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Residência pedagógica
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Deu no portal do Senado: Residência pedagógica poderá ser obrigatória para formação de professores da educação básica

A realização de uma residência pedagógica, semelhante à residência médica oferecida aos estudantes de Medicina, pode tornar-se obrigatória para formação dos professores de educação básica. A proposta consta do Projeto de Lei do Senado (PLS) 284/2012, que deve ser votado pelos senadores da Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) na reunião desta terça-feira (6), às 11h.

De autoria do senador Blairo Maggi (PR-MT), o projeto acrescenta um parágrafo ao artigo 65 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/1996), com objetivo de melhorar a qualificação dos professores da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental. A residência pedagógica funcionaria nos mesmos moldes da médica: uma etapa posterior à formação inicial, com duração mínima de 800 horas e bolsa de estudos.

Para justificar a medida, Blairo Maggi argumentou que parte da dificuldade de alfabetização das crianças brasileiras com até oito anos de idade se deve às condições estruturais na formação dos professores. Dentre elas, o senador destacou o aumento de instituições de ensino de qualidade discutível.

Assim é o Brasil: o governo não consegue fornecer o básico do que se propõe com um mínimo de qualidade, e vai estendendo seus tentáculos internvecionistas para “curar” os males que ele mesmo criou. Que nossos professores têm péssima qualidade na média, ninguém discorda. Mas será que isso se resolve com “residência pedagógica”? E quem vai supervisionar esses professores recém-formados?

Corremos o risco de dois lados diferentes nessa medida: 1) transformar professores recém-formados em escravos do governo, para suprir com mão de obra barata sua deficiência, obrigando-os a trabalhar para o estado depois de formados; 2) doutrinação ideológica, para impor por meio desses professores uma mentalidade socialista em todo país.

Quando surgiu o debate por conta da proposta do governo de estender por dois anos o tempo de residência dos médicos, obrigatoriamente no SUS, escrevi um artigo que alertava para o “caminho da servidão”. Eis um trecho que vem a calhar:

A liberdade de escolha do profissional desaparece, dando lugar ao pretexto de, em nome do “interesse nacional”, o estado escravizar as pessoas para suprir suas carências. Esqueça fazendeiros que não conseguem preencher 252 itens das leis trabalhistas; o verdadeiro trabalho escravo é esse: ser obrigado a trabalhar por dois anos para o governo!

A premissa por trás disso deve ser questionada: ela é coletivista e autoritária. Ela parte da idéia de que as demandas “sociais” são mais importantes do que as escolhas individuais. Sim, é verdade que precisamos de mais médicos no interior do país. Mas isso não pode ser resolvido obrigando-se estudantes a prolongar seu já custoso e longo investimento na carreira de medicina. Isso seria tratá-los como meios sacrificáveis por um “bem-geral”. Abre-se uma brecha perigosa.

Hoje são os médicos, mas e amanhã? O que vai impedir o governo de decretar que todo professor tem de ficar dois anos dando aulas em escolas públicas do interior para conseguir seu diploma? Ou forçar engenheiros a atuarem por dois anos nas obras do PAC Brasil adentro, para só depois terem acesso ao certificado de conclusão de curso? Ou obrigar dentistas a atenderem na selva amazônica antes de finalizarem a faculdade? Percebem o risco?

Pois é. O risco é grande. Essa residência pedagógica, definitivamente, não é a solução para nossa péssima educação.

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