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Em meio à polarização política, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), aposta na possibilidade da consolidação de uma terceira via, de centro, para as eleições de 2022. Alcolumbre avalia que as eleições municipais do ano que vem servirão como uma prévia para a disputa presidencial, já que o fim das coligações proporcionais deve levar a uma diminuição de partidos, que, por sua vez, influenciará as alianças nos pleitos seguintes. O presidente do Senado disse:

A gente vai ter a fotografia, na eleição municipal, do que vai ser a eleição nacional. Mas, do meu ponto de vista, a esquerda vai ter 25% dos votos, a extrema-direita, liderada pelo PSL, talvez tenha também 25% dos votos, e vai acabar (com) esses partidos de centro, centro-direita, ficando com esses 50%. Então acho que isso vai se refletir também na eleição geral de 2022.

O economista e ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, em entrevista à Folha, também se mostrou otimista quanto ao espaço disponível para o crescimento de um centro mais moderado e racional:

A polarização como estratégia já está dando sinais de que não deu certo. Existe uma massa crítica meio espalhada, espero que com o tempo se reorganize. Divergências acabaram beneficiando os extremismos. O centro não pode repetir esse erro. E mesmo economistas mais liberais já admitem incorporar a política social na formulação de políticas econômicas. 

Arminio apoia o apresentador Luciano Huck, que não desistiu do sonho de ser presidente, tendo apenas postergado a ideia. Reportagem da Folha deste fim de semana mostra como o apresentador tem se encontrado com lideranças políticas, intensificando as articulações de olho em 2022:

Gestos recentes, tanto de iniciativa dele quanto de atores externos, indicam estar em curso o surgimento de uma campanha para ocupar o espaço do centro na sucessão de Jair Bolsonaro (PSL), que já disse que deve tentar a reeleição.

Huck desde 2017 se articula ancorado no seu engajamento em movimentos que pregam renovação política. Ele agora estabeleceu um ritmo acelerado de conversas com líderes políticos e partidários, entrevistas à imprensa, palestras em eventos para formadores de opinião e aparições públicas para debater temas urgentes, como a crise na Amazônia.

Nos bastidores, o caldeirão de Huck também ferve. Ele passou a aproveitar as muitas viagens para gravações (chega a visitar três estados por semana) para reuniões com governantes e influenciadores.

Foi assim, por exemplo, que esteve neste ano com os governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), e do Paraná, Ratinho Junior (PSD). No encontro com o filho do apresentador Ratinho, Huck estava com Junior Durski, criador do Madero, rede de hamburguerias da qual é sócio.

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), também esteve no rol dos que sentaram com Huck. Há três meses, o tucano participou de evento no Instituto Criar, ONG fundada em 2003 pelo apresentador.

O núcleo embrionário em torno da ideia reúne figuras experimentadas: Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central (governo FHC); PauloHartung, ex-governador do Espírito Santo (que passou por PMDB, PSDB, PPS e PSB e hoje está sem partido); e Roberto Freire, dirigente do Cidadania, disposto a tudo para garantir o “passe” do novato.

Entendo essa movimentação como positiva se Huck for o candidato do lado “progressista”, com Arminio Fraga como mentor na economia. Ou alguém prefere o lulismo, ou então um desvairado como Ciro Gomes? É positivo para a democracia se a esquerda não for mais representada por seres jurássicos, e sim por gente mais moderada e que respeita as vantagens do mercado capitalista.

Já do lado direito temos as movimentações de João Doria, governador de São Paulo, para ocupar o nicho de um centro moderado que aproveita os pontos positivos do governo Bolsonaro, mas sem os excessos do bolsonarismo. Doria vem tentando colocar o presidente afastado num gueto extremista, sem rejeitar a essência de sua pauta.

O problema de ambos os lados desse centro foi apontado pelo site O Antagonista: nessa matemática, falta combinar com todos aqueles que defendem a Lava Jato e o endurecimento no combate ao crime, bandeiras associadas à “extrema-direita” num país doente como o nosso. Diz o site: “O Centrão ainda não entendeu que o eleitorado anti-Lava Jato já foi dominado pelo lulismo. O outro campo, que é amplamente majoritário, nunca vai votar num apoiador da ORCRIM”.

Eis o grande calcanhar de Aquiles do centro: sua postura frouxa diante da bandidagem, seja de colarinho branco, seja de traficantes com armamento pesado. A exploração que alguns fizeram da morte trágica da menina Ágatha Félix numa operação no morro do Alemão mostra bem isso: Rodrigo Maia chegou a falar em rever pontos do projeto anticrime de Sergio Moro, que passou a ser quase o responsável por ter puxado o gatilho da arma que matou a garota – sendo que nem se sabe ainda se o tiro veio da polícia ou de bandidos.

O povo percebe o oportunismo abjeto, a campanha contra Moro, Witzel, Bolsonaro e o que eles representam em termos de mudança de postura no combate à criminalidade. Predominou no Brasil, por décadas, a mentalidade hegemônica “progressista”, que trata marginal como vítima da sociedade, que prega o desarmamento de cidadãos ordeiros, que propõe “soluções” românticas como “educação” para enfrentar a bandidagem, e que é leniente com os corruptos do andar de cima.

Isso o grosso da população não vai aceitar mais, não quer retrocesso. Está vendo os avanços com a mudança de postura, a queda nas taxas de violência, o sucesso da operação Lava Jato. Um centro que fala manso com traficantes e com corruptos não terá muito apoio. A força dessa bandeira é tão grande que o próprio Bolsonaro pode sofrer perda de popularidade se se afastar do lavajatismo para proteger seu filho. Esse racha, só com as suspeitas e indícios, já tem ocorrido na base.

Ou seja, há mesmo um espaço a ser ocupado por um centro mais moderado, pois muitos estão cansados do excesso de polarização, do clima tóxico das redes sociais, do tribalismo que retroalimenta petistas e bolsonaristas, como se fossem as únicas alternativas concretas. Há demanda reprimida por algo mais sereno, reformista, moderado, tanto à esquerda, como à direita. Desde que isso não signifique o abandono da política dura de combate ao crime. Essa é a condição sine qua non. Resta saber qual centro chuta essa bola…

Rodrigo Constantino

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