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Fernando Henrique Cardoso concedeu uma entrevista ao Estadão. Nela, o ex-presidente aproveita para vender o peixe de Alckmin e tentar puxar o tapete de João Doria, o único “tucano” que teria chances de vencer em 2018, justamente por não ser exatamente um tucano.

FHC diz que o Brasil precisa de um líder, não de um gestor. Ele até tem um ponto: o bom gestor pode estar abaixo do líder natural, que deve saber inspirar e se cercar de gente eficiente. Mas quando pensamos que tipo de “líder” FHC tem em mente…

Mas o foco aqui nem era Doria, e sim o próprio FHC, a postura típica dos tucanos, dos “isentões”, que o povo brasileiro não aguenta mais. Em determinado momento, o entrevistador puxa da biografia do próprio Fernando Henrique duros ataques que fez a Ciro Gomes e Lula, os dois potenciais candidatos da extrema-esquerda em 2018. Eis o que diz FHC:

No livro, o sr. chamou Ciro Gomes de hipócrita, mau-caráter. Como vê o projeto político dele?

Eu acho que é a esquerda que tem de responder. Mas esse é um bom momento para eu esclarecer o seguinte: o que eu digo no livro são os meus sentimentos naquele momento. Não é um julgamento tranquilo, é quase um desabafo. E o Ciro quando ofende, você reage. Ele não foi o único. Em vários momentos no livro eu fico irritado. Não é um julgamento de pessoas e da história. O valor que isso tem é documental. 

O sr. chamou o Lula de mau-caráter, por exemplo.

Pois é. Eu diria isso hoje? Não.

Do Ciro também não?

Eu não diria, mas na hora ele disse alguma coisa que me fez reagir dessa maneira. Tem que ter noção da circunstância. É arriscado? É. Talvez fosse mais conveniente publicar depois de morto, mas nem eu poderia dizer o que estou dizendo nem os outros poderiam se defender por estarem mortos também. 

Quanta pusilanimidade, ó céus! O “julgamento tranquilo” do ex-presidente é bem diferente do seu “desabafo”. Após ponderar muito, refletir com calma, eis que FHC conclui que Ciro Gomes e Lula não são desprovidos de caráter! Talvez sejam, quem sabe?, ícones de honestidade intelectual. Talvez FHC faça até coro ao próprio Lula quando ele diz que ninguém é mais honesto que ele no Brasil.

Voltemos ao Doria: o prefeito de SP tem despertado tanto interesse não só pelo ritmo acelerado de trabalho, pelas bandeiras liberais de privatização, mas também pela coragem de atacar sem firulas o ex-presidente Lula, o maior carrasco do Brasil, responsável por essa desgraça em que nos encontramos hoje.

Quando Ciro Gomes resolveu atacar Doria, até defendendo Bolsonaro no meio para deixar claro de quem mais tem medo em 2018, o prefeito paulista não titubeou e rebateu na lata, sem rodeios. É disso que o povo precisa hoje contra a extrema-esquerda. Ninguém aguenta mais essa postura acovardada e “diplomática” dos caciques tucanos, que mais parecem cúmplices dos petistas.

FHC quer ficar bem com todos, especialmente à esquerda. Nunca renegou suas raízes socialistas, por mais que tenha mandado rasgar o que disse no passado, e jamais aceitou ter sido “acusado” de neoliberal pelos antigos camaradas. FHC é o ícone do “socialismo fabiano”, uma versão mais light do socialismo. Consegue bater pesado só na direita, mas nunca na esquerda, mesmo na extrema-esquerda.

Parece quase pedir desculpas a Ciro e Lula, e no fundo quer a aprovação de ambos. Seu momento mais sincero talvez tenha sido quando abraçou o ex-presidente Lula no funeral de Marisa. FHC gosta de Lula, apesar de tudo, a despeito de ter sido alvo dos mais pérfidos ataques dos petistas. Nesse sentido, age como “mulher de malandro” ou sofre de Síndrome de Estocolmo, tendo se encantado com seu algoz.

O PSDB só terá alguma chance de vencer em 2018 se abandonar essa postura covarde, se romper com suas raízes “progressistas”, se descer do muro do lado direito. Mas sabemos que é mais fácil um elefante azul com bolas amarelas passar voando por aqui do que os caciques tucanos seguirem esse caminho.

Por isso Doria, um “estranho no ninho”, só será candidato pelo PSDB se não tiver jeito mesmo, se o instinto de sobrevivência dos tucanos falar mais alto, como aconteceu na época das privatizações, feitas por extrema necessidade de caixa, não por convicções ideológicas. Deixados ao natural, os tucanos vão sempre elogiar seus adversários da extrema-esquerda. Se a natureza do escorpião é espetar seu veneno, a do tucano é apanhar com elegância, e ainda pedir mais depois…

Rodrigo Constantino

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