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Respeito à democracia, desde que resultado seja à esquerda!
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É curioso. Temos, entre os pré-candidatos a presidente, figuras como Lula, condenado em segunda instância pela Justiça, que tem sido defendido em tom de ameaça pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e Guilherme Boulos, do MTST/PSOL, que também já deu todos os sinais possíveis de total falta de respeito pela democracia e a Justiça, considerando-se um “justiceiro” acima das leis. No entanto, é Jair Bolsonaro que desperta a revolta dos “democratas”.

No Jornal Nacional deste fim de semana, um constrangido Alexandre Garcia teve de apresentar uma reportagem sobre o lançamento da candidatura de Boulos, em que o destaque foi para seu ataque às injustiças do nosso sistema, que beneficiaria os mais ricos. Nenhuma palavra sobre suas invasões criminosas. Nenhuma menção sobre suas ideias ultra-radicais revolucionárias inspiradas no marxismo fracassado. Nada de o telespectador saber que seu PSOL defende aberta e oficialmente o regime ditatorial de Maduro na Venezuela. Parecia o lançamento de uma candidatura normal, de esquerda.

O extremismo, em nossa mídia, é unilateral: só existe a “extrema-direita”, nunca a extrema-esquerda. Bolsonaro apontou como seu provável ministro da Fazenda o brilhante economista liberal Paulo Guedes, que tem coluna há anos no jornal O GLOBO (mas que, curiosamente, jamais é destacado no site do jornal, como se sequer fosse colunista). Em sua coluna de hoje, indisponível no site, Guedes faz perguntas incômodas sobre as causas de nossos maiores problemas, e aponta a resposta. Em seguida, questiona por que tanta descrença na alternativa de centro-direita com viés liberal na economia. Diz ele:

Por que persiste a roubalheira como mal sistêmico que nos expropria há décadas? Por que proliferam partidos políticos sem conteúdo? Por que as lideranças partidárias, mesmo quando antagônicas, se comportam todas como se tivessem o rabo preso? Por que somos prisioneiros do mais longo esforço de combate à inflação da história universal? Por que temos há décadas juros astronômicos e taxas de câmbio sobrevalorizadas, desestimulando investimentos, exportações e substituição de importações, desindustrializando o país e com enorme sacrifício em perda de crescimento e criação de empregos? Por que o país se tornou o paraíso dos rentistas e o inferno dos empreendedores, com endividamento em bola de neve e uma avalanche de impostos?

A resposta é a trajetória explosiva dos gastos públicos. Mas o diagnóstico esteve sempre interditado pela ideologia, pelo despreparo, por interesses corporativos e, sabemos agora graças à Lava-Jato, pela perversa aliança entre criaturas do pântano político, piratas privados e burocratas corruptos.

Degeneramos a democracia. Corrompemos a República. Estagnamos a economia. Enfraquecemos a Federação. Fabricamos privilégios. Pervertemos a política. Desidratamos serviços públicos de saúde, educação e segurança. Praticamos o comércio de votos mercenários no varejo, em vez de alianças orgânicas no atacado, valorizando os partidos e seus programas. Mas vivemos hoje uma oportunidade histórica de aperfeiçoamento institucional, pois já foi decretada a morte da Velha Política, moldada em três décadas de hegemonia social-democrata.

Chamar o PT de social-democrata é até uma concessão indevida: são socialistas mesmo, antidemocráticos. Na coluna logo abaixo, o esquerdista Demétrio Magnoli fala justamente da candidatura de Boulos, lembrando da farsa dessa extrema-esquerda, que se inspira no Podemos espanhol. Diz o sociólogo:

O Boulos que fala em retorno a 1968 — assim como as celebridades (devo dizer “intelectuais”?) que o cercam — reflete a dificuldade da esquerda pós-lulista de encarar os dilemas reais de nossa democracia bastante imperfeita. A narrativa farsesca, que soa como música aos ouvidos de convertidos, tem o efeito de isolar seus arautos numa redoma folclórica. Lula qualificou Boulos como “pessoa de muito futuro na política”. O dúbio elogio equivale a excluí-lo do presente.

A fonte de inspiração de Boulos e de boa parte do PSOL é o espanhol Podemos, fundado em 2014 sob o influxo das manifestações antiausteridade. Atraído pelo castrismo e pelo chavismo, o partido esquerdista classificou a monarquia parlamentar espanhola (o “regime de 1978”) como uma versão amenizada do franquismo. Nutrindo-se da recessão e dos escândalos de corrupção, o Podemos decolou como um míssil, chegando perto de ultrapassar o Partido Socialista para figurar como segundo partido do país. Contudo, entrou em declínio após as eleições gerais de dezembro de 2015, vitimado por seu próprio discurso de negação da democracia.

O ato desastrado inicial foi a recusa de um pacto de governo com os socialistas, o que propiciou a recondução dos conservadores ao poder. O ato seguinte foi uma aliança tácita com os nacionalistas catalães, que o conduziu a repetir o epíteto de “bloco monárquico” usado pelos separatistas contra todos os partidos constitucionalistas. A reação do eleitorado, expressa nas pesquisas de opinião, já empurrou o Podemos à condição de quarto partido do país. Farsas têm consequências — eis a lição espanhola.

Hipnotizada pelo passado, a esquerda pós-lulista ainda cultua a Cuba dos Castro, jura fidelidade ao regime agonizante de Nicolás Maduro, recusa-se a admitir o fiasco da política econômica dilmista, traça paralelos delirantes entre o governo Temer e o regime militar e, sobretudo, vira as costas ao diálogo democrático. Três décadas atrás, o PT rejeitou assinar a Constituição de 1988, a mesma que lhe permitiu governar o Brasil por 13 anos. Hoje, imitando o Podemos, seus presumíveis sucessores crismam todos os demais atores políticos como um “bloco autoritário”. 2018 não é 1968. Alguém precisa dizer isso a Boulos.

Alguém precisa dizer isso aos “intelectuais”, aos jornalistas, a certos ex-presidentes, a todos esses que tratam o PT e o PSOL como apenas outros partidos, à esquerda, normais, democráticos. Não são! Eles representam ultra-radicais que não aceitam a democracia, que não respeitam a Justiça, que se colocam acima das leis porque monopolizam os “fins nobres” de “igualdade” e “justiça social”. Mas eis que o radical, para a imprensa, é aquele que tem Paulo Guedes como futuro ministro! Guedes conclui:

É portanto desconcertante observar a descrença de alguns analistas em nossas instituições democráticas, quando as prévias eleitorais não respaldam suas preferências pessoais ou inclinações ideológicas. Foram décadas de baixo crescimento e dezenas de milhões de trabalhadores na informalidade, dois surtos de hiperinflação, congelamento de preços e de poupança, moratória externa, recessão profunda e uma escalada ininterrupta de escândalos bilionários que desmoralizaram os políticos e enfureceram a opinião pública. Por que nos assusta tanto a perspectiva de uma aliança de “centro-direita” na política em torno de um programa liberal na economia? Liberais sempre trouxeram prosperidade para todos. 

A nítida impressão que fica é a de que todos esses “formadores de opinião” são democratas, desde que o resultado da democracia seja à esquerda. Mesmo que seja uma extrema-esquerda que não respeita a democracia e que prega as medidas mais radicais que existem. Só não pode dar alguém efetivamente à direita, pois aí a democracia não vale e já morreu…

Rodrigo Constantino

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