• Carregando...
Eis o que o Brasil precisa fazer: refundar a República sem sectários e livre dos atores chorões
| Foto:

Duas colunas na Folha hoje merecem ser lidas. A primeira, do sociólogo Demétrio Magnoli, ele, que é de esquerda, mas de uma esquerda civilizada, democrática e, portanto, antipetista. Nela, Demétrio sugere a Dilma uma reflexão sem a busca de bodes expiatórios. Seu maior defeito? O sectarismo, a intransigência ideológica. Diz Demétrio:

Não culpe os outros (“golpe das elites”) ou as circunstâncias (“crise internacional”). Investigue seus erros, sobretudo um, que interessa ao futuro da convivência democrática no Brasil. Refiro-me ao sectarismo. Mais que às “pedaladas fiscais” ou ao escândalo na Petrobras, sua derrota final deve-se ao sectarismo.

O sectário, no sentido que aqui interessa, é o militante convicto, intolerante, de uma doutrina faccional. No fracasso de sua política econômica encontram-se as raízes do impeachment. Não lhe faltaram alertas: diversos economistas sérios avisaram que o voluntarismo estatal conduziria à inflação, ao déficit, à dívida, à erosão da produtividade e, finalmente, à depressão.

Sua resposta sistemática, e a dos seus, foi rotulá-los como agentes de interesses antipopulares: serviçais das altas finanças ou do imperialismo. Não teria sido apropriado enxergar aqueles economistas “liberais” como brasileiros tão bem-intencionados quanto os economistas “desenvolvimentistas” que a cercavam? Mas o sectário concentra-se nos motivos supostos, não nas ideias, dos que o criticam.

[…]

O sectário atribui significados transcendentais a seus caprichos – e, se puder, impõe obediência geral a eles. A circular que obrigava seus subordinados a usar a palavra “presidenta” jamais serviu à causa dos direitos das mulheres, mas criou uma fronteira de linguagem entre a militância petista e os demais cidadãos.

Nunca a tratei assim, enquanto sua assinatura tinha o peso do poder. Hoje, faço a concessão. Presidenta Dilma, “fora do baralho”, esqueça Getúlio Vargas e Jango: pense nos seus erros.

Sabemos que tal postura não faz parte do repertório petista. A segunda coluna que merece leitura é a do senador Ronaldo Caiado, que denuncia a mesma ideia de sectarismo, mas dando nome direto ao troço: bolivarianismo. Um termo que não diz muito para alguns, e seria melhor se traduzido por sua essência: socialismo. É o que essa turma golpista defende até hoje. Caiado diz:

A saída da presidente Dilma Rousseff não pode ser vista apenas como a queda de um governo e a ascensão de outro. Precisa simbolizar algo bem mais amplo e significativo: o fim efetivo de um projeto criminoso de poder (nas palavras do ministro Celso de Melo, do STF), de teor populista-bolivariano, que arruinou o Brasil.

Além da ruína econômica, impôs uma queda de padrão moral sem precedentes à vida pública. Sucedê-lo implica redirecionar o país não apenas em termos políticos, econômicos e administrativos mas, sobretudo, quanto a valores e princípios.

[…]

A saída da presidente é um grande passo, mas insuficiente para lidar com o seu trágico legado. O país quer mais, embora entenda as limitações de um presidente que assume em tais condições. Mas essas limitações não impedem que se deem os primeiros passos.

Mais que uma reforma política, é preciso reformar os políticos, a mentalidade vigente, trazendo-os a essa nova realidade que se descortina a partir do impeachment. Ele não ocorre por questões pontuais, embora esteja juridicamente limitado a elas.

[…]

Trata-se de remover um projeto revolucionário e criminoso, que vigeu por 13 anos, dilapidando e aparelhando o Estado e a própria sociedade civil, contaminando com a propaganda ideológica desde o ensino fundamental até a política externa.

Caiado se mostra preocupado com a ideia de simples troca de governo, e lamenta a falta de compreensão do que está em jogo por aqueles que assumiram o poder no lugar do PT. Acusa o ajuste fiscal de Temer de “encenação”, lembra que o ministro da Fazenda já fala em aumento de impostos, o que seria inaceitável, e afirma só ver projetos populistas, que não enterram de vez o bolivarianismo que o PT representou no poder.

Conclui dizendo que não aceita o papel de “vilão” porque não se curva diante dos interesses do lobby corporativo, e que não pretende participar desse “teatro”. Está certo! Como argumentei ontem aqui, tirar Dilma e o PT é apenas um primeiro passo, não o ponto de chegada. Se o petismo não for derrotado, o Brasil vai afundar de qualquer maneira. E por falar em teatro, fecho com a sugestão da espetacular coluna de Guilherme Fiuza no GLOBO, com sua fina ironia, comentando o filme sobre o “golpe” de que Dilma é vítima:

Você achou que já tivesse visto tudo sobre esse fenômeno(a) da política brasileira, mas tem mais. Vem aí Dilma Rousseff, o filme. O projeto é simples e genial: enfiar no julgamento do impeachment todos os delinquentes petistas que roubaram o Brasil sem perder a ternura, e filmá-los gritando, chorando e esperneando. Não tem erro. Nada comove mais os brasileiros do que o sofrimento de um picareta do bem.

Felizmente, o país tem militantes da cultura que não fogem à missão de defender a quadrilha contra o golpe. É bonito ver a invasão do Senado pelos cineastas da revolução, enquanto Lula é indiciado pela polícia por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Democracia é isso, cada um escolhe a sua narrativa.

[…]

A denúncia cinematográfica contra o golpe dos homens brancos, velhos, feios, recatados e do lar contra a vanguarda política representada por Dilma Rousseff é uma grande sacada. O vexame petista ameaçava a vida boa dos gigolôs da bondade. A falência do proselitismo coitado ameaçava criar uma multidão de párias ideológicos. Aí surgiu a ideia genial, que promete salvar todos os canastrões politicamente corretos fazendo, simplesmente, o mesmo de sempre: chorar.

As Olimpíadas confirmaram, com toda a eloquência das suas caras e bocas, que a verdadeira medalha de ouro no Brasil é a manha.

[…]

A impressionante trilogia Getúlio-Jango-Dilma logo estará num cinema perto de você, e também numa sala de aula e num palanque eleitoral (que no caso são a mesma coisa). Os genéricos do PT já estão nas ruas para continuar transformando manha em votos. Chorando e mamando.

Eis o que precisamos: refundar a República sem os sectários de esquerda e livre dos atores chorões do teatro da demagogia. Caiado parece um ótimo nome para liderar esse processo…

Rodrigo Constantino

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]