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A mentalidade patrimonialista em xeque: será que o Brasil mudou mesmo?
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Há duas narrativas da esquerda que têm seduzido muita gente leiga, apesar de serem, como de praxe, totalmente falsas. Uma diz respeito ao “golpe” em curso, à associação da Operação Lava-Jato a um partido ou à oposição, como se tudo fosse apenas para abater o PT, o que incluiria os movimentos espontâneos de rua, como o Vem Pra Rua e o MBL, que estariam a serviço desses agentes políticos; a outra diz que o grande pecado do PT foi ter sucumbido às nefastas práticas patriomonialistas da velha política, como se o “partido” tivesse feito apenas “mais do mesmo”.

Em sua coluna de hoje, o professor Denis Rosenfield rebate ambas, mostrando que a Lava-Jato é claramente uma conquista da sociedade brasileira, não de um partido ou da oposição, e que o PT não fez a “mesma coisa”, e sim algo pior, que não pode ser dissociado do seu esquerdismo, como querem os “intelectuais” (comentei aqui essa tentativa de desinformação para preservar a esquerda). Diz Rosenfield:

Caberia aqui uma observação relativa ao suposto “patrimonialismo” petista. Lê-se frequentemente, inclusive em intelectuais de esquerda, que o PT teria incorrido nas práticas dos partidos políticos tradicionais, como se, em sua pureza, ele tivesse sido seduzido pelo atraso. Os petistas procuram se desresponsabilizar do que fizeram, dizendo ter feito somente mais do mesmo. Igualam-se para se eximirem de sua própria culpa. Tal posicionamento tem ainda o objetivo de manter a pureza da ideia de esquerda, como se esta pudesse simplesmente ser recuperada sem nada reconhecer de feito próprio.

Ora, a corrupção petista é fruto do aparelhamento partidário do Estado, com o intuito de, progressivamente, levar a cabo uma transformação socialista da sociedade brasileira. Ela é bolchevique. Para eles, esse aparelhamento e a sua corrupção seriam meros meios de uma progressiva mudança revolucionária. Ou seja, a corrupção, para além dos benefícios pessoais, seria um instrumento de captura da sociedade e de controle, para isto, de seus meios de comunicação privados. Nesta perspectiva, a corrupção petista, de caráter político revolucionário, inscreve-se na tradição patrimonialista para dela tirar proveito. A corrupção e o aparelhamento partidário do Estado pertencem à própria ideia de esquerda, fazem parte de sua essência.

[…]

A sociedade se sente na Lava-Jato representada. Na verdade, esta não teria condições de ser bem-sucedida se não contasse com esse imenso apoio social. O país se modernizou socialmente. Goza de uma ampla liberdade de expressão, com jornais independentes, investigativos e de opinião, em linhas gerais em defesa do avanço da democracia. Para todos os efeitos, não se trata de um movimento social dirigido contra um partido determinado, mas de afirmação de novos valores e princípios, voltando-se contra qualquer partido que não seguir esses novos valores. Ontem o PT foi o foco principal, hoje é o PMDB, talvez amanhã seja o PSDB ou qualquer outro partido. A moralidade pública tornou-se um princípio da sociedade, e esta exige que a classe política se paute por este novo padrão político.

A ética na política é atualmente um bandeira social. Exige a prudência que a classe política e o novo governo entrem em sintonia com uma sociedade portadora de uma nova mentalidade.

Gostaria de compartilhar do mesmo otimismo da conclusão, mas não estou seguro disso. Não sei até que ponto toda a indignação com certas práticas “políticas” se deve ao cenário econômico. Afinal, o mesmo PT, o mesmo Lula cínico, foram capazes de permanecer no poder por longos 13 anos, a despeito de vários escândalos de corrupção. O que mudou? O mais otimista pode dizer que foi a mentalidade, como argumenta Rosenfield. O mais cético dirá que foi somente a crise econômica.

Eu banco o tucano aqui: fico no meio do caminho. Acho que há uma mudança cultural em curso sim, que se reflete no crescimento dos movimentos liberais e conservadores no país. Mas acho que ainda estamos muito longe de uma efetiva mudança na mentalidade nacional. Somos o país do jeitinho, da malandragem, da Lei de Gérson, do esquerdismo estatizante, e nada disso será alterado num passe de mágica, da noite para o dia.

Se o quadro da economia começar a melhorar, tenho sérias dúvidas se a população não voltará ao seu sonambulismo de sempre, fazendo vista grossa a todo tipo de abuso das autoridades, desde que haja “Pão & Circo”, desde que tetas estatais estejam disponíveis para muitas boquinhas. O apoio que a Rede de Marina Silva ainda possui por aí, o crescimento de um PSOL da vida, tudo isso mostra que estamos bem longe de ter mudado a mentalidade e enterrado a esquerda que quer aparelhar o estado de vez.

Nesse aspecto, tendo a concordar com Olavo de Carvalho: enquanto todo o aparelhamento cultural da esquerda hegemônica não for seriamente desafiado e desfeito, é extremamente prematuro falar em grandes mudanças. O MBL é o sintoma de algo novo no ar, sem dúvida, mas ainda é superficial demais, e estamos falando aqui de coisas bem estruturais. Estamos falando, por exemplo, de toda a doutrinação ideológica marxista em curso em nossas escolas e universidades.

Não quero ser tão pessimista aqui. Vejo ventos de mudança. Mas é que ela ainda levará muito tempo, e não podemos descansar por um só segundo, pois cochilou, o cachimbo cai…

Rodrigo Constantino

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