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O problema não é só o PT, mas toda a esquerda
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Em entrevista ao GLOBO, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, avalia que chegou a hora de o PT e Lula apoiarem antigos aliados históricos. Diz ele:

A esquerda é diversificada e numa eleição de dois turnos, os partidos vão buscar seus projetos próprios ou se agregando a outros. Não creio na unidade da esquerda no primeiro turno. Se tivesse que haver unidade, o PT deveria compreender que já cumpriu seu papel e tem que apoiar outros candidatos de esquerda, não necessariamente ter que ser apoiado por eles. Essa é uma questão democrática dentro da própria esquerda e o PT tem uma visão exclusivista, pensa sempre em torno dele próprio e não em torno de seus parceiros. O reflexo maior disso foi que, quando chegou o seu governo, em vez de colocar como seus aliados estratégicos os partidos que lhe apoiaram desde 1989, escolheu o PMDB.

O PT já cumpriu seu papel, diz ele. E qual seria esse? Destruir a economia brasileira e jogar 15 milhões no desemprego? Colocar nossa democracia em xeque e mirar no modelo venezuelano? Espalhar a imoralidade pelo país todo? Qual papel exatamente o PT já cumpriu?

Quando pensamos sobre isso, fica claro que o grande problema nosso não se resume ao PT ou a Lula, ainda que ambos sejam ameaças terríveis; o problema é toda a esquerda! Dos mais radicais aos mais “moderados” ou “isentões”, a esquerda brasileira ficou parada no tempo, acha que uma figura como Lula, um marginal, teve um papel a cumprir em nossa democracia, dando a entender um papel positivo, claro. Acha que o PT, uma quadrilha disfarçada de partido, teve um legado a ser valorizado.

Essa esquerda flerta com a imoralidade, a corrupção e o totalitarismo. Qualquer um que encara o saldo do lulopetismo como positivo para o Brasil só pode ser inimigo do povo brasileiro. Em seu editorial, o Estadão aponta para esse aspecto de nossas esquerdas:

O caso do PT é o mais óbvio. A insurgência do partido contra as instituições não começou agora, em razão das vicissitudes judiciais de seu poderoso chefão, Lula da Silva, mas há muito tempo, praticamente desde a sua fundação. Quando o PT estava na oposição, não houve um único presidente da República contra o qual o partido não tenha feito campanha pelo impeachment. Uma vez no poder, o PT tratou de desmoralizar a política institucional, ao remunerar parlamentares em troca de votos e ao financiar partidos associados e a si mesmo com dinheiro desviado de estatais. De volta à oposição, por força do impedimento da presidente Dilma Rousseff, o PT seguiu em sua campanha de desmoralização das leis e da democracia, ao enxergar golpistas no Congresso e até no Supremo Tribunal Federal e ao deixar de reconhecer os crimes fiscais cometidos pelo “poste” inventado por Lula da Silva. Portanto, não constitui nenhuma novidade o fato de que o PT esteja a mobilizar mundos e fundos para não apenas jurar a inocência de seu padrinho, mas principalmente para atacar, de roldão, todo o arcabouço institucional brasileiro – Congresso, Judiciário e imprensa livre.

Diante disso, pode-se imaginar a frustração do eleitor que é de esquerda, mas não compactua com o “esquerdismo”, que, no léxico leninista, conforme lembrou Luiz Sérgio Henriques em artigo a propósito da hostilidade do PT à democracia (A difícil identidade do petismo, 21/1, pág. A2), designa um comportamento infantil, que tende a ver o mundo pela óptica do radicalismo, sem o menor espaço para a negociação.

Os verdadeiros partidos de esquerda – não os “esquerdistas” – são aqueles que não confundem a luta política com a destruição dos pilares da democracia representativa. Não é possível se considerar genuinamente de esquerda – o que inclui não apenas fazer a crítica ao sistema capitalista, mas também defender de modo intransigente as liberdades políticas e civis – e apoiar ao mesmo tempo ditaduras como a da Venezuela, como fazem oficialmente o PT e o PSOL.

Ademais, como salientou Luiz Sérgio Henriques em seu artigo, os partidos esquerdistas hoje no Brasil são reféns do culto à personalidade, alçando Lula da Silva à categoria de santo e impedindo, dessa maneira, a renovação de sua liderança. O resultado é a transformação do PT em mera barricada atrás da qual Lula pretende se proteger da Justiça.

A julgar pelo que dizem os capas pretas do petismo, nada disso vai mudar. O ex-prefeito Fernando Haddad, coordenador da campanha de Lula, por exemplo, disse ao Estado que “a esquerda vai ter que se repensar” a partir de 2019, mas se negou a reconhecer os erros do partido, atribuindo-os ao “sistema”, e reafirmou que “o lulismo vai sobreviver ao Lula por força de sua liderança”. Ou seja, a principal força política e eleitoral da autointitulada “esquerda” no País continuará refém do pensamento autoritário e excludente que tão bem caracteriza o demiurgo petista.

