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Negócio da China. Ou: Cuidado com o capitalismo de estado, gente!
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O Planalto ficou eufórico com os acordos bilaterais fechados entre Brasil e China, que estimam em mais de US$ 50 bilhões os investimentos chineses em nosso país. O setor de infraestrutura e a Petrobras seriam grandes beneficiados da parceria. Mas é bom ter calma nessa hora…

Em primeiro lugar, não custa lembrar que a China foi a “helping hand” da Venezuela também, quando esta já afundava na crise causada pelo “socialismo do século XXI”. Não adiantou nada, e hoje o legado deixado por Hugo Chávez é o de uma ditadura ligada ao narcotráfico.

Em segundo lugar, a China é conhecida por exigir muitas coisas quando aporta seus bilhões todos, o que tende a ter custo elevado. Não há almoço grátis, e não estamos falando de empresas privadas que desejam investir no país para lucrar, e sim numa estratégia decidida de cima para baixo, pelo regime comunista chinês.

Se o acordo era tão vantajoso mesmo para o Brasil, por que não foi feito antes? Em que condições nosso governo, hoje em crise, aceitou a parceria? O fato de envolver a Petrobras e frigoríficos já levanta algumas suspeitas, não é mesmo?

O que a China significa para o Brasil é a intensificação do modelo de capitalismo de estado, tão aplaudido pelos próprios petistas. O estado é visto como a grande locomotiva do progresso, não os empreendedores. As decisões “estratégicas” e geopolíticas são mais relevantes do que o lucro obtido no livre mercado.

Esse tipo de modelo só tem um “pequeno” problema: não funciona no longo prazo. E gera incentivos perversos na classe empresarial, que passa a “investir” mais em lobby do que em produtividade. Cair nas graças do governo todo-poderoso é questão de vida ou morte.

Dou três exemplos de empresários seduzidos pelo capitalismo de estado e que passaram a defender medidas prejudiciais ao país como um todo. E os três exemplos vêm de um dia apenas de jornal. Uso a Folha desta terça como fonte.

O primeiro caso foi um artigo do presidente da Sete Brasil. Nele, o executivo defendia a cota nacional e o protecionismo como medidas importantes para se evitar a “maldição do petróleo” e estimular a indústria doméstica.

Ou seja, seria positivo para o Brasil a Petrobras pagar mais pelas sondas do que poderia comprando no exterior, para estimular a indústria local. Ignora-se aquilo que não se vê: para onde iria essa economia feita.

A economista Monica de Bolle, em sua coluna também na Folha, já atacou esse mito do protecionismo, mostrando como a abertura comercial é vantajosa para o país. Escreve Monica:

Os argumentos contrários à abertura tendem a ser bem-sucedidos porque, se é fácil enxergar onde empregos serão perdidos devido ao aumento das pressões competitivas, é difícil ver onde novos empregos surgiriam em razão do maior acesso às novas tecnologias e aos novos mercados motivado pelo comércio.

Mas a realidade é que, ao aumentar os custos dos insumos, o protecionismo permite que firmas estrangeiras do mesmo ramo sejam mais competitivas do que os exportadores domésticos. Desse modo, o protecionismo pune o trabalhador.

[…]

A resposta, portanto, é que a abertura econômica não é “inimiga do povo”. Ela tende a facilitar o futuro, enquanto o protecionismo tenta reconstruir o passado. Fica a cargo do leitor o julgamento sobre o que é melhor para o Brasil. 

O segundo exemplo vem da coluna de Benjamin Steinbuch, da Fiesp e da CSN.  O empresário parece o homem de uma nota só, sempre condenando a alta taxa de juros. Prefere atacar o sintoma em vez da causa. Já tinha essa bandeira lá atrás, quando Dilma efetivamente seguiu seus conselhos e marretou a taxa de juros artificialmente para baixo. Deu no que deu: inflação alta.

Mas o empresário não acusa o golpe, não reconhece o erro, e apresenta a mesma receita agora. Para quem tem apenas um martelo tudo se parece com prego. “Os juros sufocam o país com custos abusivos e seus graves efeitos colaterais, como o aumento da dívida pública e a apreciação do câmbio. E não se ouvem críticas. É um silêncio assustador”, conclui.

Ora, claro que se ouvem críticas! Os liberais cansaram de apontar para o problema, mostrando que as medidas “desenvolvimentistas” do governo, defendidas pelo empresário, levariam a essa situação. Atacamos a origem do mal, não seu sintoma. Mas Benjamin prefere pedir mais ajuda estatal, BNDES ativo e juros manipulados, em vez de atacar o Custo Brasil que tira nossa competitividade.

Por fim, temos uma entrevista com Rubens Menin, presidente da MRV. Nela, o empresário descarta qualquer existência de bolha imobiliária e quer mais estímulos (ainda) do governo. Quer a liberação do compulsório e os bancos públicos emprestando mais para seus clientes.

Participei de um evento em Belo Horizonte há cerca de um ano em que Rubens foi o palestrante do painel anterior. Lembro de ter ficado impressionado com tanto otimismo. Ele elogiava com entusiasmo as políticas do governo para o setor, e rechaçava qualquer possibilidade de bolha.

Falei logo depois, e mostrei um país bem diferente, um governo irresponsável que fomentava uma possível bolha de consumo e imobiliária, e que gerava apenas prosperidade ilusória e insustentável. Creio que estava mais certo do que o empresário, que ainda demanda mais estímulos estatais.

Os três exemplos, todos retirados de um só dia de jornal, mostram como boa parte de nosso empresariado se acostumou a viver das benesses estatais, de privilégios, de estímulos, de barreiras protecionistas, de subsídios. Isso é capitalismo de estado, e não favorece o país como um todo, ao contrário do liberalismo.

Com isso em mente, será que devemos acompanhar o Planalto e soltar fogos de artifício – criados na China – por conta dos acordos bilaterais assinados entre nosso governo e o regime chinês?

Rodrigo Constantino

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