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O equívoco de Olavo de Carvalho e Antonio Gramsci
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Por Claudir Franciatto, publicado pelo Instituto Liberal

Digam o que disserem, Olavo de Carvalho é, sem dúvida, um herói. Ele ficou solitariamente pregando no deserto, árido e estéril, por mais de 20 anos. Até que sua voz encontrou eco. Com seu jeito de filósofo Dercy Gonçalves desafiando ad aeternum o politicamente correto, arrasta uma multidão de seguidores bem orientados num maduro antimarxismo – e hoje os “olavos” são muitos.

Ele vem perseverantemente denunciando o bem-sucedido plano gramscista de dominação cultural de cunho marxista, projeto esse engrossado pelos tresloucados da escola de Frankfurt, e avançando sempre, a despeito da filosofia de resistência conservadora no jardim das aflições.

Só que, passado mais de meio século dessa tramada infiltração doutrinária nos meios de educação, cultura e religião, o capitalismo se encontra mais forte que nunca. O máximo que conseguiu foi ampliar o número de hipócritas. Ou seja, à esquerda propriamente dita se juntou a chamada esquerda caviar ou de butique.

Aliás, até os comunistas, como os chineses, se converteram ao sistema capitalista. Por que? Simplesmente porque Gramsci estava errado ao subestimar a força da infraestrutura produtiva, assim como Olavo de Carvalho. Ambos os filósofos, um à esquerda e outro à direita, superestimaram a possível ação revolucionária a partir de uma superestrutura ideológica. O sucesso do gramscismo se dá nesse arcabouço, mas seu projeto é impotente para mudar todo o sistema. Simplesmente porque este se apoia na infraestrutura produtiva, onde se dá a chave de todo o enigma: a geração de riquezas.

Quando o mestre Olavo diz que é ilusão dos liberais a ênfase na economia, ele está sim exagerando a importância dos costumes. É da base (infraestrutura) para o arcabouço ideológico e cultural que tudo acontece, e não o contrário. Só por isso Gramsci falhou. Ele achava que eram as entranhas culturais e religiosas da burguesia que sustentavam o capitalismo, por isso seria inútil tentar a luta armada. Mas o fracasso do projeto socialista vai sempre esbarrar na equação que só a ordem espontânea – aquela que criou o capitalismo e sua superestrutura ideológica e cultural – soluciona: como gerar riquezas que sustentem uma nação e façam seu povo viver com maior sensação de bem-estar?

O enganoso welfare state da socialdemocracia só prova que de nada adianta um arcabouço socialista. Sempre esbarrarão no “decifra-me ou te devoro”. Como extrair recursos através da inovação ininterrupta sem que haja liberdade de empreender? Como responder aos reclames insaciáveis de bilhões de homo sapiens tecnologicamente consumistas sem um mercado livre e cada vez mais dinâmico e inovador?

A chave de tudo é o liberalismo econômico. Ele será sempre o que tornará estéreis as estocadas desse pesadelo feérico da utopia comunista. No Brasil de hoje, por mais que sejam importantes – e são mesmo muito – os projetos de “desesquerdização” nas escolas, nas igrejas, na mídia, etc, o sucesso do governo liberal-conservador de Bolsonaro estará nas mãos da equipe de Paulo Guedes. Se ela conseguir descentralizar decisões e recursos, emagrecer o Estado e energizar os agentes produtores de riquezas, todo o esforço gramscista com seus “intelectuais orgânicos” agindo nas escolas, na mídia e nas igrejas virá abaixo. Olavo de Carvalho é, portanto, um seguidor de Gramsci ao subestimar o protagonismo do liberalismo econômico e supervalorizar os aspectos coadjuvantes da moral e dos costumes.\

*Sobre o autor: Claudir Franciatto é jornalista e escritor.

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