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Nem a esquerda radical brasileira pode estar feliz com o Mercosul. Ou: Vamos ser explorados pelos americanos!
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Em sua coluna de hoje na Folha, Demétrio Magnoli tocou em um ponto que tenho martelado bastante por aqui: a ideologização do Mercosul como entrave para o avanço do Brasil. Diz o sociólogo:

O “novo Mercosul”, um diretório político tripartite, emergiu com o ingresso da Venezuela. A reinvenção implicou o abandono do regionalismo aberto do Mercosul original e a absorção paulatina dos cacos da Aliança Bolivariana das Américas. Subordinado aos dogmas do chavismo e do kirchnerismo, o bloco do Cone Sul tornou-se um obstáculo intransponível para a negociação de acordos comerciais. Certeiro, o presidente uruguaio José Mujica acusou a “política insular” da Argentina de estar “arruinando o Mercosul”.

Faz mais de três anos que Vera Thorstensen avisou, quando deixava a missão brasileira em Genebra: “a dinâmica atual do comércio internacional não está mais na OMC e sim nos acordos regionais”. De lá para cá, os EUA engataram as negociações dos mega-acordos da Parceria Transpacífica (TPP), com as grandes economias asiáticas (exceto a China), e da Parceria Transatlântica (TTIP), com a UE. Se concluídos, os dois acordos transcontinentais deslocarão para o seu interior o processo de formulação de normas de comércio e investimentos, completando o esvaziamento da OMC. Os países da Aliança do Pacífico ocuparam lugares no trem dos mega-acordos; o Brasil ficou na plataforma, segurando um guarda-chuva para a Argentina e a Venezuela.

“Se a dinâmica é fazer acordos regionais, o Brasil deveria estar negociando não só no eixo Sul-Sul, mas no eixo Norte-Sul”, sugeriu Thorstensen. O problema é que, sob Lula e Dilma, a expressão “eixo Norte-Sul” converteu-se numa abominação doutrinária para a política externa brasileira. Agora, assustado com as consequências da obstinação ideológica, o Itamaraty ajoelha-se diante de Cristina Kirchner implorando por um consenso improvável que não feche todas as portas do Mercosul ao acordo com a UE.

[…]

A noção da Ilha-Continente nutriu o nacionalismo imperial, forneceu um alicerce mítico para a manutenção da unidade territorial e ofereceu argumentos utilizados nas negociações de limites com os países vizinhos. Hoje, ressurge na forma de uma muralha anacrônica que nos isola dos fluxos da globalização.

Ou seja, o Mercosul tem sido responsável pelo crescente isolamento do Brasil, enquanto outros países fecham acordos bilaterais favoráveis, inclusive com os Estados Unidos. Isso precisa mudar. O Brasil precisa abandonar essa camisa de força bolivariana e mergulhar na globalização, abrir seus mercados, fechar acordos com Europa e Estados Unidos.

Tenho certeza de que até a nossa esquerda mais radical vai concordar com isso. Sei que sua retórica é antiamericana, que repetem ad nauseam que praticar comércio com os “ianques” é ser explorado, que a globalização “neoliberal” é o neocolonialismo, tudo isso. Mas é tudo da boca pra fora.

Como sei disso? Ora, basta ver que sempre usam o embargo americano como justificativa para a miséria cubana! Ou seja, na prática, mesmo nossos marxistas mais ferrenhos compreendem que ser “explorado” pelos capitalistas egoístas da América do Norte é algo favorável, que cria riqueza.

Eis uma campanha que pode unir, portanto, liberais e marxistas: vamos ser explorados pelos ianques! Deixemos o Mercosul falido de lado, abandonemos o bolivarianismo, que tem servido apenas para que líderes populistas de outros países abusem de nossa passividade, e abracemos logo de uma vez a globalização, para que sejamos muito explorados pelos americanos e não tenhamos o mesmo destino cruel dos irmãos cubanos. Topam?

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