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O adultério de Trump e a seletividade moral da imprensa
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Donald Trump está sendo massacrado na imprensa (que novidade!) por conta de revelações de uma atriz pornô, que teria se envolvido com ele há mais de uma década e recebido dinheiro em troca do silêncio. Em que pese a estranha credibilidade moral que uma prostituta passou a ter pela ótica dos jornalistas, cabe perguntar: mesmo sendo tudo verdade, isso torna Trump um presidente imoral que deve ser rejeitado pelos conservadores?

Ao menos um importante conservador diz que não. Dennis Prager é um conservador judeu conhecido por sua rigidez moral. Mas ele não acredita que um presidente deva ser julgado com base em suas peripécias amorosas fora do casamento. Em um artigo publicado no Townhall, Prager sustenta que não é isso que faz alguém um bom líder político ou não, afirma que há outras questões morais ainda mais importantes, e ataca a hipocrisia da mídia.

Para Prager, um adultério pode invalidar moralmente um pastor, um rabino, mas não necessariamente um político. A grande vocação dos líderes religiosos é ser um exemplo moral, um guia espiritual, um exemplo de conduta pessoal. Os clérigos não decidem sobre guerras, não assinam orçamentos nacionais, não apontam juízes e não controlam relações diplomáticas.  Ou seja, ao contrário dos líderes religiosos, o que o presidente faz afeta diretamente a vida de milhões de cidadãos. Se o presidente for um modelo moral, isso é um ótimo bônus, diz Prager. Mas essa não é sua principal função neste cargo. Neste papel, as prioridades são outras.

Além disso, Prager reconhece que há várias facetas de um julgamento moral, e que o adultério, por mais que seja pecado pela ótica religiosa, não é o critério mais relevante para se determinar o caráter de alguém. Existem gradações de pecado, diz o autor. Uma pessoa pode ter um comportamento ético em várias áreas da vida e, ainda assim, ter escorregado em seu compromisso matrimonial, sendo infiel. Não é o ideal, mas não é prova inconteste de que se trata de um salafrário em todos os aspectos. Isso vale para quando a infiel é a mulher também, que fique claro.

O outro ponto levantado por Prager diz respeito ao grau de importância do adultério frente às políticas de um presidente. Ele pergunta se seria preferível ter um presidente com uma visão racista de mundo, ainda que fiel como marido, ou alguém infiel, mas que mantém uma visão de igualdade racial?

Além disso, Prager bate nas prioridades e na hipocrisia da mídia. Ele diz que julga bem mais nocivo à moral da nação o fato de um jornalista como Anderson Cooper, no programa “60 Minutes”, perguntar abertamente se Trump, na época do relacionamento, utilizou camisinha, do que uma eventual pulada de cerca ocorrida 12 anos atrás. Para Prager, o fato de que a imensa maioria considera essa uma pergunta normal revela mais da decadência moral americana do que o affair do presidente.

Por fim, deve ficar claro que a preocupação enorme com a vida conjugal de Trump não tem absolutamente nada a ver com aspectos morais, e sim com a obsessão da mídia em humilhar o presidente e, assim, enfraquece-lo. Essa tem sido a raison d’etre da imprensa desde o dia da eleição, após o choque da decepção com o resultado surpresa.

Como prova, Prager cita o reverendo Martin Luther King Jr., reverenciado por quase todos como um símbolo de luta moral, apesar de vários relatos de adultério em sua vida. O senador Ted Kennedy também costuma ser retratado por lentes favoráveis, até mesmo idolatrado como “o leão do Senado”, mas ele era conhecido por sua luxúria, bem maior que a do próprio Trump. Outro Kennedy, o mais querido do clã, JFK, tinha casos extraconjugais regulares na Casa Branca, e o Serviço Secreto era usado para alerta-lo quando a esposa estava prestes a chegar. Não podemos deixar de fora Bill Clinton, claro. E tantos, tantos outros.

Por conta disso tudo, e lembrando que os próprios editores e jornalistas do Washington Post e do NYT deveriam ser cobrados pelos mesmos critérios, já que a fidelidade é tão importante para determinar o caráter de uma pessoa, Prager conclui com um apelo aos conservadores anti-Trump: reduzam o tom de “horror moral” em relação a Trump, pois isso é cortina de fumaça que a esquerda usa para ataca-lo. Ele finaliza:

O fato é que não é da minha conta e não me interessa se um político já teve um caso extraconjugal. Para citar apenas um dos muitos exemplos, a atitude de um presidente em relação aos tiranos islâmicos defensores do genocídio em Teerã é incomparavelmente mais significativa do ponto de vista moral. Essa é apenas uma das muitas razões – apenas por motivos morais – por que até agora prefiro o atual presidente ao presidente anterior fiel à sua esposa.

Trump não é, de fato, um ícone da moralidade, mas tampouco ele tem esse papel, ou esse papel como prioridade. Conservadores que pregam os valores morais da família têm todo direito de se incomodar com um presidente com tais antecedentes. Mas Prager tem um bom ponto quando lembra que ser referência moral como marido está longe de ser a função mais relevante de um presidente.

Entre um infiel que defende a civilização ocidental e um fiel que só fez se aproximar dos inimigos da liberdade e enfraquecer o Ocidente, não há a menor dúvida de qual escolher. Até porque as principais críticas a Obama nunca foram relacionadas ao seu caráter como marido, e sim ao seu socialismo. Da mesma forma, os principais elogios a Trump não têm qualquer ligação com seu papel como marido.

Rodrigo Constantino

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