Enquanto nossas esquerdas, “diversificadas”, insistirem na importância do papel do PT e de Lula, ou enaltecendo figuras como Fidel Castro, ou elogiando regimes como o venezuelano, elas jamais poderão ser levadas a sério dentro de um debate civilizado e democrático, que deveria ter espaço para um pensamento mais à esquerda.

Um desses esquerdistas que tenta romper com esse esquerdismo tosco e jurássico é o sociólogo Demétrio Magnoli. O problema é que Magnoli tenta livrar a esquerda do legado terrível de Lula, que ele joga para um “capitalismo selvagem”, como escreveu em artigo hoje no GLOBO:

Sob o governo Lula e a tríplice aliança PT-PMDB-PP, a Petrobras foi saqueada em R$ 88,6 bilhões, segundo cálculos da própria estatal, em balanço divulgado (e depois removido) em janeiro de 2015. Qual foi a contrapartida patrimonial do “garantidor geral do esquema”, como os desembargadores qualificaram Lula, se dermos como certo que o ex-presidente recebeu como presentes tanto o tríplex quanto o sítio? O primeiro está avaliado em menos de R$ 1,2 milhão. O segundo foi adquirido, em 2010, por R$ 1,5 milhão, e sua reforma custou R$ 700 mil, segundo planilha do departamento de propina da Odebrecht. São valores insignificantes, diante da operação de rapina da Petrobras.

Corrupção é corrupção, os valores são secundários. Mas o cotejo evidencia que o sonho de Lula era perenizar seu poder político e seu prestígio pessoal, não acumular patrimônio notável. Imóvel de novo-rico em edifício de estilo mais que duvidoso, o tríplex situa-se em praia atingida por vazamento de esgotos. Já o sítio de Atibaia, com seu lago, seus marrecos, seus pedalinhos e a improvável estátua de um Cristo Redentor, pertence à categoria das casas de campo da alta classe média paulista. “Gostoso”, segundo Lula, é trotar numa praia urbana com os netos, assar churrascos e derrubar cervejas em rodas de puxa-sacos do domingão. Os seus sonhos suburbanos converteram-se, desde 2003, na fonte de inspiração de um programa de governo. Até certo ponto, o Brasil foi reinventado a partir delas.

[…]

O Brasil do lulismo está em todos os lugares, da periferia paulistana à Baixada Fluminense, passando pelos povoados de praia nordestinos, nas paisagens em alta definição de semianalfabetos com smartphones, puxadinhos sem massa corrida adornados de parabólicas, montanhas de lixo plástico e latinhas de cerveja arrastadas pelas chuvas, correntes de esgotos infiltrando-se pelos córregos — tudo sob a zoeira nauseante de igrejas barulhentas e o funk-pancadão de sentenças abomináveis. O capital social não é “gostoso” — ao menos no horizonte imediato da próxima eleição. Nos anos dourados que não voltam mais, nos esquecemos da escola, da praça, do parque, da calçada, da quadra pública, do saneamento básico, do ônibus, do metrô. A “esquerda” lulista escolheu o capitalismo selvagem do consumo privado, do crédito popular, do cartão magnético, das Casas Bahia e do Magazine Luiza.

Demétrio condena a “ética e estética da destruição”, que seria a herança de Lula. Ele erra ao apontar para o baixo valor dos imóveis dados como propina, pois ignora os outros vários milhões acumulados pelo ex-presidente em “palestras” fictícias, e isso é só o que temos de oficial. Lula é um multimilionário hoje, como seus filhos também. Não é um sitiozinho apenas, como diz Demétrio.

A tentativa de culpar o “capitalismo selvagem” pela desgraça petista tampouco parece aceitável. É como alguns já ensaiam na Venezuela: Maduro não seria de esquerda na verdade. “Deturparam Marx”. O que essa gente ignora é que o esquerdismo latino-americano é quase todo jurássico e totalitário, e leva inexoravelmente a esses resultados que vimos na Venezuela de Chávez e Maduro, no Brasil de Lula e Dilma, no Equador de Correa, na Bolívia de Morales etc.

Não dá para aliviar a barra da esquerda, ou “das esquerdas”, pois todo esse caos social e econômico é produto direto do esquerdismo ultrapassado dessa turma. Quando vemos políticos “moderados” afirmando que Lula e o PT cumpriram seu papel, como se tivessem feito algo positivo pelo Brasil, essa constatação fica evidente: não dá para culpar o PT e Lula e ignorar o PSB, a Rede, o PDT, o PSOL e mesmo o PSDB. São todos, de certa forma, cúmplices dessa tragédia, pois nunca conseguiram abandonar o esquerdismo radical, e ainda enxergam com bons olhos a trajetória de Lula e sua quadrilha.

Rodrigo Constantino

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