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O trânsito é nosso Vietnã
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A reportagem de capa da revista VEJA dessa semana traz dados atualizados e mais realistas acerca da quantidade de vidas perdidas em acidentes de trânsito no país. São estarrecedores, chegando a 60 mil mortes! A revista chama a atenção para o verdadeiro culpado desse absurdo:

Costumam-se apontar a precariedade das estradas, a infraestrutura deficiente, a falta de ciclovias e as falhas na sinalização como as causas para as tragédias no asfalto. Também se afirma que os carros vendidos por aqui, que não passam nos padrões de segurança europeus, são verdadeiras armadilhas letais sobre rodas. Todos esses fatores aumentam os riscos, mas a maior razão para o massacre no trânsito é que nós, brasileiros, dirigimos muito mal. Mais de 95% dos desastres diários no país são o resultado de uma combinação de irresponsabilidade e imperícia. O primeiro problema está relacionado à ineficiência do poder público na aplicação das leis e à nossa inclinação cultural para burlar regras. O segundo tem sua origem no foco excessivo em soluções arrecadatórias para o trânsito – multas, essencialmente – e quase nenhuma atenção à formação de motoristas e pedestres.

Do ponto de vista liberal, a punição para as infrações talvez represente o principal mecanismo de educação dos motoristas ao longo do tempo. Os liberais gostam de defender ampla liberdade individual, e cobrar responsabilidade de forma rigorosa depois.

Ou seja, as regras de trânsito em si não precisam ser tão excessivas e minuciosas, muitas até sem sentido algum, desde que aquelas poucas sejam conhecidas a priori, sejam objetivas, e acima de tudo, cumpridas com rigor.

Os agravantes, como a revista menciona, são derivados de má gestão estatal. Temos verdadeiras estradas da morte espalhadas pelo Brasil, um convite aos acidentes. Mas a VEJA acerta quando coloca a responsabilidade no próprio condutor. Os brasileiros têm, sim, essa cultura de desrespeito às leis, de malandragem. Há malandro demais para otário de menos. Eis o problema.

Mas essa cultura tem relacionamento simbiótico com as instituições. Ela só vai mudar se melhorarmos também as regras do jogo. Infelizmente, o Brasil é mestre na “solução do sofá”: tal como o marido traído que joga fora o sofá em que sua esposa praticava adultério para acabar com a traição, nós costumamos atacar sintomas, e nunca as causas dos problemas.

E própria Lei Seca é um exemplo disso. O rigor excessivo da tolerância ao álcool serve apenas para punir quem nada fez de errado. Ninguém se transforma em uma ameaça no volante porque ingeriu uma taça de vinho ou duas cervejas. O mais importante seria fiscalizar e punir aqueles que adotam conduta perigosa no volante, ou que dirigem em estágio embriagado, sem reflexo algum.

Nos Estados Unidos o policial fiscaliza exatamente isso. Há testes para verificar se o condutor está em condições ou não de dirigir. E caso ele tenha burlado alguma regra, como a velocidade limite, ele será punido. A educação no trânsito passa por isso: quando for pego colocando os demais em risco, o preço a ser pago deverá ser bem alto. Qualquer outra solução me parece incompleta, paliativa.

E não podemos deixar de lado a condição de muitos veículos que trafegam pelas vias. Carros e caminhões sem condição alguma de segurança, sem luz de freio, alguns totalmente caquéticos. Em vez de o governo realizar vistoria anual no Detran para encher o saco das pessoas corretas, ele deveria fiscalizar nas ruas e retirar de circulação esses carros.

Enfim, muita coisa tem que mudar para o Brasil superar essa trágica situação. Muitas vidas se perdem em acidentes. O trânsito, como diz a revista, é nosso Vietnã.

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