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Obama usa falácia cronológica e banca o moderninho para atacar Trump
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Depois de um tempo sumido, ou então ganhando mais dinheiro ainda em palestras no Brasil, o ex-presidente Obama reapareceu para fazer discurso político e atacar Donald Trump indiretamente:

O destaque dado por Obama foi para enquadrar o “trumpismo” no passado remoto, como algo completamente obsoleto, ultrapassado. Ele falava das divisões, o que é curioso vindo de quem alimentou a segregação racial, apesar de se dizer “pós-racial”.

Foi o caso quando recebeu na Casa Branca agitadores radicais ligados a movimentos raciais negros, ou quando disse que um jovem negro morto poderia ser seu filho, frisando a questão racial, que nada teve a ver com a morte dele (foi legítima defesa de um vigia atacado, como ficou provado).

Mas a “política de divisão” do atual governo seria, para Obama, coisa do século XIX, e estamos no século XXI. Obama é moderninho, Trump é uma múmia: eis a mensagem:

What we can’t have is the same old politics of division that we have seen so many times before, that dates back centuries. Some of the politics we see, we thought we put that to bed. That has folks looking 50 years back. It is the 21st century, not the 19th century. Come on! 

Sobre a falácia da cronologia, especificamente, gostaria de lembrar que nem tudo aquilo que é atual é melhor. Não falo, claro, da “política de divisão”, mas da premissa “progressista” em si, que trata tudo que é moderno como avanço, o que está longe de ser verdade. Ou alguém acha que a União Soviética, em pleno século XX, representava progresso em relação a Atenas dos tempos de Aristoteles?

Cito como contraponto ao “progressismo” de Obama a abertura do prefácio de Barry Goldwater em The Conscience of a Conservative:

This book is not written with the idea of adding to or improving on the Conservative philosophy. Or of “bringing it up to date”. The ancient and tested truths that guided our Republic through its early days will do equally well for us. The challenge to Conservatives today is quite simply to demonstrate the bearing of a proven philosophy on the problems of our own time.

Mais adiante, quase concluindo o prefácio, ele escreve:

Circumstances do chance. So do the problems that are shaped by circumstances. But the principles that govern the solution of the problems do not. To suggest that the Conservative philosophy is out of date is akin to saying that the Golden Rule, or the Ten Commandments or Aristotle’s Politics are out of date. The conservative approach is nothing more or less than an attempt to apply the wisdom and experience and the revealed truths of the past to the problems of today.

Ou seja, não existe tempo certo para a defesa de princípios universais, e não é sempre desejável “modernizar” valores ou conceitos, como se tudo que viesse depois fosse necessariamente melhor. Goldwater escreveu isso em 1960, e não poderia ser mais atual, o que comprova seu ponto!

Outro que lutou contra essa visão “moderninha” foi Dom Lourenço de Almeida Prado, reitor do prestigiado Colégio São Bento, no Rio. Em um de seus livros sobre educação, eis o que escreve na apresentação:

Ser moderno ou não ser moderno não constitui critério de valor. É critério, apenas, de tempo. Há moderno que não presta e há moderno que é bom. Mais importante é olhar o moderno e o antigo com olhos atentos e atilados. Na Semana da Arte Moderna houve inovações que se mostraram positivas e essas são válidas – ou modernas até hoje – e houve novidadeirices contestadoras, que ninguém pode, hoje, levar a sério. Essa repulsa à ligação de moderno com bom não é implicância de quem já viu muitos modernos enterrados e esquecidos, porque eram fugazes ou possuíam, num certo momento, a aparência ilusória de serem valores positivos, mas a preocupação com o prejuízo que causa a modernomania, ao repelir o antigo, sem maiores exames, simplesmente porque é antigo. É o novidadeirismo. Isso gera uma atitude preconceituosa que impede perceber no antigo o que nele havia de perene. 

Pois é: quem vai sustentar que a “arte moderna” representa mesmo um avanço diante do clássico? Eu concedo que Obama seja, de fato, mais moderninho. É, em vários aspectos, um ícone perfeito dos tempos modernos. Politicamente correto, discursos vazios, retórica sensacionalista, e resultados medíocres. Apesar de reconhecer também que parte de sua mensagem igualitária cheira a naftalina, é tão antiga quanto Marx.

Mas tudo bem: Obama é moderno. Isso quer dizer que seja bom, que seja melhor? Ou vamos realmente sustentar que um George Washington, do século XVIII, seria um governante pior do que Obama? Espero ter deixado claro que nem tudo que é mais novo é necessariamente melhor. Às vezes as sociedades regridem (como, aliás, os próprios “progressistas” parecem dispostos a assumir, contra sua premissa, no caso de Trump).

Rodrigo Constantino

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