatoriais como o de Angola ou de Cuba? Ou quando nosso BNDES financia uma obra bilionária de um porto em Cuba que não tem sentido econômico algum para nosso país, mas que vai encher os cofres da própria Odebrecht e da ditadura camarada do PT?

Todas as sua reivindicações são transparentes?
Sempre. Não faria nenhum pedido que não pudesse ser feito de maneira transparente. Que mais tarde pudesse me deixar mal com meus filhos. E, se eu levar um pedido que não é justificável, ele não vai ser atendido.

Assim fica complicado… Quer dizer, então, que esse governo do PT não atenderia um pedido que não fosse justificável com base no bem comum? Isso não é nem piada, pois seria de muito mau gosto. É uma afronta à nossa inteligência, um acinte, um chiste do pior tipo que ridiculariza o leitor do jornal ao tratá-lo feito idiota.

O governo brasileiro tem um papel grande na economia e isso criou uma interface também grande com o setor produtivo.

Se os Estados Unidos, que todo o mundo usa como referência, tivessem estatais do peso da Eletrobras e da Petrobras, ou um banco do porte do BNDES, os empresários americanos fariam igual aos brasileiros.

E o tamanho do Estado não é decisão deste governo. É uma decisão da sociedade. Tanto que não vejo nenhum candidato querendo privatizar a Petrobras ou o Banco do Brasil.

Marcelo está certo aqui. O problema principal não é a ganância do empresário, mas o modelo de estado que temos. Claro que certas elites empresariais não ajudam, ao adotar um foco muito imediatista, de curto prazo, com um pragmatismo de horizonte extremamente limitado.

Mas com um governo tão presente na economia, decidindo tudo de cima para baixo, é lógico que as grandes empresas vão tentar capturar esse aparato em benefício próprio. Se há um BNDES distribuindo bilhões a taxas subsidiadas, quem vai recusar?

É uma decisão da sociedade mesmo, sancionada eleição após eleição. O povo brasileiro parece gostar – por masoquismo ou ignorância – de um estado inchado, intervencionista. Desconfia da iniciativa privada, do lucro, dos empresários, e confia no estado como instrumento da “justiça social” e como locomotiva do progresso.

O resultado está aí: grandes empresas mamando nas tetas estatais e dificultando a livre concorrência, mecanismo mais eficiente para redução da pobreza. É o tal capitalismo de estado, ou capitalismo de laços, que os liberais tanto condenam, e a esquerda parece adorar, ajudando a criar gigantes como a própria Odebrecht, em profunda simbiose com o governo.

Depois não venham reclamar e colocar a culpa no pobre do capitalismo de livre mercado, que passou mais longe do Brasil do que Plutão da Terra…

Rodrigo Constantino

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