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Fonte: Folha Fonte: Folha

“As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”, disse Vinícius de Moraes. Roger Scruton escreveu um livro todo sobre a importância da beleza. Mas vivemos num mundo estranho, onde as “minorias” sensíveis se sentem no direito de nivelar tudo por baixo, adotando um relativismo estético que sequer reconhece a existência do feio e do belo, do pior e do melhor.

Toda a minha solidariedade às feias, principalmente àquelas que sofrem com doenças como vitiligo, síndrome de Down ou obesidade. Claro que suas vidas não são tão fáceis como a de Gisele Bundchen ou das modelos lindas da Victoria Secret. Mas será que a resposta, em nome da “igualdade” e da “tolerância”, é tomar as passarelas das bonitas? É o que está acontecendo:

Madeline tem síndrome de Down. Fifi, filha de negros da África do Sul, é albina. O vitiligo de Chantelle se espalha por corpo e rosto inteiros. Melanie nasceu com rara condição genética que afeta o crescimento de dentes, cabelos, unhas, cartilagem e ossos —mesma doença do ator Michael Berryman, escalado por Wes Craven (1939-2015) para seus primeiros filmes de terror.

A vida das quatro poderia seguir um script de pavor, marcado pela rejeição reservada àqueles ejetados do conceito de belo eleito para cada época. Elas, contudo, deram a volta por cima, e nas passarelas, como modelos em alta.

Nos últimos anos, a indústria da moda parece ter sacado que pega bem incluir exceções como os exemplos citados acima, ainda que para confirmar a regra nos desfiles.

Assim, jovens amputadas, paralíticas e “plus size” passaram a caminhar entre uma maioria de meninas à moda Gisele Bündchen —e as grifes não perdem a chance de transformar a novidade em “outdoor” do politicamente correto.

Mas esperem um minuto: o mundo da moda não é o mercado da beleza? Que as feias merecem respeito como indivíduos, que não devem sofrer bullying ou discriminação, isso está claro. Mas daí a achar que, no mercado onde a beleza é o principal produto, as feias devem ter “condições de igualdade” em nome do combate ao preconceito, isso já parece algo totalmente estranho.

Afinal, por essa lógica “igualitária”, qual seria o limite? No mercado de matemáticos, os burros que não sabem fazer contas deveriam ser contratados? No mercado de basquete, os anões deveriam ter sua vez na quadra? No mercado de cinema, os que não sabem atuar deveriam ser escalados para os blockbusters? No mercado político, os incompetentes e corruptos deveriam chegar ao topo? Ops…

Percebem como o politicamente correto exagerou na dose? Em vez de defenderem as “minorias”, o foco passou a ser um ataque aos melhores em suas respectivas áreas. Somente uma cultura com valores invertidos e uma elite muito culpada podem achar normal e até legal ir aos desfiles para ver as feias nas passarelas, em vez de as mais belas e esbeltas. Somos tão culpados assim, a ponto de deixar os relativistas vencerem dessa forma?

A “rebelião das massas” segue seu curso vulgar. É a “ditadura dos ofendidos”, como diz Pondé. A “marcha dos oprimidos” vem com tudo, clamando cada vez mais “direitos” em nome da “igualdade” que apenas mascara a inveja. Conclui a reportagem: Para Fifi, dançar fora do ritmo do mercado é uma forma de acertar o tom. “Há uma razão para eu ser assim: dar uma lição de tolerância para o mundo que teme o desconhecido”. Mas será que é mesmo temor do desconhecido? Ou será que é apenas preferível ver o belo, esteticamente falando?

Há uma razão para sermos atraídos pela beleza. No mundo de hoje, a sua própria existência é colocada em xeque, em nome da covardia igualitária. Por essa ótica, uma sinfonia de Beethoven ou um funk qualquer de péssima qualidade são “apenas diferentes”, e se você preferir Beethoven, saiba que é elitista, preconceituoso e “teme o diferente”. E ninguém tem coragem de falar o óbvio: que isso é um grito de intolerância dos piores em nome da tolerância!

Lamento, repito, que nem todas as mulheres tenham nascido bonitas como a Gisele Bundchen, o que, se fosse o caso, mudaria o próprio conceito de beleza (o normal seria esse padrão). Lamento ainda mais pelo fato de que algumas nascem com ou desenvolvem doenças esteticamente prejudiciais. Mas nem por isso vou aplaudir um “ato de protesto” que, em nome da igualdade, procura anular o conceito de beleza para não ofender as feias.

Rodrigo Constantino

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