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O espantalho bolsonarista: “mas Maia não era o queridinho da imprensa, um estadista?”
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A aprovação da “minirreforma partidária e eleitoral” ontem na Câmara gerou grande revolta na sociedade, e uma guerra de narrativas tomou conta das redes sociais. 252 deputados legislaram em causa própria, virando as costas para o povo. Entre eles, a liderança de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, que disse ter levado em conta as críticas legítimas ao projeto, mas resolveu ignora-las mesmo assim.

Todos aqueles acusados de “isentões” ou “prostitutas do Centrão” pelos bolsonaristas não pouparam Maia de pesadas críticas. O MBL, por exemplo, espalhou mais de um meme contra o corporativismo dos políticos, destacando a imagem do próprio Maia:

Imediatamente, passou a circular no Twitter a entrevista recente de Kim Kataguiri, ligado ao MBL, em que dava uma nota 8 ao presidente da Câmara, com foco na reforma previdenciária. Usaram isso como “prova” de que o MBL é “maiete”, ou seja, puxa-saco do deputado. Ora, eu já dei nota 7 para o governo Bolsonaro em comentário na Jovem Pan, e isso não impede a mesma turma de repetir que sou “inimigo” do presidente, um “esquerdista” (risos). Notas mudam a cada prova, ora bolas!

Usaram também o fato de Kim pertencer ao mesmo partido de Maia. Os mesmos que ontem diziam que partido não importa, que PSL não é Bolsonaro e Bolsonaro não é PSL, hoje acordaram dando a maior importância ao partido. Não é incrível o foco seletivo dessa turma?

No mais, os tais “isentões”, incluindo jornalistas difamados diariamente por bolsonaristas, como minha colega de bancada no 3em1 Vera Magalhães ou meu editor Carlos Andreazza, criticam muito mais Rodrigo Maia do que bolsonaristas criticam Bolsonaro, o que é mais raro do que petista honesto. Mas, claro, isso é apenas outro “detalhe” que não pode ser lembrado para não estragar a narrativa…

Andreazza, aliás, foi enfático na crítica que fez a Maia e aos demais deputados que votaram a favor, afirmando que é esse tipo de coisa que atenta contra o Parlamento:

Portanto, vemos que muitos bolsonaristas insistem numa narrativa furada, espalhando Fake News por aí. É como se os jornalistas em geral, os “isentões”, os liberais, todos passassem pano para tudo que Maia faz só para atacar Bolsonaro. É pura inversão, ou projeção, já que são eles que passam pano em tudo que Bolsonaro faz de errado, e são incapazes de elogiar o que Maia ou outros fazem de certo. Falta independência de análise a essa gente.

“Ué, não é a imprensa que vive batendo palmas para o ‘primeiro ministro’ Rodrigo Maia?”, questionou um leitor bolsonarista. “Ué, quem é que estava elogiando o ‘excelente trabalho’ do Geléia outro dia desses?”, perguntou outro. “Calma Constantino, as ‘instituições’ são ótimas kkkkkkkk”, ironizou um terceiro. Tudo espantalho!

Nenhum liberal acha que as instituições republicanas estão funcionando uma maravilha no Brasil. Eles apontam os defeitos, mas reconhecem que a alternativa “jacobina” é pior. Vários aproveitaram a decisão desta quarta para dar razão a Olavo e Carluxo, ou seja, parece que a fala do filho pitbull do presidente pode voltar a ser interpretada como golpista agora: a democracia não presta e é preciso buscar um atalho.

É esse o grande perigo! Os “isentões”, termo tão elástico que hoje abriga qualquer um que não seja bolsonarista – o perfil de gado de quem apoia tudo incondicionalmente que venha do presidente, sabem muito bem dos problemas do Parlamento, quem é Rodrigo Maia, quem são os caciques da velha política. Mas eles também sabem que pregar solução fora da política é temerário, um flerte suicida com autoritarismos.

Política é complicado mesmo. Não há espaço para narrativas binárias, maniqueístas. Maia acertou muito na condução da reforma previdenciária, mas é quem é, e ontem mostrou que sempre será o mesmo.  E não custa lembrar que o MBL e o Partido Novo apoiaram Marcel van Hattem, que foi a principal voz contra essas mudanças eleitorais abjetas, enquanto quem apoiou Maia para presidir a Câmara foi o PSL e os Bolsonaro.

Bolsonaristas apontam MBL e Novo como ícones do “centrão”, e ontem mesmo Leandro Ruschel chegou a acusar o MBL de ter Maia como chefe! Essa gente não tem qualquer compromisso com a verdade, pois só importa a narrativa. Será que Ruschel tem coragem de fazer um meme depreciativo contra Bolsonaro, como MBL fez com Maia? Todo “revolucionário de Twitter” é, no fundo, um covarde mentiroso, pois só interessa a narrativa e demonizar os “inimigos”.

Os que mais lutaram pela reforma previdenciária do governo foram justamente o MBL e o Novo, não o PSL ou o próprio presidente, que cedeu às pressões corporativistas. Maia não é queridinho da imprensa, muito menos dos liberais. Mas tampouco Bolsonaro o é. E por isso os liberais criticam tanto os aspectos negativos do governo e, principalmente, da família do presidente.

É isso, no fundo, que parece imperdoável para bolsonaristas. Como eles estão numa guerra constante, fiéis não a valores e princípios, mas ao seu líder, então não precisam de coerência, de apreço aos fatos, pois basta a narrativa que sempre encontra um jeito de defender Bolsonaro e atacar os liberais. Os bolsonaristas não sobrevivem sem espantalhos…

Rodrigo Constantino

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