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Sem-vergonhice sem fronteiras: uma nação de salafrários?
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Menos de 4% dos alunos que participaram do programa federal de intercâmbio Ciência sem Fronteiras foram estudar nas melhores universidades do mundo.

O levantamento foi feito pela Folha na base de dados pública do programa federal.

Ao todo, 108.865 estudantes foram beneficiados com bolsas do Ciência sem Fronteiras. Uma parte ainda está com a bolsa vigente, mas a maioria já voltou para o Brasil (veja infográfico).

A proposta do programa, conforme seu material institucional, era que os estudantes do Ciência sem Fronteiras teriam treinamento “nas melhores instituições e grupos de pesquisa disponíveis (…) de acordo com os principais rankings internacionais.” Uma dessas classificações é o ranking britânico THE.

Mas só 3,7% dos estudantes tiveram passagem por algumas das 25 melhores instituições de ensino superior do mundo, como Harvard (EUA) ou Oxford (Reino Unido).

O número de alunos que frequentou universidades “top” pelo programa foi menor do que o de alunos enviados para Portugal –país sem universidades entre as 350 melhores do mundo no THE.

Sobre a notícia, que não chega a ser um espanto, mas deveria, Mario Sabino, de O Antagonista, comentou:

Eu não entendo nada de ciência e tecnologia, mas sei que as universidades, os laboratórios e centros de pesquisa do Brasil estão a anos-luz de distância daqueles dos países avançados.

Eu não entendo nada de ciência e tecnologia, mas sei que são fatores determinantes para o desenvolvimento de uma nação.

Foi com certa curiosidade, portanto, que li a notícia da Folha segundo a qual apenas 3,7% dos participantes do programa federal Ciência Sem Fronteiras foram estudar nas melhores universidades do mundo — aquelas que realmente fariam diferença para a formação dos beneficiados e, portanto, para o avanço científico e tecnológico nacional. A massacrante maioria aproveitou o intercâmbio com dinheiro público apenas para “ter uma experiência lá fora”. E o “lá fora”, não raro, foi Portugal — essa ilha de excelência na Europa Ocidental.

É claro que o programa inventado pelo PT era demagógico, um trem da alegria destinado principalmente a uma porção de gente sem requisitos acadêmicos para estudar seriamente no exterior. O meu ponto não é esse. O meu ponto é justamente a quantidade de gente disposta a pegar qualquer trem da alegria no Brasil, desde que pago com dinheiro público, sem a preocupação de dar retorno ao país.

Não há diferença moral entre o estudante que pegou bolsa do governo para fazer curso de nanotecnologia na Universidade de Coimbra e o político que vai ao estrangeiro às nossas expensas, a pretexto de discutir alianças estratégicas, e passa o dia circulando em lojas de grife de Nova York, Londres, Paris ou Roma.

Somos um país de salafrários, essa é a verdade, e os trens da alegria nos espelham, não importa o nome que se dê a eles. A taxa de honestidade brasileira talvez seja mesmo de míseros 3,7%.

Pouco tenho a acrescentar. Infelizmente, o Brasil cansa. E o maior problema é mesmo cultural, de caráter. Somos o país do jeitinho, da malandragem, da Lei de Gérson. Eis o tema, aliás, do meu próximo livro, Brasileiro é Otário? – O alto custo da nossa malandragem, que será lançado mês que vem pela Record. Isso tudo me revolta muito, deixa-me indignado. Estamos falando, afinal, da elite, daqueles que deveriam dar o bom exemplo, demonstrar respeito pela coisa pública.

Turismo para a classe média “intelectual” bancado com o suor do trabalhador, achacado por 40% de impostos, é algo indecente, imoral. Como um japonês reagiria se soubesse de algo assim? E um americano? Um suíço? Pois é. Ou mudamos a atitude, a começar pelo andar de cima, ou vamos mesmo viver reféns de populistas e aproveitadores, apenas um reflexo da população.

Rodrigo Constantino

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